sábado, 10 de agosto de 2024

 


O Bêbado e a Equilibrista

Lançada em 1979 no álbum Essa Mulher, de Elis Regina, O Bêbado e a Equilibrista foi adotada pelos brasileiros como o Hino da Anistia, em referência à lei que concedeu perdão aos perseguidos políticos e abriu caminho para o retorno da democracia no país.

Composta por João Bosco e Aldir Blanc, foi originalmente pensada por Bosco como uma homenagem a Charlie Chaplin, falecido em 1977. A harmonia, por exemplo, tem passagens melódicas propositalmente parecidas com Smile, do filme Tempos Modernos.

Assim como outras músicas escritas durante a ditadura, a letra de O Bêbado e a Equilibrista é recheada de metáforas utilizadas para denunciar a situação do país.

Como foi dito, a música é recheada de metáforas, o que levou o público a dar as mais diversas interpretações, algumas estapafúrdias sobre o que os autores queriam dizer. Vamos tentar esclarecer algumas coisas:

“Caía a tarde feito um viaduto”. Esta frase é uma alusão a uma época em que muitas construções desabavam antes mesmo de estarem concluídas.

E nuvens lá no mata-borrão do céu, Chupavam manchas torturadas”. Faz uma alusão aos presos políticos torturados e mortos pela ditadura militar.

Louco. O bêbado com chapéu-coco. Fazia irreverências mil. Pra noite do Brasil” – Faz alusão aos brasileiros que mesmo diante de toda adversidade, toda tristeza, buscavam viver com alegria.

“Mas sei que uma dor assim pungente/ Não há de ser inutilmente/ A esperança/ Dança na corda bamba de sombrinha/ E em cada passo dessa linha/ Pode se machucar”. Esses versos lembram que apesar do sofrimento, das torturas, havia esperança, embora tão precária quanto um bêbado se equilibrando numa corda bamba.

“Azar/ A esperança equilibrista/ Sabe que o show de todo artista/ Tem que continuar”. Azar entenda por não importa, porque a esperança é um equilibrista e sabe que o show tem que continuar mesmo sob o risco de cair e quebrar a cara. E, como se dizia naquela época: “A luta continua companheiro”. 

Obs.: A luta, a resistência contra a tortura e a opressão politica foi dura, mas, valeu a pena. O Brasil voltou ao estado de direito. Porém, não soubemos o que fazer dele e estamos neste beco sem saída. Eu poderia dizer que “estamos mais perdidos do que um cachorro que caiu do caminhão da mudança”. 

 

O bêbado e a equilibrista

Compositores: Aldir Blanc / João Bosco

Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos
A lua, tal qual a dona de um bordel
Pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel

E nuvens lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco
Louco
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Pra noite do Brasil
Meu Brasil

Que sonha com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora
A nossa Pátria mãe gentil
Choram Marias e Clarisses
No solo do Brasil

Mas sei que uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança
Dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha
Pode se machucar

Azar
A esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar

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