A
sabedoria oriunda da pedra empinada
O menino sonhador virou poeta, sempre enamorado por aquele monte, hematita quase pura – rebatizado por Pico do Cauê. Para ele, algo estático, inanimado e inabalável.
Décadas de mineração sumiram com
a pedra gigante. Em seu lugar, tal qual sino invertido, enorme cratera,
profunda a perder de vista. No versejar do poeta, a descomunal pedra sumira do
caminhar da sua existência. O vate, todavia, achou por bem não explicitar qual
fora, na verdade, a “pedra no meio do caminho”.
Meu avô, em umas de nossas
tertúlias, contou-me sonho tido, trazendo à tona, além da Pedra, o Vento.
Segundo o sonho, há milhões de
anos, tempo antigo, no meio do caminho, o jovem Vento viu-se frente à frente
com a poética Pedra secular. Inexperiente em voejar por trilhas pedregosas, à
toa esbateu-se na persistente Pedra. Pedra que, graças à força das palavras,
era desvestida de grandeza e significado. Afinal ela, pedra anônima - dessas
que na vida, por acaso tropeçamos - estava perdida em meio ao caminho do Vento.
Tal sonho durou a eternidade de
instantes. Vamos a ele, por etapas.
Nos primórdios do Tempo Eterno, o
primitivo Vento, lépido, ágil, audacioso, tropeçou na Pedra, ela eternamente
estática. O Vento – irado – verbalizou impropérios e chutou a Pedra que, calada
permaneceu.
Passam-se séculos, muitíssimos. O
Vento, então com espírito religioso, estava mais contido, mas tornou a tropeçar
na Pedra Eterna. Olhos ao alto, evocou o Padre Eterno. Admitiu o choque à
vontade de seu deus, Éolo.
O sonho prosseguiu por outras
tantas gerações. A Pedra no mesmo lugar, imóvel. O Vento sempre soprando, deu
adeus a seu deus. Trocou-o pelo mundo sobrenatural da magia. Assim, ao tropeçar
na Pedra atribuiu a causa do incidente à má intenção dela.
Por outras incontáveis eras, Pedra e Vento seguiram seus fados. O dela, parado no tempo; o dele, em outro estágio. A rajada contra a Pedra passou a ser-lhe indiferente. O Vento aprendera ser responsável por sua falta de cuidado, evitar a Pedra e prosseguir no tempo. Conhecera a Sabedoria.
Hugo Adão de Bittencourt Carvalho (1941), economista, cronista, é autor do livro virtual Bahia – Terra de Todos os Charutos, das crônicas Fumaças Magicas e Palavras ao Vento, participa do Colares – Coletivo Literário Arte de Escrever. Vive em São Gonçalo dos Campos - BA
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