domingo, 25 de agosto de 2024

 


Raro privilégio 

Em tempos de tropical inverno, às quase-margens da Baía de Todos os Santos, Recôncavo Baiano – morada de poucos nacionais contemporâneos - dou costas aos glaciais beijos que meus beiços gelam e me atiro aos tintos abraços de Baco. 

Envelhecendo em espantosa velocidade, reinvento-me.  Vencida a fase do afogar-me em destilados, sucedida por bela temporada cervejeira, descubro o óbvio, “in vino, veritas”. 

Assim, garrafa e meia detonada no elucubrar ações para o coletivo literário, do qual sou discreta parte, aparto pensamentos que me assolam e consolam. 

Consolam, posto reconhecer que superadas as oitenta toneladas de vida, peso imaginável apenas pelos que alcançaram tal patamar, longevos pois, poucos detêm o paralelo privilégio de se corresponder, ombro a ombro, ‘tête a tête, com uma bisneta que vem de completar a maioridade. Quem, em tal fonte já houver bebido, alcance-me sua taça para brindarmos juntos. Afinal, trata-se de experiência incomum para um mortal comum. 

Ufanismos à parte, fato é que meu Norte se desnorteou quando, impávida, a guria causou surpresa ao inundar-me com limpidez e polidez cristalinas em belas palavras, adrede organizadas, a revelar talento e pendores para a literatura. Ante o auspicioso acontecimento – um ‘presentaço’ – fui compelido a registrar o feito de significativos efeitos em meu viver enquanto escriba. 

Hugo Adão de Bittencourt Carvalho (1941), economista, cronista, é autor do livro virtual

Bahia – Terra de Todos os Charutos, das crônicas Fumaças Magicas e Palavras ao Vento,

participa do Colares – Coletivo Literário Arte de Escrever. Vive em São Gonçalo dos Campos - Ba
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