Pedro Daher faz sucesso com seus mapas falantes: 'Começou como zoação' Imagem: Arquivo pessoal; Reprodução/TikTok
"Que tal ingressar na Otan?", pergunta uma boca enorme situada sobre o mapa dos Estados Unidos. Outra boca, posicionada na Ucrânia, se mexe: "Ai, meu Deus!", diz, em voz fina.
O dono dos mapas falantes é o ator Pedro Daher, de 26 anos. Ele combina fatos reais com humor para tornar simples informações complexas sobre a geopolítica.
No vídeo em questão, é claro que a Rússia interrompe o diálogo entre os Estados Unidos e a Ucrânia. "Acha mesmo que vou permitir que integrem a Otan bem lado do meu país?." O diálogo tem 1,4 milhão de visualizações no TikTok e também bomba no YouTube.
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Pedro usa só os olhos, a boca e a voz (a entonação e o sotaque fazem toda diferença), em cima de imagens de mapas. "Faço os países 'conversarem' entre si, como personagens", resume.
A ideia surgiu de onde costumam sair as melhores iniciativas: do tédio. Em 19 de março de 2021, plena pandemia e isolamento social, o ator teve o impulso de criar o seu primeiro conteúdo na plataforma.
"Por causa da pandemia, as apresentações teatrais e as gravações ficaram paralisadas. Tinha me formado em teatro em 2019 e fiquei sem trabalho", lembra. Naquela época, ele tinha visto algumas curiosidades na internet sobre as diferenças entre a língua portuguesa falada em Portugal e no Brasil — e resolveu brincar com isso em um vídeo.
Gravou sobre o assunto à noite, foi dormir e no dia seguinte... surpresa: acordou com milhares de notificações no celular.
As mensagens, claro, não eram todas boas. "Os portugueses não gostavam das brincadeiras que eu fazia, diziam que o português brasileiro é como lixo, que o Brasil é um país de macacos e bandidos e que deveríamos agradecer por termos sido colonizados." Os comentários positivos, no entanto, o animaram a fazer mais. "Continuei produzindo. No princípio, era apenas uma zoação com o idioma, mas aos poucos a ideia se expandiu e pensei que seria interessante gravar conteúdo de história."
O jovem de Votuporanga (SP), então, se aventurou a explicar de forma simples temas como a Guerra no Paraguai e a Independência do Brasil. Cada vez mais, os usuários do TikTok faziam seus pedidos de assuntos — e, como o mundo vive de tretas desde os primórdios, não faltaram temas para seus vídeos.
Foi quando a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022, que ele percebeu não só que tinha um público e um segmento dentro da plataforma, quanto que não poderia falar de qualquer jeito sobre geopolítica e história.
Fui cada vez mais chamado a falar não só sobre este assunto, mas de outros mil que ocorriam no mundo. Nunca fui um especialista da geopolítica, mas encontrei uma oportunidade de criar histórias com temas complexos e às vezes difíceis de entender.
Ainda em fevereiro, ele lançou a série de vídeos "Meu Vizinho Tá Putin", em referência ao sobrenome do presidente da Rússia. Os conteúdos, feitos até a atualidade, falam da relação do país com os demais.
"Nesses vídeos, discuti a possível adesão da Ucrânia à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a posição da União Europeia em relação a um possível conflito, o bloqueio das exportações russas de gás natural, entre outros", detalha.
"Claro que não basta apenas fazer vídeos para me divertir, minha escrita deve ter um embasamento e, para isso, costumo buscar, sempre que possível, artigos, livros e opiniões de especialistas e professores", diz Pedro.
O influencer conta que recebe, diariamente, elogios de professores, já habituados com o interesse de seus alunos pelos vídeos curtos de humor no TikTok. "Recebo mensagens dizendo que meus vídeos foram usados em aula, para divertir alunos. Fico feliz em ajudar", diz ele, que atrai até o público infantil às suas páginas.
As reclamações, quando vêm, são sobre a simplicidade no conteúdo — afinal, não é nada fácil resumir uma guerra ou fato histórico em caras e bocas nas redes sociais."Detalhes muitas vezes não cabem em vídeos e acabam sendo discutidos em outros espaços; então estou acostumado a comentários como 'faltou isso ou aquilo', pontua. Seu posicionamento político sobre alguns temas também pode incomodar alguns — e, sobre isso, ele não faz questão de esconder a subjetividade que existe na forma de representar os assuntos.
Todos nós temos nossas visões políticas do mundo e eu tenho a minha. Viver é um ato político e sempre algo a ser discutido. Creio que é essa a principal base de críticas que possam vir a aparecer nos vídeos.
O trabalho com os vídeos gera, segundo Pedro, uma renda de R$ 3 mil por mês. E tem sido feito de forma "artesanal" — ele conta que demora uma hora para escrever um texto, às vezes um dia inteiro.
O mesmo vale para as outras partes, como a edição. Por isso, limita o conteúdo a apenas dois vídeos na semana.
Não gosto de fazer as coisas às pressas, gosto de escrever, parar e ler novamente para ter certeza de que está ao meu gosto. E como sou eu quem faz tudo sozinho, chego às vezes a demorar dois, três dias no total para ter um vídeo curto pronto.
Ao mesmo tempo em que coloca suas habilidades como ator, roteirista e diretor em prática, Pedro pretende investir em outros caminhos, trabalhar em grandes produtoras, seja escrevendo ou encenando.
"Apenas sei que não farei esses mapas para sempre, quero poder investir em outros caminhos, abrir novos horizontes. Adoro o que faço [na internet], mas meu trabalho principal é o de ator, e como ator quero ser reconhecido e lembrado."
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Com informações do Uol
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