* Sonhos Azuis *
Sonhar não
faz mal, mesmo quando
sonhos da juventude se desfaçam em antigos blues, mal percebidos por desatentos
ouvidos.
Afinal, a saudade das insônias noturnas, frequentada por desencantos e desamores, pode transformar-se na prazerosa solidão do escrever doces lembranças, dividindo-a com muitos que, naquelas noites distantes, não testemunharam nossa (in)felicidade.
A música fora o contraponto da união.
O azul, a cor da esperança. Os cigarros e os baseados, os companheiros calados.
O blues, a expressão das tristezas.
Uma guitarra dilacerada, um dente de
ouro e olhos de fumaça e cafeína, uma voz rouca com olheiras escuras e um
esfrangalhado e não correspondido amor formaram a base do “Cigarrete Blues”.
Poderia ter sido “Blues Dreams” –
“Sonhos Azuis”, gosto mais.
Azulados devaneios de olhos abertos,
cantando, sonhavam fazendo outros sonharem seus sonhos. É verdade diga-se,
flagrantes, sangue, histeria, adeuses, cabelos despenteados, corações sujos,
sanduíches frios, ouvidos duros, humilhações, fizeram parte da história,
naquelas noites mal dormidas e de depressões: nas estradas e nos corações.
Por onde, então, andaria o amor? Ah!
aquele amor mal interpretado, não correspondido, embriagador, machucado,
triturado, feito pó. Poeira das estrelas, a rasgar a noite com seu rasto
iluminado. Luz fugaz a desprender emoções, embaralha os sentidos e veste de
azul a vida.
Em sequência, mais blues...
Incompreendidos, vaiados, rejeitados, fazendo virar a mesa na qual apostavam-se
todas as fichas da cor do céu. Ritmo, por uns tempos tido gosto duvidoso, para
dar sabor e animar insípidas e medíocres vidas mal vividas.
Ocorre que blues são blues,
entenda-se, paixão.
Voltam, entremeados aos pagodes e
forrós agora acompanhados por dois outros sonhadores. O fã - convertido numa
guitarra viciada em cocaína - e o baixista - menor que o próprio baixo -
carente de tudo e alma feita candura.
Agora, a pergunta até aqui não
respondida: e o grande, o inesquecível encontro, o sonhado romance de uma noite
eterna, amanhecido em lençóis cheirando a amor?
Aconteceu, para tornar ainda maior, a
doce melancolia de compartilhar os sonhos azuis, vividos na colorida ribalta da
vida.
Hugo A de Bittencourt Carvalho
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