domingo, 1 de novembro de 2020

Histórias da Princesa

 Cultura Popular perdeu muitas das suas antigas expressões

Feira de Santana nasceu de comercio de gado, de uma feira-livre que se formou nos arredores da fazenda Santana dos Olhos D’Água, de propriedade do casal Domingos Barbosa de Araújo e Ana Brandoa, onde pousavam vaqueiros que traziam rebanhos bovinos para o mercado de Salvador. A sua cultura se formou em torno disso, tendo como expressões originais o vaqueiro encourado e seu inseparável cavalo, o artesanato de couro, comidas típicas, como a rabada, o mocotó, o fato, churrasco e o tradicional feijão com arroz, e os aboios, toadas e samba de roda.

         A Festa de Santana (padroeira), a Micareta e os festejos juninos eram as festas máximas da cidade. Com a extinção da parte profana da Festa de Santana nos anos 80, desapareceram expressões da cultura popular feirense Como a Lavagem da Igreja, a Levagem da Lenha e o Bando Anunciador, onde o povo realizava manifestações espontâneas de alegria, protesto e religiosidade.

A Micareta e o São João continuam sendo as maiores festas da cidade, mas totalmente descaracterizadas, sem a presença das antigas expressões da cultura popular, como os mascarados, os bailes de salão e o desfile de fantasias, na Micareta, e as visitas às casas dos vizinhos para tomar um licor, comer amendoim, bolo, canjica e milho assado, sempre perguntando aos donos da casa: “São João Passou por aí”?

Hoje já se diz que Feira de Santana está se transformando num subúrbio de Salvador. Quanto mais se aproxima, se liga à cultura soteropolitana, a cidade perde um pouco das suas características, de sua identidade. O vaqueiro não está mais correndo montado em seu cavalo (agora é moto) não mais o chapéu de couro, mas o boné de marca. Não tem mais o jaleco de couro, descaracterizando esse personagem indispensável para a representação da cultura feirense.

Os governantes, de um modo geral, parecem não ter noção ou se importar com a cultura local, A Secretaria de Cultura, que ainda engloba Esporte e Lazer, não se articulada com a de Educação, para formar um público, mostrar quais são as manifestações culturais mais autênticas, (mesmo incorporando novas), para prestigiar os artistas locais. Mas a criação de uma específica Secretaria Municipal de Cultura, articulada com a Secretaria Municipal de Educação, não consta dos planos dos governantes. Uma solução alternativa seria a criação de cooperativas de produtores culturais, mas o espírito de associativismo não é comum no Brasil. E em Feira de Santana não é diferente.

 Novas manifestações

Se por um lado a cidade perdeu muitas das suas originais expressões de Cultura Popular, outras foram surgindo ao longo do tempo e, inclusive, uma delas foi resgatada, o Bando Anunciador da Festa de Santana. Surgiram ainda a Caminhada do Folclore e o desfile Escola na Avenida, eventos que envolveram não só a Cultura Popular de Feira como também de municípios vizinhos. O Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA), órgão da Universidade Estadual de Feira de Santana, assumindo verdadeiramente o papel de centro produtor e promotor de Cultura e Arte, quando tomou iniciativas que promovem e resgatam os melhores valores culturais da cidade. Em 2007, resgatou o tradicional Bando Anunciador da Festa de Santana.

         No domingo anterior ao Dia da Padroeira, que ocorre a 26 de agosto, bandos formados em diversos bairros da cidade se dirigem para a sede do Cuca, na rua Conselheiro Franco, próximo à Catedral de Santana, levando música e alegria por onde passam, com seu cortejo de carroças enfeitadas, carros antigos, gente fantasiada, mascarados, para sair em desfie pelas ruas do centro da cidade anunciando que é chagado o dia de louvar a Padroeira da Cidade, Senhora Santana.

         A Caminhada do Folclore foi organizada pelo Cuca, reunindo grupos folclóricos da cidade e de municípios vizinhos, para desfilar pelo centro da cidade mostrando a sua arte popular. Violeiros, sanfoneiros, músicos e artistas de toda espécie, num desfile multicolorido, animados ao ritmo do samba de roda e do forró, percorriam a Avenida Getúlio Vargas. Já no movimento Escola na Avenida, promovido pela Prefeitura Municipal, através da Secretaria de Educação, as escolas da rede municipal de ensino desfilavam com seus alunos em grupos para desenvolver um trabalho sobre um determinado tema extraído da história de Feira de Santana e os elementos que marcam sua cultura, mostrado durante o desfile no dia 18 de setembro, Dia da Cidade.

         Mas, se a cidade ganhou, também perdeu. Porque tanto a Caminhada do Folclore quanto a Escola na Avenida já não acontecem há cerca de dois anos, numa prova inequívoca da má vontade e descaso dos governantes para com a Educação, Cultura e Arte

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