Tropeço nas teclas que por mim falam; redobro cuidados ao banho diário; confundo imagens, um paredão branco e um iceberg em nada diferem; despeço-me do ato de dirigir; não consigo traduzir o que manuscrevo; mil cuidados para encarar a ameaça de transbordar o vinho na diária taça; convivo às turras com o mouse que passou a brincar de se esconder; não mais consigo vincular planilhas do Excel com segurança; não vislumbro luz ao fim do túnel.
Matutava eu, quanto às escuras sendas a trilhar, ano chegando, quando a poética indagação, acudiu-me: E, agora, José?
Em passe de mágica, sou Inter
nauticamente visitado por José – amigo mineiro, da velha guarda,
apresentando-me a escritora carioca Ana Cláudia Saldanha Jácomo
(1966), dona de prosa rica em poesia, estilo que tanto ele, quanto eu,
apreciamos. Insuflado pelo título de linhas por ela alinhavadas - “Com olhos
encantados” -, alcancei o das presentes perorações, “Com olhares quase
cegos”. Olhares que, quando apagados pelo voluntário cerrar das pálpebras,
me permitem o vislumbre o clarão da lua arrodeando a palmeira imperial à janela
de meu quarto. Que não deleta lágrimas de saudades inundando abraços à
distância. Que, mesmo eu tendo dez filhos, me compraza em ser abraçado por
apenas um deles, comigo ao raiar do ano novo. Aos demais, espalhados pela
América, mesmo sem tocá-los, os vejo com olhos d’alma. Olhos que seguirão vendo
a vida, as cigarras anunciando o verão, nos oitizeiros da minha cidade; a
epidérmica beleza marrom das baianas do Recôncavo. Olhos, quase cegos, que
exercerão a vidência. Dos amigos e amigas distantes, dos literatos e literatas
locais a quem muito aprecio; das mães de meus filhos às quais muito devo e
devoto
O caminhar futuro, sei, não
será fácil, tantas são as artimanhas do destino. Mas, mesmo pouco ou nada
vendo, sempre haverá espaço para temperar a vida com alguma poesia.
Feliz Ano Novo a quem se
debruçar sobre estas linhas!
Hugo Adão
de Bittencourt Carvalho (1941),
economista, cronista, é autor do livro virtual
Bahia –
Terra de Todos os Charutos, das
crônicas Fumaças Magicas e Palavras ao Vento,
participa
do Colares – Coletivo Literário Arte de Escrever. Vive em São Gonçalo
dos Campos - BA
[email protected]
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