Doenças sempre existiram. Hoje, porém, uma está se tornando epidemia global. Trata-se da “Acusacionite Crônica”, ou seja, a mania de acusar os outros e até mesmo a Deus. O método foi usado já no Jardim Terreal. Questionado por Deus, Adão resolveu culpar a esposa, Eva. Ela não quis ficar com a culpa, e apontou a serpente como a verdadeira culpada. E, como os animais não falam, a questão terminou ali.
COM FREQUÊNCIA, ouvem-se pais acusando filhos e filhos acusando pais, marido acusando a mulher, e vice-versa… Em escolas circulam acusações de alunos a seus professores e de professores a seus alunos. É assunto diário, em meios de comunicação e redes sociais, a acusação do povo a seus governantes e dos governantes ao povo. Nossos avós afirmavam: “Carregamos nossos defeitos nas costas e por isso não os vemos”.
NÃO SOMOS anjos, mas seres humanos. Ansiamos
a perfeição, mas somos imperfeitos. Se admitirmos o que somos, quem sabe,
amanhã nos tornaremos o que pretendemos ser. Só admitindo com maturidade nossos
defeitos, poderemos superá-los. Não querer admitir o erro é perigoso.
Esconder a sujeira debaixo do tapete é atitude infantil. Nós sabemos que ela
continua lá.
“ERRAR É humano”, afirma a sabedoria popular.
Na realidade, todos nós erramos, somos diferentes, por isso, precisamos
aprender a conviver. Isso supõe o diálogo que dilui nossa tentativa de julgar
com nossos critérios e experiências. Tudo é visto a partir de um ponto de
partida, e o ponto de partida de cada um, é diferente. Diversidade não
significa confronto, mas riqueza.
A TENTAÇÃO de julgar é muito forte em todas
as pessoas. Não julgar é um ato de inteligência, porque pouco conhecemos dos
outros e, esse pouco, quase sempre, é superficial. Julgar é colocar-se como
juiz, como centro de referência e da verdade. É sempre prudente admitir que o
outro tenha razão. Talvez seja por isso, que Jesus nos admoesta: “Não julgueis
e não sereis julgados” (Mt. 7,1).
A “ACUSACIONITE Crônica” é uma doença que tem
cura, mas o medicamento está em nós mesmos. Ninguém é dono da verdade. A
realidade é o espelho onde nos olhamos e que nos ajuda a ver-nos com
honestidade, em nossos defeitos e qualidades. Defeitos, nós sempre teremos. Reconhecê-los
é o ponto de partida para a superação. A sabedoria do Evangelho nos garante:
“Só a verdade vos libertará” (Jo. 8,32).
Arcebispo Emérito
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