A boa notícia é que dados do IBGE
confirmaram nesta sexta-feira que o Brasil saiu do que é definido como
recessão técnica no terceiro trimestre de 2014.
De acordo com o
instituto, o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu 0,1% no último
trimestre na comparação com o trimestre anterior. E de janeiro a
setembro, teve uma expansão de 0,2% frente ao mesmo período de 2013.
A
recessão técnica é definida por uma queda do PIB em dois trimestres
consecutivos - e no primeiro e segundo trimestres deste ano, houve
retração de 0,2% e 0,6% respectivamente.
A má notícia é que,
segundo analistas, os números também indicam que a retomada da
trajetória de crescimento será mais lenta do que se antecipava.
Na
média, analistas do mercado esperava uma alta de 0,2% neste trimestre. E
na comparação com o mesmo trimestre de 2013 o resultado também veio
pior que o esperado: houve uma retração de 0,2% quando se esperava queda
de 0,1%.
"O que os números mostram é que o segundo trimestre de
fato foi o fundo do poço da desaceleração da economia, mas a retomada
será mais lenta e complicada do se antecipava", diz a economista
Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências.
Ela explica que, na prática, se saiu de uma recessão técnica para um cenário de quase estagnação.
"Com
um resultado desses, é provável que revisemos nossa previsão para o
crescimento deste ano para zero, ou algo bem perto disso."
O
economista Antonio Correa de Lacerda, economista e professor doutor da
PUC-SP, diz que o ano que vem ainda será prejudicado pelos ajustes
fiscais, pela alta dos preços administrados (por exemplo, o da gasolina)
e dos juros.
"Mas, uma vez estabelecida essa nova base, podemos esperar crescimento em 2016", acredita.
Indústria
A
ligeira expansão do PIB no terceiro trimestre foi puxada pela
indústria, que cresceu 1,7% em relação ao trimestre anterior. "Houve uma
recuperação principalmente da construção civil e indústria extrativa",
diz Ribeiro.
Os serviços também tiveram alta de 0,5%, enquanto a
agropecuária, que vinha puxando o crescimento do país até agora, recuou
1,9%.
Os dados do IBGE também mostram que, de julho a setembro, o
consumo das famílias caiu 0,3%, enquanto os gastos públicos cresceram
1,3%, e o nível dos investimentos, também, no mesmo patamar de 1,3%.
A
expectativa ainda é a de que, mesmo com essa discreta recuperação, o
crescimento do país em 2014 fique abaixo dos 1% - o governo fala em 0,9%
e os analistas do mercado, em menos de 0,3%.
Lacerda diz que,
entre os fatores que contribuíram para a saída da recessão técnica no
terceiro trimestre, estão o aumento dos dias trabalhados (no trimestre
anterior houve a Copa), a relativa melhora da economia americana e o
câmbio desvalorizado, que facilitou as exportações.
O trimestre
anterior, segundo ele, teria sido prejudicado pelas paralisações
provocadas pela Copa e as incertezas ligadas às eleições, além da crise
argentina e a estiagem.
Alexandre Chaia, economista e professor do Insper, concorda que a recessão técnica deve ter sido influenciada pelas eleições.
"Havia muita incerteza (entre
investidores e empresários) e muitos investimentos represados por conta
desse quadro eleitoral", diz.
Chaia acredita que parte desses
investimentos represados devam contribuir para um desempenho melhor da
economia em 2015, quando ao menos os investimentos internos passariam a
ser impulsionados por obras de infraestrutura, novas concessões e
expectativas de uma boa safra agrícola.
Ele vê dificuldades, porém, no que diz respeito ao investimento externo.
"Sobretudo
se for aprovado o projeto de lei que altera a Lei de Diretrizes
Orçamentárias autorizando o governo a descumprir a meta de superávit
primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública ) os
estrangeiros devem ficar mais receosos de apostar na economia
brasileira", diz.
Cortes
No
médio prazo, os economistas dizem que também é preciso esperar para ver
qual o impacto econômico dos cortes de gasto e ajuste monetário que a
nova equipe econômica pretende fazer a partir de 2015.
Nas
últimas semanas, o Ministério da Fazenda anunciou que o governo deve
começar a reduzir os estímulos fiscais e monetários e o papel dos bancos
públicos na economia nos próximos meses.
Nas palavras do ainda
ministro Guido Mantega, o país estaria deixando uma fase de "políticas
anticíclicas" para entrar em uma de "consolidação fiscal".
O
futuro ministro Joaquim Levy, cuja nomeação foi anunciada nesta
quinta-feira, confirmou que o ajuste será prioridade para que se possa
chegar a um superávit de 1,2% em 2015 e 2% em 2016.
O governo
espera que tais medidas provoquem um "choque de credibilidade" que
estimule os investimentos. "Mas provavelmente 2015 ainda será um ano de
ajuste, de pagar as contas. E só em 2016 teremos uma melhora nas
perspectivas de crescimento", opina Ribeiro. (BBC Brasil)
Nenhum comentário:
Postar um comentário