quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Esvaziando o inferno



         
Cristóvam Aguiar
Às vezes eu me pego pensando em como surgiram certas expressões populares. Algumas têm lógica e até base na ciência, como é o caso de “Lágrimas de Crocodilo”, que, segundo afirmam os estudiosos da natureza, “chora” enquanto devora a sua presa. Segundo os biólogos, quando fecham as mandíbulas para triturar a presa, as glândulas lacrimais dos crocodilos são pressionadas e ejetam lágrimas. Então, aparentemente o bicharoco “chora”, mas tá mais pra alegria do que para tristeza.

         Há até uma versão contada em crônica por um escritor brasileiro (infelizmente não me lembro quem) de que, no tempo da carochinha, um bicho encontrou um crocodilo chorando e lhe perguntou o que havia acontecido.

         - Veja você que seis criancinhas desceram o rio numa frágil balsa. Imprudência das crianças. A balsa virou.

         - E daí – retrucou o interlocutor do crocodilo – eram seus parentes, seus amigos.

         - Não.

         - Então, por que choras?

         - É que eu só consegui comer cinco.

         Um dia desses eu publiquei um texto hilário que me enviaram, atribuído ao escritor e poeta potiguar, Itanildo Medeiros, contando como surgiu a expressão “Morreu Maria Preá”, usada quando se quer por fim a um assunto. O texto narra o caso de um padre que vivia sendo extorquido por um sacristão que o flagrara mantendo relações sexuais com uma beata chamada Maria Preá. Certo dia o padre surpreendeu o sacristão em coito anal com outro homem e bradou de lá: “Sacristão se oriente, pois pra nós, daqui pra frente, morreu Maria Preá”!

         Mas existem expressões curiosas que não dá pra entender. Como surgiu, por exemplo, a expressão “Macacos me Mordam”? Algumas dessas expressões, no entanto, surgem do nada, apenas para desabafo. Nada melhor para desabafar, por exemplo, como a boa e velha “Porra”. “Vá Tomar no Cú” então, nem se fala. Virou até música da atriz Chris Nicolotti, mega sucesso na Internet.

         Mas um fato engraçado aconteceu envolvendo dois expoentes da sociedade feirense, quando ainda eram garotos. Um o professor Rubens Pereira, da Uefs, e outro o hoje médico e político, Dr. Getúlio Barbosa. Eles estavam jogando bolas de gude no passeio da casa de Rubens, na avenida Getúlio Vargas, onde alguns garis promoviam a capina e limpeza dos canteiros e meio fio, sob o olhar atento do capataz, um senhor de meia idade e que trazia uma chaga imensa na perna.

         Em determinado momento a enxadeta que um dos garis usava desacunhou e voou, indo bater direto na ferida da perna do velho.  A dor foi tanta que o homem bradou: “Com seiscentos milhões de diabos”!


         Rubens recolheu as gudes e disse: “Vamos pra casa Getúlio, que com essa o inferno ficou desguarnecido” ...

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