terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Axé, crise, carnaval de rua, e matar o tempo...

Cesar Oliveira

Longe de mim debater o axé - que pode ser feito em várias vertentes- ou o carnaval em si, já que se misturam. Uma verdade, no entanto, é que do início- marcado, se preferirem, por Luiz Caldas e Paulinho Camafeu com o Fricote- sobre a fama e história criada por Dodo&Osmar, Armandinho, Moraes, etc, até explodir nacionalmente com Daniela, foi ele que pela primeira vez, mudou o fluxo da cobertura de TV e migração de artistas do eixo Rio-São Paulo pra Bahia. A participação popular aqui, extensa e livre acentuava o contraste com o espetáculo televisivo fenomenal que é o carnaval das escolas de samba, mas limitado em inclusão de pessoas.
O fenômeno comercial do axé atuou para o bem e para o mal. O carnaval local foi industrializando sua música, produzindo degenerescências rítmicas e foi encastelando-se, camarotizando-se, tentando ser um espetáculo exibível, cênico. Este relativo isolamento foi acompanhando um período de administrações desastrosas na cidade, favorecendo o apelo comercial, reduzindo a criatividade oriunda desta Bahia espetacularmente musical - muito negra- e resultando, em análise ligeira, na tão falada crise do axé, com a separação de Chiclete, Jamil, Asa, e mesmo um queda musical na estrela maior, Ivete, que está longe de sucessos do passado. Mais do que crise, acho que a queda destes artistas é natural, afinal, são 30 anos de produção musical e os ciclos de criatividade são finitos. O que devemos observar é se há o surgimento de novos artistas que possam ocupar este espaço, renovar o cenário, criar no padrão da perene Raiz de Todo Bem, de Saulo. Se não detectarmos esta existência e ficarmos presos e dependentes dos velhos ídolos, aí sim, teremos uma crise anunciada.
Por outro lado, sofrendo o impacto do carnaval de Salvador, Rio e São Paulo, resgataram o adormecido carnaval de rua, e, blocos sem corda, como o Cordão da Bola Preta ( minimo de 1 milhão de pessoas) , Sargento Pimenta ( 180 mil), Bangalafumenga, entre outros e recolocaram a festa para participação popular. Em mecanismo inverso de pressão creio haver uma nítida necessidade do carnaval de Salvador voltar as ruas. Alguns blocos descem as cordas, algumas estrelas desfilam para o pipoca e uma administração mais organizada na cidade tenta realinhar o carnaval. Não é a toa que Mano Goes ( Jamil) acaba de dizer que o bloco de cordas acabou e Saulo declara que " é preciso devolver as ruas, porque as ruas sempre deram mais que receberam" .
Evidente que não deve ter agradado muito os comerciantes, mas a necessidade é imperiosa para que o incomparável carnaval da Bahia não seja vencido pela comercialização excessiva, encontre maneiras de financiamento, retome a dianteira da festa e liberte a latente criatividade musical tipica desta terra.
Axé...

Nenhum comentário: