* Epítetos *
Aqui, na provinciadesãogonçalodoscamposdabahia, não se fugiu à regra. Os quarteirões são mares de telhados e às janelas das casas geminadas, habitadas em sua grande maioria por pessoas idosas, homens e mulheres passam a jornada a espreitar a vida alheia.
Esquinas poucas, bares muitos são
também pontos de convergência daqueles que, pouco ou nada a fazer, ocupam-se em
olhar o nada e a todos.
Relembro, finais do século passado, quando na companhia de meu charuto, imitava o hábito do cotidiano citadino, não se transcorriam poucos minutos para alguém - sempre um amigo mais idoso – pedir-me um “daqueles charutinhos especiais que os cubanos fazem”.
Cubanos, no caso, referia-se à família Menendez, que para cá imigrara, final dos anos setenta, para dar partida à indústria local que, passados 45 anos, converteu-se na maior fábrica brasileira de charutos.
Ante o irrecusável pedido do interlocutor, logo o atendia. Passava a desfrutar, então, de outro companheiro, além do charuto, na enfumaçada rodada de nada fazer.
Naquela época, era confortável e prazeroso saborear charutos, em público, cá em São Gonçalo. Sendo eles, parte integrante da cultura local, ninguém reclamava. Ninguém contorcia o nariz, naquela caretice, literalmente falando, velha conhecida dos amantes da arte e do prazer de fumar.
Ao contrário, as pessoas amigavelmente aproximavam-se, para aspirar a névoa das baforadas e evocar avoengas recordações.
Então e, em paralelo, como cidade ainda pequena, todos sabendo da vida de todos, aos nomes batismais acresciam um epíteto identificador da respectiva atividade individual.
Assim, tivemos um Roque da Farmácia, uma Sônia do Bazar, um Beto do Empório, um Vavá do Capim, um Deraldo do Leite, um Lino da Pousada, e por aí vai.
Eu?
Hugo
dos Charutos.
Hugo A. de
Bittencourt Carvalho, economista, cronista, ex-diretor das fábricas de
charutos
Menendez &
Amerino, Suerdieck e Pimentel,
vive em São Gonçalo
dos Campos – BA.
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