Cescé
Já em outra oportunidade, ele havia montado uma banda e acertou um show, também para uma cidade vizinha a Feira. Quando chegou lá tava tudo fechado. Ele desceu do ônibus e foi procurar o contratante. Encontrou o cara num bar, bebendo com amigos e este, quando o viu, ficou surpreso: “Ué! Você por aqui?” É que Cescé chegou com a banda uma semana adiantado.
Mas ele é assim mesmo. Calmo e desligado. Uma vez, na praia,
ele se meteu a surfar. Só que quando ele levou a prancha para pegar uma onda,
em vez de seguir em direção à praia, as ondas o levavam cada vez mais para alto
mar. Ele tentava remar com as mãos, mas as ondas o puxavam de volta. Os amigos,
percebendo o que acontecia, gritaram pra ele: “Tenha calma, Cescé!”. E ele,
tranqüilo: “Eu tô calmo, o mar é que está nervoso”.
Mas o seu talento lhe valeu um convite para uma temporada na
Itália, com a cantora Rosa Baiana. No dia da partida, Caguto foi leva-lo ao
aeroporto. Já saíram daqui atrasados, é claro. E quando chegaram, o avião já
estava se dirigindo à pista. Foi um sufoco pra conseguir embarcar Cescé no vôo
internacional. E nessa lida, ele acabou fazendo amizade com um co-piloto e,
numa escala em São Paulo, ele foi ao bar tomar chopp com o co-piloto. Conversa
vai, conversa vem, ele disse que estava indo para a Itália. Surpreso o rapaz
lhe avisou que o avião já estava saindo. Cescé, surpreso e assustado, ainda
questionou: “Ué! Mas você não é piloto, não vai junto?” O rapaz explicou que
ali começava sua folga, que outro assumira o seu lugar, e justamente por isso
estava bebendo, o que não faria se fosse pilotar. Foi outra zorra pra embarcar
Cescé.
O avião fez outra escala na Alemanha, onde haveria
baldeação. Césce, que saiu daqui vestindo uma camiseta, um bermudão e
sandálias, enfrentou um frio de quatro graus abaixo de zero. Tiritando, tentava
encontrar o portão de embarque. Sem entender patavina de Alemão ou Inglês, ele
tentava se comunicar e não conseguia. Até que descobriu uma moça atrás de um
balcão onde se lia: “Informations”. Aí ele perguntou:
- “Moça,
onde é que eu embarco no avião que vai pra Itália?”
-
Do
you speak English?
-
Ô, moça. Eu só sei falar nordestino.
Depois de muita confusão, na base
do “Portunhol” ele se fez entender e conseguiu embarcar. Chegando na Itália, o
pessoal do aeroporto o pegou pelo braço e conduziu até uma seleta, onde lhe
serviram água, cafezinho e até um lanche, enquanto conferiam seus documentos. A
cantora Rosa Baiana, que deveria pegá-lo no aeroporto, estava atrasada e Cescé
não entendia nada do que o pessoal lhe perguntava.
Quando finalmente a cantora
chegou, conversou com o pessoal do aeroporto e, depois, levou Cescé pra casa.
No caminho, Cescé comentou:
-
Simpático esse pessoal daqui. Nem me conheciam e me
trataram tão bem, até lanche me deram. Gostei.
-
É Cescé, só que aquele pessoal é do serviço de
emigração, e já estavam providenciando deportar você de volta para o Brasil.
NE: Publicada no livro A Levada da Égua (2004)
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