* Itapema *
Naquela época – trinta anos idos - Itapema a rigor, não era um lugar comum, e sim um paraíso desnudo de vaidades.
Por não integrar o circuito das badaladas praias baianas, carrões, grifes, cardápios afrancesados, ar condicionado, comodidades, asfalto e quejandos, eram ausentes. Caminhava-se sobre o capim nativo. Casas simples, erguidas ao tempo de uma extinta usina de extração de óleo de dendê, compunham o cenário-presépio.
A pele curtida dos nativos revelava sangue de raízes sertanejas que, no tempo do andar-se em mulas, fugira da seca das bandas nordestinas e lá chegara em busca de trabalho na salina ou na usina então existentes.
As gerações seguintes encontraram, no mar, a sobrevivência.
Som, em Itapema, só se fosse no
alto-falante de um ou outro carro visitante.
Não mais de meia dúzia de bares-empórios formavam a rede de abastecimento local.
Distando apenas uns 70 quilômetros de São Gonçalo dos Campos, costumávamos ir para lá, em sábados estivais. Sentava-me à mesa de madeira de um azul que já se foi, no ‘Bar do Renato’.
“Que temos hoje, Renato?”
A resposta era inevitável: “O de sempre”.
Tal “sempre”, era sempre o que desejava: frutos do mar.
“‘Quais as novidades, Renato?”
Ele, prontamente, disparava: “As
mesmas!”.
Tais “mesmas”, são tudo o quanto já descrevi.
Meu charuto fumegava.
“Trouxe um para mim?” - indagava Renato.
De imediato, oferecia-lhe um. Empunhava
o charuto, qual relíquia.
Nada conhecia da ‘arte’ de fumar, mas desfrutava – e como – o ‘prazer’ de fazê-lo. Deixava-se comigo ficar, esquecia os demais clientes. Pouquíssimos.
Em Itapema, podíamos dar-nos ao luxo de
eleger um ponto de solidão.
Em compensação, não havia “scotch”; quando muito, cerveja. Ao almoço, uma mariscada ou uma apimentada moqueca. Copos, pratos e talheres com os quais, certamente, não estávamos habituados. Em contrapartida, indesejáveis ausências, propiciavam delícias esquecidas na cidade grande; na hora de voltar, camarões baratos e fresquíssimos.
Nos presentes dias, Itapema, não é mais a mesma. Seus plácidos finais de semana, foram-se às calendas, tornaram-se postais do passado. Não há paciência bastante, para suportar os famigerados “paredões” que por lá se refugiam, a disputar estrondosos decibéis. Letras e músicas? Versões do pior mau gosto.
Menos mal que, em minha memória afetiva, Itapema segue sendo um lugar de sonhos, de uma paz inigualável.
Hugo A. de Bittencourt
Carvalho,
economista, cronista, ex-diretor das fábricas de charutos
Menendez & Amerino,
Suerdieck e Pimentel,
vive em São Gonçalo dos
Campos – BA.
http://livrodoscharutos.blogspot.com
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