Plantão médico
O episódio em que uma família quase agride uma médica plantonista, culpando-a pela morte de um parente, entendendo que houve negligência, me fez pensar nas situações diversas que vivem os profissionais de saúde no seu dia a dia. No caso da médica em questão, ela havia adotado todos os procedimentos necessários que o caso pedia, e a paciente morreu porque havia chegado o dia dela. O aneurisma não deu tempo para o socorro cirúrgico. Mas, vá convencer um parente com os nervos à flor da pele.
E quando há pré disposição, não tem santo que dê jeito. É
só lembrar a piada em que Jesus, compadecido de um médico que já enfrentava 30
horas de plantão, vestiu-se de médico e veio substituí-lo. Logo após assumir o
lugar do médico, chamou o primeiro paciente da fila, que era um sujeito numa
cadeira de rodas. Jesus colocou a mão sobre a cabeça dele e ordenou:
“Levanta-te, e anda”. O sujeito saiu do consultório andando, empurrando a
própria cadeira de rodas. Na saída, alguém da fila lhe perguntou: “Que tal este
novo médico”. Ao que ele respondeu, descrente: “Igual aos outros. Nem examina a
gente”.
Mas há outras situações trágicas e até mesmo curiosas. Eu
não gostaria de estar na pele de um médico plantonista da emergência de um
grande hospital, que, às vezes, tem que decidir quem vai viver ou morrer,
porque não há tempo para dispensar atendimento a todos que chegam de uma só
vez. É duro. É cruel. Mas é o que acontece.
Mas, deixemos de lado os dramas do cotidiano, e vamos
falar de outras situações mais amenas, até mesmo as tragicômicas. Como o caso
de um médico amigo meu, que estava descansando quando o plantonista do hospital
onde trabalhava lhe chamou, de madrugada: “Rapaz, eu sei que você está
descansando, mas eu lhe chamei porque tenho certeza de que você vai querer ver
isto”.
Ainda sonolento, e até chateado com o colega, ele foi até
a emergência ver o que tinha acontecido. Lá chegando, encontrou um paciente
deitado na maca, de bruços, com uma bomba de encher pneu de bicicleta enfiada
no ânus. Dizia o paciente, perante constrangidos filhos e esposa, que tentou
coçar o ânus com o cabo da bomba, e.... Bem, o que aconteceu mesmo é que ele,
numa coçada esquisita, enfiou o punho da bomba, que era de madeira, e quando a
penetração chegou à haste de aço, que era bem mais fina que o cabo, o músculo
esfíncter se fechou, não permitindo mais a retirada, o que só foi possível
mediante socorro médico. Vá ter coceira assim no raio que o parta.
Já um outro amigo meu, é médico legista. Um dia, ele
estava executando a perícia num cadáver e, para melhor se posicionar, puxou a
perna já enrijecida do defunto, prendendo-a por trás da outra. Neste momento,
ele necessitou de uma tesoura, e quando se virou para apanha-la, a perna do
falecido se soltou, voltando à posição original, aplicando-lhe, de passagem,
uma solene rasteira.
Mas quem entrou mesmo numa tremenda saia justa, foi meu
amigo Pinho, odontologista. Ele foi chamado por uma família de ciganos, cujo
patriarca havia falecido. Acontece que o homem tinha a boca cheia de ouro, e os
familiares chamaram Pinho para que ele fizesse a “garimpagem”, antes do
enterro. Ele pegou o equipamento e entrou no quarto para fazer o serviço. Só
que ele não percebeu, sentado numa cadeira no canto do quarto, com uma garrafa
de pinga na mão, um irmão do morto, já cheio de “mé”.
Quando Pinho pegou o boticão e começou a tirar os dentes
do defunto, o sujeito pulou da cadeira, enfurecido, gritando: “O que é isso
doutor? O senhor vai tirar os dentes dele assim, no cru, sem nem uma
anestesia?”
NE: Publicada no livro A Levada da Égua e outras estórias(2003)
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