quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Engenheiros de obras prontas

      

Existe uma praga que costumamos chamar de “engenheiros de obras prontas”. São pessoas que, desprovidas de ideias próprias, pongam nas ideias dos outros para aparecer. É uma prática asquerosa, mas, acaba sendo útil quando se quer difundir ainda mais uma ideia. É o que acontece com o forró, reconhecido pelo IPHAM, há dois anos, como Patrimônio Cultura do Brasil, depois de uma luta de mais de dez anos, que inclusive acompanhamos de perto. E agora foi oficialmente reconhecido como manifestação da cultura nacional, através da Lei 14.720, de 2023, sancionada pelo presidente da República.

         Certamente muitos políticos obscuros ainda chamarão para si a paternidade deste projeto que, sabemos, há mais de 10 anos vem sendo tocado por um grupo de forrozeiros, fabricantes de instrumentos, promotores de eventos e toda uma gama de pessoas ligadas ao forró. O reconhecimento pelo IPHAM foi um marco conquistado com muita luta por alguns abnegados forrozeiros. Mas, não importa. Quem ganhou foi o forró, não a música, mas todos os envolvidos nessa manifestação. É válido salientar que artistas de grande expressão foram convidados a dar sua contribuição à causa, mas, alguns se esquivaram pelos mais diversos motivos. Contudo, vencida essa batalha, ocuparam espaço na mídia para falar dessa vitória, que sabemos foi dos mais humildes.

         Os políticos, que também se omitiram na hora da luta, agora começam a aparecer com projetos de leis similares. Tipo assim: Vem um e diz: “O forró é lindo”. Outro vem e diz: “O forró é gato”. Outro diz: “O forró é gato, lindo e cheiroso”. E assim vai com cada um tentando puxar para si a paternidade de qualquer ação que venha a colocar o forró no lugar que ele merece. Mas, o forró está aí pelos seus próprios méritos, e não importa que este ou aquele queira usufruir da grandeza do forró. Porém, todos nós nordestinos, brasileiros, amantes do forró, estamos felizes e orgulhosos com o seu reconhecimento.

         Mas, a luta continua! Ainda há muito que se fazer, não só para promover o forró, como para mantê-lo no topo dos grandes eventos musicais do Brasil. E não é só isso. A luta agora é por políticas públicas para promover o trabalho dos profissionais do forró, aqueles que sobrevivem dessa cultura. Ou seja: Os músicos, fabricantes de instrumentos, promotores de eventos, cantores, compositores. Afinal o forró não é apenas uma música junina. É uma arte que movimenta a economia através do comércio de roupas, calçados, alimentos, bebidas e serviços que mantem milhares de famílias e que dura do carnaval ao Natal.

         São João passou por aí?         

          

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