Eu era apenas um garoto que lia revistas em quadrinho e livros de bolso da história do velho oeste. Certo dia minha madrinha adquiriu uma coleção de Monteiro Lobato. Peguei o primeiro livro da coleção que estava na estante apenas por curiosidade. O título do livro era “O sítio do pica-pau amarelo”. Comecei a ler e quando dei por mim já tinha terminado. Realmente eu lia muito rápido. Gostei tanto do livro que peguei outro imediatamente. A coletânea tinha cerca de 20 volumes e eu a li em poucas semanas. Eu, que nunca tinha pegado um livro para ler, afora os livros didáticos, virei um leitor contumaz e voraz. Um mundo novo se abriu para mim.
Depois de Monteiro Lobato vieram Fernando
Sabino, Cecília Meireles, Carlos Drumond
de Andrade, Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) e tantos outros autores
nacionais e internacionais. Não preciso dizer que a minha bagagem cultural
aumentou consideravelmente. Meu gosto pela leitura foi o que me levou também a
escrever. E não deu outra. Virei jornalista. Mas, essa lenga-lenga toda vem a
propósito de um livro que li na minha adolescência: O encontro marcado, de Fernando
Sabino.
Naquela época eu estava envolvido com o
Grupo Hera de literatura fundado pelo professor Antônio Brasileiro, onde alguns
amigos também estavam, a exemplo de Roberval Pereyr, Juracy Dórea, Cremildo
Atanásio, entre outros. Alguns dos meus amigos conheciam o livro de Sabino, e a
gente brincava uns com os outros usando o chavão do livro: “Não analisa não”! Era
um convite a não dar muitos tratos à bola diante dos problemas que se
apresentavam no nosso dia a dia. “Não analisa não” equivalia dizer “Chuta o pau
da barra”. Foi por aí o meu lindo e maravilhoso mundo dos livros, que me deu
muita diversão e conhecimento.
Eu estou dizendo essas coisas porque
assisti recentemente um episódio da série de terror televisiva Grimm. Nesse
episódio um senhor idoso à beira da morte, desencantado pelo desinteresse do
filho novo em ler, procurava desesperadamente um homem que seria o guardião
fiel do seu tesouro em livros antigos guardados em um baú.
A saga desse homem tão preocupado em
preservar o seu tesouro literário, me fez lembrar de quantos pais morrem sem ter
a oportunidade de dar o maior presente que um pai dedica a um filho:
conhecimento. Durante a minha vida tentei passar boa parte do meu conhecimento
não só aos meus filhos, como também para parentes e amigos. Com os meus filhos
tive pouco sucesso, mas, tive. E com os amigos tive bem menos. Contudo, posso
morrer sossegado na certeza de que tentei devolver ao mundo parte do
conhecimento que ele me deu. Devo mencionar que entre as pessoas que eu
consegui influenciar na leitura e passar algum conhecimento está a minha amada
companheira Maura Sérgia.
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