sexta-feira, 28 de novembro de 2014

País sai de recessão técnica, mas ritmo de recuperação decepciona

A boa notícia é que dados do IBGE confirmaram nesta sexta-feira que o Brasil saiu do que é definido como recessão técnica no terceiro trimestre de 2014.
De acordo com o instituto, o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu 0,1% no último trimestre na comparação com o trimestre anterior. E de janeiro a setembro, teve uma expansão de 0,2% frente ao mesmo período de 2013.
A recessão técnica é definida por uma queda do PIB em dois trimestres consecutivos - e no primeiro e segundo trimestres deste ano, houve retração de 0,2% e 0,6% respectivamente.
A má notícia é que, segundo analistas, os números também indicam que a retomada da trajetória de crescimento será mais lenta do que se antecipava.
Na média, analistas do mercado esperava uma alta de 0,2% neste trimestre. E na comparação com o mesmo trimestre de 2013 o resultado também veio pior que o esperado: houve uma retração de 0,2% quando se esperava queda de 0,1%.
"O que os números mostram é que o segundo trimestre de fato foi o fundo do poço da desaceleração da economia, mas a retomada será mais lenta e complicada do se antecipava", diz a economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências.

Ela explica que, na prática, se saiu de uma recessão técnica para um cenário de quase estagnação.
"Com um resultado desses, é provável que revisemos nossa previsão para o crescimento deste ano para zero, ou algo bem perto disso."
O economista Antonio Correa de Lacerda, economista e professor doutor da PUC-SP, diz que o ano que vem ainda será prejudicado pelos ajustes fiscais, pela alta dos preços administrados (por exemplo, o da gasolina) e dos juros.
"Mas, uma vez estabelecida essa nova base, podemos esperar crescimento em 2016", acredita.

Indústria
A ligeira expansão do PIB no terceiro trimestre foi puxada pela indústria, que cresceu 1,7% em relação ao trimestre anterior. "Houve uma recuperação principalmente da construção civil e indústria extrativa", diz Ribeiro.
Os serviços também tiveram alta de 0,5%, enquanto a agropecuária, que vinha puxando o crescimento do país até agora, recuou 1,9%.
Os dados do IBGE também mostram que, de julho a setembro, o consumo das famílias caiu 0,3%, enquanto os gastos públicos cresceram 1,3%, e o nível dos investimentos, também, no mesmo patamar de 1,3%.
A expectativa ainda é a de que, mesmo com essa discreta recuperação, o crescimento do país em 2014 fique abaixo dos 1% - o governo fala em 0,9% e os analistas do mercado, em menos de 0,3%.
Lacerda diz que, entre os fatores que contribuíram para a saída da recessão técnica no terceiro trimestre, estão o aumento dos dias trabalhados (no trimestre anterior houve a Copa), a relativa melhora da economia americana e o câmbio desvalorizado, que facilitou as exportações.
O trimestre anterior, segundo ele, teria sido prejudicado pelas paralisações provocadas pela Copa e as incertezas ligadas às eleições, além da crise argentina e a estiagem.
Alexandre Chaia, economista e professor do Insper, concorda que a recessão técnica deve ter sido influenciada pelas eleições.
"Havia muita incerteza (entre investidores e empresários) e muitos investimentos represados por conta desse quadro eleitoral", diz.
Chaia acredita que parte desses investimentos represados devam contribuir para um desempenho melhor da economia em 2015, quando ao menos os investimentos internos passariam a ser impulsionados por obras de infraestrutura, novas concessões e expectativas de uma boa safra agrícola.
Ele vê dificuldades, porém, no que diz respeito ao investimento externo.
"Sobretudo se for aprovado o projeto de lei que altera a Lei de Diretrizes Orçamentárias autorizando o governo a descumprir a meta de superávit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública ) os estrangeiros devem ficar mais receosos de apostar na economia brasileira", diz.

Cortes
No médio prazo, os economistas dizem que também é preciso esperar para ver qual o impacto econômico dos cortes de gasto e ajuste monetário que a nova equipe econômica pretende fazer a partir de 2015.

Nas últimas semanas, o Ministério da Fazenda anunciou que o governo deve começar a reduzir os estímulos fiscais e monetários e o papel dos bancos públicos na economia nos próximos meses.
Nas palavras do ainda ministro Guido Mantega, o país estaria deixando uma fase de "políticas anticíclicas" para entrar em uma de "consolidação fiscal".
O futuro ministro Joaquim Levy, cuja nomeação foi anunciada nesta quinta-feira, confirmou que o ajuste será prioridade para que se possa chegar a um superávit de 1,2% em 2015 e 2% em 2016.
O governo espera que tais medidas provoquem um "choque de credibilidade" que estimule os investimentos. "Mas provavelmente 2015 ainda será um ano de ajuste, de pagar as contas. E só em 2016 teremos uma melhora nas perspectivas de crescimento", opina Ribeiro. (BBC Brasil)

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