* É preciso saber
viver *
Há certa forma de
apresentação social, vivente há anos – anos mesmo – em minha cabeça. Roda pra
cá, roda pra lá, volta e meia o assunto vem à tona. Digo viver na cabeça, não
por ser algo importante em sua essência, mas por deparar-me com costume
contrastante com regra de etiqueta a mim ensinada.
Não aludo ao ato de
fumar charutos, posto haver várias formas de fazê-lo, com todos os seus et
céteras e tais.
Pretendo, sim, falar
de falares. Vou distrair-me e provocar meus leitores ao abordar a praxe usual
da apresentação dos respectivos cônjuges.
Puxa vida! Volta e
meia, um cidadão ao apresentar a respetiva mulher refere-se à dita como
“esposa”. Pior quando, em vez de “minha esposa”, vale-se do famigerado “minha
senhora”. Bem mais divertido ainda, quando em provável acesso de suprema
homenagem à distintíssima, fecha o “O” da palavra senhora, pronunciando-o como
sendo um “Ô” e formalmente anuncia: Quero te apresentar minha “senhôra"!
(Da primeira feita de tal acontecido, assustei-me: ouvi “cenoura” em vez de “senhôra”.)
Gente! Vamos despir-nos dos
preconceitos. O homem apresenta a ‘mulher’; a mulher apresenta o ‘marido’ e
estamos conversados.
Verdade haver, nos dias presentes,
algumas outras formas de apresentação modernosas, ajustadas à realidade social
de vivências híbridas.
Assim, integrantes de jovem casal, em
início de vivência conjunta - um tanto descompromissada -, apresentam-se
mutuamente como “namorido” e “namorida”.
Casais em união estável, mesmo quando
não subentendida por todos os circunstantes, apresentam-se por seus nomes
batismais: “esta é fulana”; “este é fulano”.
Sendo assim, em dias correntes, mulher
apresentar seu “esposo” chega a ser hilário. Esposo foi São José, por sinal,
castíssimo. Algo, convenhamos, meio raro hoje em dia.
Já, ‘mulher’ – vejam como são as coisas
– foi Madalena a qual, por arrependida de sei lá o quê, foi tida por
prostituta, ‘mulher da vida’. Talvez daí provenha a resistência dos machões em
apresentar as digníssimas como suas mulheres. Temerão outras interpretações?
Está dito, mas, por favor não me
interpretem mal.
“É preciso saber viver”, bem cantaram
os Titãs, anos idos.
Hugo A. de Bittencourt
Carvalho,
economista, cronista, ex-diretor das fábricas de charutos Menendez &
Amerino, Suerdieck e Pimentel, vive em São Gonçalo dos Campos – BA.
[email protected]
http://livrodoscharutos.blogspot.com
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