sábado, 4 de novembro de 2023

 


* Sonhos Azuis *

 

Sonhar não faz mal, mesmo quando sonhos da juventude se desfaçam em antigos blues, mal percebidos por desatentos ouvidos.

 

Afinal, a saudade das insônias noturnas, frequentada por desencantos e desamores, pode transformar-se na prazerosa solidão do escrever doces lembranças, dividindo-a com muitos que, naquelas noites distantes, não testemunharam nossa (in)felicidade.

 

A música fora o contraponto da união. O azul, a cor da esperança. Os cigarros e os baseados, os companheiros calados. O blues, a expressão das tristezas.

 

Uma guitarra dilacerada, um dente de ouro e olhos de fumaça e cafeína, uma voz rouca com olheiras escuras e um esfrangalhado e não correspondido amor formaram a base do “Cigarrete Blues”.

 

Poderia ter sido “Blues Dreams” – “Sonhos Azuis”, gosto mais.

 

Azulados devaneios de olhos abertos, cantando, sonhavam fazendo outros sonharem seus sonhos. É verdade diga-se, flagrantes, sangue, histeria, adeuses, cabelos despenteados, corações sujos, sanduíches frios, ouvidos duros, humilhações, fizeram parte da história, naquelas noites mal dormidas e de depressões: nas estradas e nos corações.

 

Por onde, então, andaria o amor? Ah! aquele amor mal interpretado, não correspondido, embriagador, machucado, triturado, feito pó. Poeira das estrelas, a rasgar a noite com seu rasto iluminado. Luz fugaz a desprender emoções, embaralha os sentidos e veste de azul a vida.

 

Em sequência, mais blues... Incompreendidos, vaiados, rejeitados, fazendo virar a mesa na qual apostavam-se todas as fichas da cor do céu. Ritmo, por uns tempos tido gosto duvidoso, para dar sabor e animar insípidas e medíocres vidas mal vividas.

 

Ocorre que blues são blues, entenda-se, paixão.

 

Voltam, entremeados aos pagodes e forrós agora acompanhados por dois outros sonhadores. O fã - convertido numa guitarra viciada em cocaína - e o baixista - menor que o próprio baixo - carente de tudo e alma feita candura.

 

Agora, a pergunta até aqui não respondida: e o grande, o inesquecível encontro, o sonhado romance de uma noite eterna, amanhecido em lençóis cheirando a amor?

 

Aconteceu, para tornar ainda maior, a doce melancolia de compartilhar os sonhos azuis, vividos na colorida ribalta da vida.

Hugo A de Bittencourt Carvalho

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