Brincando com o desconhecido
Tenho visto ultimamente na internet muitos vídeos sobre fenômenos inexplicáveis, notadamente no campo espiritual. A maioria, é verdade, sobre manifestações que aparecem em filmes e fotos sem que a pessoa que estava manipulando o equipamento percebesse na hora, e só observasse o fenômeno quando foi assistir o que gravou. Até aí menos mal. Não foi intencional nem ninguém estava invocando espíritos ou praticando qualquer ritual de bruxaria. Não. São apenas pessoas comuns registrando momentos fortuitos de suas vidas e que acabaram capturando imagens assombrosas, assustadoras, inexplicáveis. A coisa fica séria quando se tenta brincar com o que não se conhece. Eu via espíritos na minha infância, mas não interagia com eles nem eles comigo. Eu tinha medo, é claro, mas tinha muito mais medo de que me julgassem louco ou mentiroso. Não seria eu a gritar “olha o lobo”, se realmente não houvesse um. Depois eles sumiram e eu passei apenas a sentir a presença deles através de arrepios bem característicos.
Nunca
brinquei com essas coisas, pois sabia instintivamente que poderiam ser
perigosas. E fiquei mais convicto disso depois de um episódio que me ensinou a
não brincar com coisas que eu não tivesse certeza que poderia controlar. Eu estava
tomando um curso de hipnose e o professor nos ensinou alguns macetes,
advertindo-nos, porém, que não tentássemos fazer nada daquilo sem a presença de
alguém experiente. Eu estava entusiasmado com o que via, e cheguei certo dia à
casa da minha namorada contando pra ela algumas coisas. E ela, é claro,
duvidava. Foi quando chegou uma vizinha, Carmem, uma pessoa simplória, e minha namorada
falou pra ela o que eu dissera e ela, é claro, duvidou. Ferido em meus brios de
adolescente, eu disse: Pois eu vou lhe hipnotizar. Pedi a ela que juntasse as
mãos atrás da cabeça e entrelaçasse os dedos. Ela ficou em posição e eu comecei
o trabalho de sugestão e hipnose. Depois eu disse: Tente soltar as mãos. Ela
não conseguiu e começou a se desesperar. Eu tentava e ela se desesperava ainda
mais. Comecei a tentar acalmá-la e suava frio. Graças a Deus, consegui. Mas
encerrou-se ali a carreira de um grande hipnotizador.
Frequentando
os centros espíritas, os médiuns viram em mim uma potencialidade, e tentaram de
tudo para desenvolve-la. Mas, na verdade, intimamente eu não queria, tinha medo
de não ser bom o suficiente e acabar em vez de ajudar, prejudicando alguém.
Passei a usar a minha sensibilidade mediúnica pra identificar problemas e pedir
aos médiuns que socorressem aquelas pessoas obsidiadas por espíritos
inferiores. Graças a Deus, consegui ajudar muita gente desse modo. Mas, muitas
vezes, bastavam alguns aconselhamentos e práticas simples. Mas via também as
“paradas duras” que os médiuns de verdade enfrentavam, às vezes em prejuízo de
si mesmos.
Eu
entendo aqueles que não acreditam no mundo espiritual. Ainda não estão prontos.
Entendo aqueles que ainda têm dúvidas, aqueles que acreditam, mas perguntam por
que não veem os espíritos. Tudo tem o seu tempo e lugar. O fruto não pode ser
colhido antes nem depois de estar maduro, mas no tempo certo. E esse, é o tempo
de Deus. Mas deixo um conselho de valor: Não zombem nem se metam a lidar com
coisas com as quais não têm pleno conhecimento. Lembram-se do filme “O
Exorcista”? É uma estória fictícia. Mas tudo começa com adolescentes brincando
com a Tábua Quijá, para invocar espíritos. E adolescente em geral tem a
mediunidade muito desenvolvida, que pode se fortalecer ou enfraquecer com o
tempo. Mas, na infância e puberdade as crianças não sabem nem podem controlar
suas próprias forças. Por isso é tão perigoso brincar com o desconhecido. Tudo
aquilo que desconhecemos deve ser respeitado e estudado para compreendermos
como funciona e se somos capazes de lidar com ele.
NE: Publicado em 2021
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