terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

STF foi quem botou parte da multidão na manifestação que Bolsonaro convocou

 

A manifestação feita por Bolsonaro na Avenida Paulista mostrou uma realidade que o país não pode fingir que não existiu. Logo após o 8/1, Bolsonaro,  não teria nenhuma capacidade de realizar uma mobilização com tamanha expressão.  O maior responsável pelo  retorno do ex-presidente e 750.000 mil pessoas à Paulista é o STF. Ele é o grande responsável pela rejeição que catalisou a manifestação que tem em Bolsonaro só uma representação. O STF,  em primeiro momento, teve uma ação decisiva na defesa da democracia, mas  não resistiu ao canto da sereia e deixou-se encantar pela própria voz. O genial Millor Fernandes costumava dizer que o poder era um camaleão ao contrário: ao chegar lá todos tomam a cor dele.

 Ao longo desse um ano o STF foi construindo um sentimento de profunda indignação entre os brasileiros. Não é à toa que pesquisas mostram que mais de 50% dos brasileiros acreditam que vivem sob a ditadura do Judiciário. Por outro lado, as falas dos ministros - sem apego a liturgia do cargo- sedimentam cada vez mais a impressão que havia um alinhamento entre STF e TSE para beneficiar o candidato Lula- desde a mudança de jurisprudência a respeito da prisão em transitado e julgado até a anulação das sentenças contra o atual presidente. A aniquilação da Lava-Jato- que merece críticas procedimentais-, mas que nunca condenou um inocente tem sido colocado na conta da Suprema Corte. Como agravante, as recentes inacreditáveis decisões monocráticas de Ministros anulando multas de empresas condenadas que fizeram acordo de leniência, deixaram ainda mais a impressão de que o STF não tem o necessário vigor no combate à corrupção contrariando o interesse dos pagadores de impostos.

 Além disso, o STF tem perpetrado atrocidades e violações Constitucionais ao conduzir alguns inquéritos- do famigerado inquérito do fim do mundo ao malfadado inquérito do Aeroporto de Roma- assumindo o papel de vítima, polícia, Ministério Público e juiz. Para isso utiliza as mesmas prisões preventivas prolongadas que condenou na lava-Jato, censura de opinião, invasão de domicílios, atropelamentos processuais.  Aliás, não podemos esquecer o tristemente célebre voto de Carmem Lúcia sobre censura: "a censura é proibida em nossa Constituição, mas, vou autorizar só essa vez". Há a morte de um preso de 8/1 na cadeia, cujo pedido de liberdade já liberado pela PGR não foi executado por Alexandre de Moraes, não se podendo negar sua responsabilidade. A saída de Lewandowski, do STF, para o Ministério da Justiça soou tão parcial e escandalosa quanto a ida de Moro para o mesmo cargo no governo Bolsonaro. Enquanto isso, Ministros confraternizam em camarotes carnavalescos com delatados da Lava-Jato, frequentam escolas de bicheiros, liberam a si próprio para julgarem processos em que familiares atuem, e vão erodindo violentamente a imagem do STF , resultando na fala do ex-Desembargador Sebastião Coelho de que os Ministros eram " as pessoas mais odiadas desse país"

 Esse conjunto de ações  foram criando a percepção de um ativismo partidário ou direcionado ao governo atual que tem sua parte de  rejeição profunda entre o eleitorado do país. Isso permite a Bolsonaro aproveitar-se dessas ações para sinalizar a ideia de ser perseguido político pelo STF.  Há um ano atrás jamais conseguiria botar uma Kombi de gente nas ruas. Agora, bota uma multidão. Não se pode negar ao STF sua parte nesse latifúndio. 

NE: Publicado no Tribuna Feirense

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