terça-feira, 10 de abril de 2012

O que somos e quem somos

Ouvi Alexandre Garcia criticando pessoas que comem com os cotovelos apoiados na mesa, seguram pão com as mãos e arrancam pedaços com os dentes, enfim, ferindo regras de etiqueta. Mas, o que é mesmo etiqueta? O que são bons modos à mesa? É mesmo necessário disfarçarmos a nossa real natureza só para agradar aos outros? Devo me vestir, caminhar, falar e comer de uma forma estereotipada para satisfazer às expectativas dos meus semelhantes?

            As sociedades criam regras de comportamento de acordo com seus usos e costumes, impondo aos seus membros a obediência de tais regras como condição “sine qua non” para que sejam aceitos no seu meio. E disso se aproveita o capitalismo para criar objetos e serviços que aparecem na mídia como algo de grande necessidade, usando frases do tipo: “Você não pode passar sem isso”; “Você já tem um”?; “Corra, não perca esta oportunidade”!.

            Isso cria nas pessoas mais simplórias (a maioria), o desejo incontrolável de obter aquele bem ou serviço como se fosse algo imprescindível à sua existência. Volto a perguntar: Porque devo me comportar de forma contrária à minha natureza, apenas para agradar e atender às expectativas das pessoas à minha volta? Regras de conduta não são iguais em todas as sociedades, o que demonstra que seres humanos, enquanto indivíduos ou grupos de indivíduos, são bem diferentes entre si.

            Aqui, é indelicado arrotar à mesa após a refeição. Em alguns países do Oriente é indelicado não arrotar. Muitos indígenas ainda andam nus, nós nos vestimos. Em muitas culturas a morte é celebrada com alegria e música, aqui é com tristeza e choro. Baianos comem vatapá, mineiros, leitão à pururuca, gaúchos churrasco, e paraenses tacaca. E daí? Li até sobre lugares onde é indelicado o visitante recusar-se a se deitar com a mulher do anfitrião. Quem está certo, afinal? Todos, respondo eu.

            Alexandre Garcia está acostumado a ambientes refinados, luxuosos, isso faz parte do meio em que ele vive. Eu prefiro o botequim da esquina. Muitos amigos meus vestem-se com roupas de marca, eu uso roupas que me agradem, que sejam confortáveis, sejam de marca ou não. Há mulheres que gostam de carregar na maquiagem, outras sequer precisam disso. Há uma variedade imensa de perfumes, mas a gente usa aqueles que nos agradam mais.

            Gosto das pessoas como elas são, mesmo reconhecendo seus defeitos, mesmo não concordando com seus hábitos e costumes, respeitando suas crenças, raças, sexualidades e posições sociais. Porém não imponho meus conceitos e opiniões, nem aceito que me imponham nada. Desde criança aprendi a fazer só o que quero, e defendo esse direito para qualquer semelhante, porque entendo que somos parecidos, mas não somos iguais.

Um comentário:

Adalto Oliveira disse...

Companheiro aqui no Brasil quando você vê uma pessoa etiquetada por mais da conta, é sinal que está copiando de alguém, mesmo porque excesso de xibiotágem não é e nunca foi nossa cultura, fazendo minhas as suas palavras a nossa cultura é a da barraquinha de "foia", ou no máximo um restaurante modesto de quando em vez, mesmo assim é pouco comum porque bares e restaurantes mais sofisticados é um privilégio de poucos. Quanto ao falastrão do Alexandre Garcia, por hoje ostentar uma posição privilégiada no meio social, talvez quem sabe tenha esquecido ou omitido que um dia já fizera parte do povo, ou então até pode ter sido filho de alguma mãe liberada e teve na sua infância um tratamento especial junto a burguesia, e em função disso tornou-se essa pessoa cheia de complexo quanto a falta de etiqueta. Sinto muito por ele coitado.