Trata-se do herbicida Roundup, à base de glifosato,
principal ingrediente ativo de diversos pesticidas usados em plantações e
jardins.
No mês passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) propôs manter liberada a venda de glifosato no Brasil, já que não haveria evidências científicas de que a substância cause câncer, mutações ou má formação em fetos.
O
grupo alemão Bayer, que comprou a Monsanto, fabricante do produto,
rejeitou fortemente as acusações de que a substância seja cancerígena.
Mas o júri decidiu por unanimidade que o pesticida contribuiu
para o linfoma não Hodgkin (LNH) de Edwin Hardeman, de 70 anos, que vive
na Califórnia.
A próxima etapa do julgamento vai considerar a responsabilidade e os danos causados pela Bayer.
Durante
a segunda fase, que começa nesta quarta-feira, espera-se que os
advogados de Hardeman apresentem evidências mostrando os supostos
esforços da Bayer para influenciar cientistas, agências reguladoras e a
opinião pública sobre a segurança de seus produtos.
O grupo
alemão, que adquiriu o Roundup como parte da aquisição da concorrente
americana Monsanto por US$ 66 bilhões, disse que ficou desapontada com a
decisão inicial do júri.
"Estamos confiantes de que as evidências
na segunda fase vão mostrar que a conduta da Monsanto foi apropriada e
que a empresa não deve ser responsabilizada pelo câncer de Hardeman",
declarou a empresa.
A Bayer continua "a acreditar firmemente que a ciência confirma que os herbicidas à base de glifosato não causam câncer".
Este é o segundo processo de cerca de 11,2 mil ações judiciais contra o Roundup a ir a julgamento nos EUA.
Em agosto do ano passado, a Monsanto foi condenada em primeira instância pela Justiça americana
a pagar US$ 289 milhões (R$ 1,1 bilhão) a um homem com câncer - ele
alegava que a doença foi causada por herbicidas da empresa, como o
Roundup.
As ações da Bayer despencaram na época.
A indenização foi posteriormente reduzida para US$ 78 milhões e está em fase de recurso.
Uso frequente
A Bayer argumenta que décadas de estudos e avaliações regulatórias mostraram que o agrotóxico é seguro para uso humano.
Hardeman
usou o herbicida com regularidade de 1980 a 2012 em sua propriedade em
Sonoma County, na Califórnia, e acabou sendo diagnosticado com linfoma
não Hodgkin, que tem origem nas células do sistema linfático.
Seus
advogados, Aimee Wagstaff e Jennifer Moore, afirmaram em comunicado
conjunto que seu cliente estava "satisfeito" com a decisão.
"Agora
podemos nos concentrar nas evidências de que a Monsanto não adotou uma
abordagem objetiva e responsável para a segurança do Roundup",
acrescentaram.
"Em vez disso, fica claro pelas ações da Monsanto
que a empresa não se importa particularmente se seu produto está, de
fato, causando câncer às pessoas, e em contrapartida se concentra em
manipular a opinião pública e enfraquecer quem levanta preocupações
genuínas e legítimas sobre a questão."
Outro julgamento envolvendo
o Roundup está marcado para começar no dia 28 de março no tribunal
estadual de Oakland, também na Califórnia - um casal com linfoma não
Hodgkin afirma que a doença foi causada pelo pesticida.
O que é glifosato?
O
glifosato foi introduzido pela Monsanto em 1974, mas sua patente
expirou em 2000, e agora o produto químico é vendido por vários
fabricantes. Nos EUA, mais de 750 produtos contêm a substância.
Em
2015, a Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer, da
Organização Mundial de Saúde (OMS), concluiu que o glifosato era
"provavelmente cancerígeno para humanos".
No entanto, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA insiste que é seguro quando usado com cuidado.
A
Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA, na sigla em inglês)
também afirma que é improvável que o glifosato cause câncer em humanos.
Em
novembro de 2017, os países da União Europeia votaram para a renovação
da licença do glifosato, apesar das campanhas contra a substância. (BBCBrasil)
Nenhum comentário:
Postar um comentário