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Lia Sérgia Marcondes |
Quantos
você vê apenas interagindo uns com os outros, sem qualquer dispositivo
eletrônico nas mãos?
A parentalidade do século 21 sofreu uma forte influência do ambiente digital, onde tablets e smartphones tornaram-se ferramentas para entreter os pequenos.
Onde
as redes sociais encheram-se de pais orgulhosos querendo compartilhar cada
etapa do desenvolvimento de seus filhos, desde o primeiro ultrasssom até os
primeiros passos, muitas vezes permitindo até que a criança tenha seu próprio
telefone e rede social “monitorada pela mamãe/papai”, antes mesmo que a criança
aprenda a ler.
O
‘sharenting’ (junção das palavras ‘share’, compartilhar, e ‘parenting’,
parentalidade) já atingiu o seu lado mais preocupante: o ‘oversharenting’, que
se refere ao compartilhamento excessivo de informações sobre crianças nas redes
sociais. Muitos pais, especialmente os que cresceram usando redes sociais,
tendem a publicar em excesso, e acabam por expor dados sensíveis dos filhos. A
prática, além de levantar sérias preocupações sobre privacidade,
compromete a segurança das crianças. Isto reforça a necessidade urgente de
conscientização sobre o que deve ou não ser compartilhado online.
Em
um ambiente onde o incentivo para estar nas redes parte dos próprios pais, que
criam perfis até de bebês que ainda nem nasceram, o número de menores nas redes
sociais cresceu rapidamente nos últimos anos, apesar das diretrizes das
plataformas. Embora a maioria das redes determine a idade mínima de 13 anos
para poder criar uma conta, a falta de um sistema de controle faz com que
burlar essa regra seja extremamente fácil.
Mas
o ‘oversharenting’ vai além de apenas compartilhar momentos dos seus filhos nas
redes sociais. Todas as informações divulgadas sobre eles são armazenadas pelas
plataformas, que podem utilizá-las de diversas maneiras.
Para
completar, os algoritmos aprimoraram-se cada vez mais para monitorar todo o
conteúdo consumido, oferecendo vídeos e posts cada vez mais atrativos e
viciantes. Esse ciclo pode transformar as crianças em verdadeiros ‘zumbis
digitais’, rolando a tela por horas sem absorver informações significativas,
enquanto permanecem presas ao fluxo interminável de estímulos online,
“escravos” da timeline infinita.
Em
2024, o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da
Informação (Cetic.br), departamento do Núcleo de Informação e Coordenação do
Ponto BR (NIC.br), divulgou dados inéditos sobre o uso de plataformas digitais
por crianças e adolescentes de 9 a 17 anos. Os números reforçam a preocupação
com o impacto das redes sociais nessa faixa etária.
Não
é de agora que muitos especialistas em desenvolvimento infantil ao redor do
mundo estão alertando sobre os problemas causados pela exposição precoce e
excessiva a aplicativos como YouTube, Instagram e TikTok, as principais
plataformas de distribuição de vídeos curtos (shorts e reels).
O fim da moderação de conteúdos em plataformas digitais, aliado aos avanços da inteligência artificial, elevou os riscos online para crianças. Se antes havia a preocupação de que uma simples foto inocente de seu filho, como tomando banho de chuva, pudesse ser adulterada e compartilhada em fóruns obscuros da deep web, hoje o perigo vai além. Com a disseminação facilitada pelas redes sociais mais abertas, como X (antigo Twitter) e Facebook, essas imagens podem alcançar um público ainda maior, enquanto as plataformas, muitas vezes, falham em agir para remover conteúdos impróprios rapidamente.
O
desafio de proteger crianças e adolescentes na Era Digital
Apagar
agora mesmo todas as redes sociais das crianças menores de 13 anos, talvez seja
imperativo. No entanto, sei que não reflete o desejo ou a realidade de boa
parte das famílias.
As
novas gerações estão cada vez mais conectadas aos meios digitais e à internet,
tornando impossível separar suas vidas do ambiente online. Equilibrar os
impactos desse uso constante pode representar um grande desafio social, mas é
necessário para garantir a proteção integral de crianças e adolescentes.
Uma
abordagem conjunta e interdisciplinar, envolvendo diferentes atores sociais
(escolas, pais, responsáveis, comunidade e o Estado) pode atuar de forma
colaborativa para criar estratégias que promovam o uso consciente da
tecnologia, com o intuito de equilibrar os benefícios do mundo digital com o
bem-estar físico, emocional e social das novas gerações.
O
equilíbrio no tempo de tela é parece ser o ponto-chave para o desenvolvimento
saudável das crianças. Para reduzir o excesso de exposição a dispositivos
digitais, as famílias podem incentivar atividades que estimulem habilidades
motoras, criatividade e interação social. Além disso, atividades ao ar livre,
como pular corda, explorar a natureza ou simplesmente brincar no parque, ajudam
a conectar as crianças ao mundo real e promovem momentos de diversão fora das
telas.
Outro
ponto crucial é o exemplo dado pelos próprios pais. As crianças imitam o
comportamento dos adultos ao seu redor, por isso é importante praticar o uso
consciente da tecnologia. Evite passar longos períodos no celular ou assistir à
TV durante refeições e momentos de convivência familiar. Demonstrar um
equilíbrio saudável entre o uso da tecnologia e o tempo offline reforça hábitos
positivos e contribui para uma infância mais saudável e equilibrada.
Lia
Sérgia Marcondes - Mulher, mãe, cozinheira e jornalista, não necessariamente
nessa mesma ordem.
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