segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Reencarnante de uma cidade “tão, tão distante”




Conta uma certa fábula que um andarilho, ao pernoitar num casebre humilde, à beira de um aterro sanitário, o famoso lixão da cidade, foi o palco dessa narrativa.
Após uma quase indigesta refeição, inicia-se a conversa sobre a competência de Deus quanto a sua administração no destino e vida de seus filhos. A história começa bastante acalorada.
Para acalmar os ânimos, o andarilho narra uma história que aconteceu há muito tempo, numa cidade “Tão, tão distante”, pra lá do reino de Shrek.
Um policial daquela cidade, valendo-se da força e proteção que sua corporação lhe conferia, assume o papel de autoridade.
O justiceiro adentra um casarão e, tentando se fazer temido e respeitado esbraveja, “a casa caiu”. Ouve-se alguns estampidos de arma de fogo. Um silêncio estarrecedor volta a reinar no ambiente e todos olham estupefatos um corpo estendido no chão.
A vítima não estava armada e nem se encontrou nada do que estava sendo procurado.
Essas coisas acontecem nas melhores famílias – o andarilho continuou sua narrativa.
- Contam alguns espíritos, através de médiuns, que tal fato ocorreu num tempo tão distante que os protagonistas dessa história já estão vivendo uma nova experiência reencarnatória na terra.
O justiceiro fardado era de família abastada financeiramente e de projeção social. Hoje ele experimenta uma vivência entre pessoas humildes onde a bandeira da carência tremula sombreando a soleira de sua residência.
Claro que, na espiritualidade, os ministérios das reencarnações tentaram lhe preparar para sua nova missão terrena. Eles não puderam direcionar seu renascimento para o seu grupo familiar de orígem, pois as afinidades reencarnatórias não lhes eram compatíveis.
A família que mais se relacionou com seus desequilíbrios kármicos foi justamente a envolvida nesse episódio. A família da vítima.
O ministério das reencarnações deixou três opções ao seu livre arbítrio.
A primeira opção é aprender amar e praticar a tolerância. Mesmo repudiando deslizes sociais, não é preciso usar artifícios extremos de correção. É com essa proposta que existem pais e irmãos.
A segunda opção é proposital. O reencarnante pode provocar seu irmão, a vítima, a lhe aplicar uma situação semelhante. È aquela velha história do equilíbrio do karma, “Aqui se faz, aqui se paga”.
E finalmente, a terceira opção que também é facultativa.
O reencarnante pode, simplesmente, criar mecanismos para compensar sua vítima à altura do desatino e dor provocado outrora.
O andarilho dirigindo o olhar para dois garotos, dois irmãos que estavam a sua frente, perguntou:
- Qual a opção que vocês escolheriam?
O garoto mais velho que a tudo ouvia, falou: “se fosse comigo eu ficaria com a terceira opção”.
Já o mais moço, completou: “Eu não acredito em nada disso”.
Sábias respostas, falou o andarilho. Se pudéssemos retroceder uma encarnação talvez a explicação mais razoável seria: o que não é lembrado não pode ser revivido.  
Conrado Dantas

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