segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Pais e filhos

           

Eu era apenas um garoto que lia revistas em quadrinho e livros de bolso da história do velho oeste. Certo dia minha madrinha adquiriu uma coleção de Monteiro Lobato. Peguei o primeiro livro da coleção que estava na estante apenas por curiosidade. O título do livro era “O sítio do pica-pau amarelo”. Comecei a ler e quando dei por mim já tinha terminado. Realmente eu lia muito rápido. Gostei tanto do livro que peguei outro imediatamente. A coletânea tinha cerca de 20 volumes e eu a li em poucas semanas. Eu, que nunca tinha pegado um livro para ler, afora os livros didáticos, virei um leitor contumaz e voraz. Um mundo novo se abriu para mim.

Depois de Monteiro Lobato vieram Fernando Sabino,  Cecília Meireles, Carlos Drumond de Andrade, Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) e tantos outros autores nacionais e internacionais. Não preciso dizer que a minha bagagem cultural aumentou consideravelmente. Meu gosto pela leitura foi o que me levou também a escrever. E não deu outra. Virei jornalista. Mas, essa lenga-lenga toda vem a propósito de um livro que li na minha adolescência: O encontro marcado, de Fernando Sabino.

Naquela época eu estava envolvido com o Grupo Hera de literatura fundado pelo professor Antônio Brasileiro, onde alguns amigos também estavam, a exemplo de Roberval Pereyr, Juracy Dórea, Cremildo Atanásio, entre outros. Alguns dos meus amigos conheciam o livro de Sabino, e a gente brincava uns com os outros usando o chavão do livro: “Não analisa não”! Era um convite a não dar muitos tratos à bola diante dos problemas que se apresentavam no nosso dia a dia. “Não analisa não” equivalia dizer “Chuta o pau da barra”. Foi por aí o meu lindo e maravilhoso mundo dos livros, que me deu muita diversão e conhecimento.

Eu estou dizendo essas coisas porque assisti recentemente um episódio da série de terror televisiva Grimm. Nesse episódio um senhor idoso à beira da morte, desencantado pelo desinteresse do filho novo em ler, procurava desesperadamente um homem que seria o guardião fiel do seu tesouro em livros antigos guardados em um baú.

A saga desse homem tão preocupado em preservar o seu tesouro literário, me fez lembrar de quantos pais morrem sem ter a oportunidade de dar o maior presente que um pai dedica a um filho: conhecimento. Durante a minha vida tentei passar boa parte do meu conhecimento não só aos meus filhos, como também para parentes e amigos. Com os meus filhos tive pouco sucesso, mas, tive. E com os amigos tive bem menos. Contudo, posso morrer sossegado na certeza de que tentei devolver ao mundo parte do conhecimento que ele me deu. Devo mencionar que entre as pessoas que eu consegui influenciar na leitura e passar algum conhecimento está a minha amada companheira Maura Sérgia.

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