quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O grito da terra



        
A cidade cresce. O que era subúrbio se torna bairro, o que era povoado se torna distrito, distritos também se tornam bairros ou se emancipam, tornando-se municípios independentes. Não se pode conter o progresso. Mas isso tem um preço. Estas mudanças podem ser dolorosas ou não. Depende de quem conduz o processo, porque há muitos interesses envolvidos, mexe com a vida de muita gente. E toda mudança, mesmo para melhor, assusta e incomoda.
         O governo municipal quer, de uma canetada só, elevar à categoria de bairro, seis áreas ainda consideradas como “zona rural”. A bem da verdade, algumas com justa razão, outras, nem tanto. Há controvérsias. E é aí    que está o “X” da questão, porque moradores destas localidades estão protestando contra a medida, tomada de cima para baixo, sem consulta-los, e com todo direito querem se fazer ouvidos, porque são cidadãos que votam e elegem governantes, e deles têm todo direito de cobrar satisfações.
         Os dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais reconhecem que não se pode conter o progresso, e tudo que cobram do governo é uma audiência para que sejam ouvidos nas suas reclamações e argumentos, e quiçá possam receber alguma garantia de que não perderão direitos adquiridos como, por exemplo, aposentadoria como trabalhadores rurais que o são.
         O governo alega falta de agenda, mas promete receber uma comissão de trabalhadores/moradores, num dia de semana, às 18 horas, no Paço Municipal. Se é uma piada, é de mau gosto. Convocar trabalhadores da zona rural para vir ou centro da cidade no final do dia, na hora do “rush”, sujeitos a voltar para casa sabe-se lá que horas da noite, de ônibus, só pode ser piada e de muito mau gosto. Trabalhador rural dorme cedo e acorda cedo, e não vai achar transporte para a zona rural à noite. E mesmo que seja de veículo particular, ainda há o risco de assaltos.
         O que me intriga nessa estória é que o prefeito José Ronaldo sempre demonstrou muito carinho pela zona rural, e também não promove mudanças radicais sem observar as sequelas, os efeitos colaterais que possa causar a quem trabalha e produz. Não é do seu feitio. Ele sempre foi muito sensato e cordato quanto a isso.
         Porém, desde o início desse seu novo governo, eu tenho notado que alguma coisa mudou nele. Há algo que o incomoda e entristece. Basta ouvi-lo falando, observar seu olhar e suas atitudes que se pode ver claramente que algo não vai bem com ele. Não arrisco um palpite, porque não tenho convivência suficiente com ele no dia a dia para observar melhor o que acontece. Porém, afirmo, não é o mesmo Ronaldo de antes.
         Mas ele precisa estar atento a um fato. Não há mais caipiras no campo. O trabalhador rural é hoje um homem bem informado e consciente dos seus direitos. Pode até ceder diante da força do poder, mas sabe que tem a força do voto. E quer ser ouvido. Ouçam-nos, pois!

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