sábado, 12 de novembro de 2022

 


* É preciso saber viver *

             Há certa forma de apresentação social, vivente há anos – anos mesmo – em minha cabeça. Roda pra cá, roda pra lá, volta e meia o assunto vem à tona. Digo viver na cabeça, não por ser algo importante em sua essência, mas por deparar-me com costume contrastante com regra de etiqueta a mim ensinada.

         Não aludo ao ato de fumar charutos, posto haver várias formas de fazê-lo, com todos os seus et céteras e tais.

         Pretendo, sim, falar de falares. Vou distrair-me e provocar meus leitores ao abordar a praxe usual da apresentação dos respectivos cônjuges.

         Puxa vida! Volta e meia, um cidadão ao apresentar a respetiva mulher refere-se à dita como “esposa”. Pior quando, em vez de “minha esposa”, vale-se do famigerado “minha senhora”. Bem mais divertido ainda, quando em provável acesso de suprema homenagem à distintíssima, fecha o “O” da palavra senhora, pronunciando-o como sendo um “Ô” e formalmente anuncia: Quero te apresentar minha “senhôra"! (Da primeira feita de tal acontecido, assustei-me: ouvi “cenoura” em vez de “senhôra”.)

        Gente! Vamos despir-nos dos preconceitos. O homem apresenta a ‘mulher’; a mulher apresenta o ‘marido’ e estamos conversados. 

Verdade haver, nos dias presentes, algumas outras formas de apresentação modernosas, ajustadas à realidade social de vivências híbridas. 

Assim, integrantes de jovem casal, em início de vivência conjunta - um tanto descompromissada -, apresentam-se mutuamente como “namorido” e “namorida”. 

Casais em união estável, mesmo quando não subentendida por todos os circunstantes, apresentam-se por seus nomes batismais: “esta é fulana”; “este é fulano”.

 Sendo assim, em dias correntes, mulher apresentar seu “esposo” chega a ser hilário. Esposo foi São José, por sinal, castíssimo. Algo, convenhamos, meio raro hoje em dia. 

Já, ‘mulher’ – vejam como são as coisas – foi Madalena a qual, por arrependida de sei lá o quê, foi tida por prostituta, ‘mulher da vida’. Talvez daí provenha a resistência dos machões em apresentar as digníssimas como suas mulheres. Temerão outras interpretações? 

Está dito, mas, por favor não me interpretem mal.

“É preciso saber viver”, bem cantaram os Titãs, anos idos.

 

Hugo A. de Bittencourt Carvalho, economista, cronista, ex-diretor das fábricas de charutos Menendez & Amerino, Suerdieck e Pimentel, vive em São Gonçalo dos Campos – BA.

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http://livrodoscharutos.blogspot.com

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