segunda-feira, 20 de março de 2023

Crônica de segunda

 
Uma boa desculpa

Fui a uma festa de despedida de solteiro em uma chácara pertinho da cidade, onde meu amigo, o Garotinho estava dando uma festa. A galera tava toda lá. Muita cerveja, uísque, vinho. A noite prometia. Muitas gatinhas. Galera animada. Saí de lá nem sei que horas. Travado!

Voltando pela rodovia, avistei algo que se tornou o terror dos festeiros... uma blitz! Comecei a rezar para tudo quanto era Santo. Mas... fui sorteado. Quando parei, quase atropelei o guarda. Tava ruim. O guarda pediu para eu descer do carro. Quase não consegui. Aí o pesadelo aumentou. Ouvi o que qualquer bêbado teme:

- Vamos fazer o teste do bafômetro!

A cabeça girou a mil, e busquei no HD alguma saída dessas que só os bebums ou os folgados conseguem dar e, quase sempre, se safar. No trajeto até o carro da Polícia e enquanto o guarda preparava o equipamento, mil coisas passaram pela minha cabeça.

Lembrei daquele caso do cara que quando percebeu pelo retrovisor uma moto da polícia com o giroflex e a sirene ligados. não teve dúvidas, enfiou o pé na tábua. Demorou um pouco, mas o policial o alcançou. E desceu do carro com a cara enfezada, aquele ar cansado e aborrecido, e foi dizendo:

- Eu tive um dia muito difícil. Se o senhor me der um motivo para estar correndo tanto, eu o deixo ir embora sem lhe multar ou lhe prender.

- É que minha mulher fugiu de casa na semana passada com um policial rodoviário. Quando vi sua moto pensei que era ele querendo me devolver ela.

- Tenha um bom dia. – Disse o policial liberando o cara.

Também me lembrei do bebum que andava pela rua na madrugada e topou com um policial que fazia a ronda noturna e que o abordou perguntando:

- Onde é que o senhor vai a uma hora dessas?

- Vou a uma conferência sobre os malefícios que o consumo do álcool causa ao organismo humano e de como ele interfere nas relações familiares e no trabalho.

- É mesmo? E quem vai fazer essa brilhante palestra a uma hora dessas da madrugada?

- Minha mulher.

Ele também foi liberado. Daí, quando o guarda veio em minha direção com o bafômetro em punho, eu o interrompi e interroguei:

-Seu Guarda. O senhor é casado?

-Sou.

-Sua mulher é muito ciumenta?

- É.

- O que ela faria se o senhor chegasse em casa tarde, sem uma desculpa que a convencesse de que não estava na farra com outra mulher?

- Ela quebraria todos os objetos que encontrasse à mão jogando-os em mim, e creio que me deixaria.

- Pois é. A minha também é assim. Eu não estou bêbado não, mas saí tarde da casa da minha amante sem ter bebido nada. O jeito foi tomar uns quatro uísques num bar aqui perto e esperar que ela acredite que eu estava bebendo com alguns amigos.

Fui liberado e o policial ainda sorriu e me desejou boa sorte.

NE: Publicada no livro Mas eu lhe disse... (2015)

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