sábado, 24 de fevereiro de 2024


* Talvez *

Ora, estou octogenário.

Com 45 anos de vida laboral,

aos 63, aposentei-me.

 

Resumo?

Vinte, em tintas.

Vinte e cinco em fumos.

 

Com as tintas,

colori a vida,

aprendi as cores do arco-íris.

Com os fumos,

a arte e o prazer de fumar.

 

Ao me afastar das lides,

quase não o senti.

 

Charutos companheiros,

comigo permaneceram,

para meditar e escrever.

E pondero:

 

Talvez

houvesse agido de outra maneira,

ou talvez não.

 

Talvez

fosse pai de outros filhos,

ou talvez não.

 

Talvez

cuidasse em fazer o próximo mais feliz,

ou talvez não.

 

Talvez

vivenciasse mais amores,

ou talvez não.

Talvez

ainda viva alguns anos,

ou talvez não.

 

Talvez

veja os derradeiros filhos formados,

ou talvez não.

 

Talvez

abdique de alguns prazeres,

ou talvez não.

 

Talvez

escreva um livro,

ou talvez não.

 

Agora, sem talvez algum,

plena garantia,

agente federal ou militar eu fosse.

bem mais, ora, ganharia.

 

Enquanto o tempo passa

- no limiar da existência e

na quietude de minha chácara -

leio, escrevo e ratifico:

repetiria os caminhos idos

e os amores tidos.

Ou talvez não.

 

A vida é assim mesmo.

Talvez, talvez, talvez.



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