Conta uma certa fábula que um
andarilho, ao pernoitar num casebre humilde, à beira de um aterro sanitário, o
famoso lixão da cidade, foi o palco dessa narrativa.
Após uma quase indigesta
refeição, inicia-se a conversa sobre a competência de Deus quanto a sua administração
no destino e vida de seus filhos. A história começa bastante acalorada.
Para acalmar os ânimos, o
andarilho narra uma história que aconteceu há muito tempo, numa cidade “Tão,
tão distante”, pra lá do reino de Shrek.
Um policial daquela cidade,
valendo-se da força e proteção que sua corporação lhe conferia, assume o papel de
autoridade.
O justiceiro adentra um casarão
e, tentando se fazer temido e respeitado esbraveja, “a casa caiu”. Ouve-se alguns
estampidos de arma de fogo. Um silêncio estarrecedor volta a reinar no ambiente
e todos olham estupefatos um corpo estendido no chão.
A vítima não estava armada e nem
se encontrou nada do que estava sendo procurado.
Essas coisas acontecem nas
melhores famílias – o andarilho continuou sua narrativa.
- Contam alguns espíritos, através
de médiuns, que tal fato ocorreu num tempo tão distante que os protagonistas
dessa história já estão vivendo uma nova experiência reencarnatória na terra.
O justiceiro fardado era de família
abastada financeiramente e de projeção social. Hoje ele experimenta uma vivência
entre pessoas humildes onde a bandeira da carência tremula sombreando a soleira
de sua residência.
Claro que, na espiritualidade,
os ministérios das reencarnações tentaram lhe preparar para sua nova missão
terrena. Eles não puderam direcionar seu renascimento para o seu grupo familiar
de orígem, pois as afinidades reencarnatórias não lhes eram compatíveis.
A família que mais se relacionou
com seus desequilíbrios kármicos foi justamente a envolvida nesse episódio. A
família da vítima.
O ministério das reencarnações deixou
três opções ao seu livre arbítrio.
A primeira opção é aprender
amar e praticar a tolerância. Mesmo repudiando deslizes sociais, não é preciso
usar artifícios extremos de correção. É com essa proposta que existem pais e
irmãos.
A segunda opção é proposital. O
reencarnante pode provocar seu irmão, a vítima, a lhe aplicar uma situação
semelhante. È aquela velha história do equilíbrio do karma, “Aqui se faz, aqui
se paga”.
E finalmente, a terceira opção
que também é facultativa.
O reencarnante pode, simplesmente,
criar mecanismos para compensar sua vítima à altura do desatino e dor provocado
outrora.
O andarilho dirigindo o olhar para
dois garotos, dois irmãos que estavam a sua frente, perguntou:
- Qual a opção que vocês
escolheriam?
O garoto mais velho que a tudo
ouvia, falou: “se fosse comigo eu ficaria com a terceira opção”.
Já o mais moço, completou: “Eu
não acredito em nada disso”.
Sábias respostas, falou o
andarilho. Se pudéssemos retroceder uma encarnação talvez a explicação mais
razoável seria: o que não é lembrado não pode ser revivido.
Conrado Dantas
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