Cesar Oliveira
Longe de mim debater o axé - que pode ser feito em várias vertentes- ou
o carnaval em si, já que se misturam. Uma verdade, no entanto, é que do
início- marcado, se preferirem, por Luiz Caldas e Paulinho Camafeu com o
Fricote- sobre a fama e história criada por Dodo&Osmar, Armandinho,
Moraes, etc, até explodir nacionalmente com Daniela, foi ele que pela
primeira vez, mudou o fluxo da cobertura de TV e migração de artistas do
eixo Rio-São Paulo pra Bahia. A participação popular aqui, extensa e
livre acentuava o contraste com o espetáculo televisivo fenomenal que é o
carnaval das escolas de samba, mas limitado em inclusão de pessoas.
O fenômeno comercial do axé atuou para o bem e para o mal. O carnaval
local foi industrializando sua música, produzindo degenerescências
rítmicas e foi encastelando-se, camarotizando-se, tentando ser um
espetáculo exibível, cênico. Este relativo isolamento foi acompanhando
um período de administrações desastrosas na cidade, favorecendo o apelo
comercial, reduzindo a criatividade oriunda desta Bahia espetacularmente
musical - muito negra- e resultando, em análise ligeira, na tão falada
crise do axé, com a separação de Chiclete, Jamil, Asa, e mesmo um queda
musical na estrela maior, Ivete, que está longe de sucessos do passado.
Mais do que crise, acho que a queda destes artistas é natural, afinal,
são 30 anos de produção musical e os ciclos de criatividade são finitos.
O que devemos observar é se há o surgimento de novos artistas que
possam ocupar este espaço, renovar o cenário, criar no padrão da perene
Raiz de Todo Bem, de Saulo. Se não detectarmos esta existência e
ficarmos presos e dependentes dos velhos ídolos, aí sim, teremos uma
crise anunciada.
Por outro lado, sofrendo o impacto do carnaval
de Salvador, Rio e São Paulo, resgataram o adormecido carnaval de rua,
e, blocos sem corda, como o Cordão da Bola Preta ( minimo de 1 milhão de
pessoas) , Sargento Pimenta ( 180 mil), Bangalafumenga, entre outros e
recolocaram a festa para participação popular. Em mecanismo inverso de
pressão creio haver uma nítida necessidade do carnaval de Salvador
voltar as ruas. Alguns blocos descem as cordas, algumas estrelas
desfilam para o pipoca e uma administração mais organizada na cidade
tenta realinhar o carnaval. Não é a toa que Mano Goes ( Jamil) acaba de
dizer que o bloco de cordas acabou e Saulo declara que " é preciso
devolver as ruas, porque as ruas sempre deram mais que receberam" .
Evidente que não deve ter agradado muito os comerciantes, mas a
necessidade é imperiosa para que o incomparável carnaval da Bahia não
seja vencido pela comercialização excessiva, encontre maneiras de
financiamento, retome a dianteira da festa e liberte a latente
criatividade musical tipica desta terra.
Axé...
Nenhum comentário:
Postar um comentário