Feitos nas coxas
Tais crenças nutridas, com um certo charme turístico não têm, como é óbvio, o menor fundamento.
No que se refere à pimenta não sendo, essa, minha especialidade, não posso nem devo discorrer, deixando o assunto para iniciados em culinária e outros misteres. Ou mistérios.
No que tange aos charutos, tendo mergulhado neles do fabrico ao consumo, por mais de duas décadas, sinto-me à vontade para afirmar que, eventualmente no passado, alguns charutos poderiam ter sido feitos sobre as coxas.
Negócio seguinte. Nos grandes armazéns que recebiam (e ainda recebem), o fumo vindo do campo para o processo de beneficiamento, era hábito as mulheres trabalharem sentadas ao chão, separando e espalmando as folhas de tabaco. Uma ou outra delas, a pedido das chefias, preparava charutos mais ou menos rudimentares, para a devida degustação dos fumos da safra em processamento. Como há de entender-se, não dispondo de mesas, dado à forma como trabalhavam, sobrepunham uma tábua às pernas e sobre a dita, enrolavam os charutos para testes. Daí à afirmativa dos charutos serem feitos nas coxas, foi um passo.
Portanto, quando você estiver se comprazendo com seu charuto e alguém lhe perguntar se “ele é um dos bons, daqueles feitos nas coxas”, sorria, discreta e indulgentemente, dizendo que sim.
Deixe seu interlocutor, por certo um não iniciado, ficar imaginando como um objeto cilíndrico possa ser produzido sobre formas arredondadas. Assim como ele, se nunca veio à Bahia, sonha com a pimenta da mulher baiana.
Afinal, - isso é muito bom - um pouco de mistério não faz mal a ninguém.
Hugo A. de
Bittencourt Carvalho, economista, cronista, ex-diretor das fábricas de
charutos Menendez & Amerino, Suerdieck e Pimentel, vive em São Gonçalo dos
Campos – BA.
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