Reforma Política
Entregar
nossas melhores esperanças a Eduardo Cunha, na Câmara, é como pedir ao elefante
que atravesse o rio cheio dando carona ao escorpião nas suas costas,
acreditando que não será mordido. Mas até agora sua ação tem contribuído pra
reativar o papel do Congresso no cenário político. A sua disposição de
encaminhar um projeto de reforma política é salutar, pois o sistema no modelo
que está é intragável, inviável e insuportável. Até porque, não custa lembrar
que o dinheiro público é “tudo nosso, nada deles”.
A ressaca
Conta
de luz da indústria vai subir 53%. A previsão do PIB é menos 0,42%, a inflação
será de 7,2%, litro de gasolina mais de R$4 reais na Bahia. Se não
entendeu, tente o saldo de sua conta.
O carnaval na Bahia
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Camarotes e foliões na rua, no Campo Grande
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Longe de mim a pretensão de debater o axé
- o que pode ser feito em várias vertentes, por especialistas - ou o carnaval
em si, já que são meio e fim, um do outro. Pontuo apenas uma questão. Com
início marcado, se preferirem, por Luiz Caldas e Paulinho Camafeu, com o
Fricote, sobre o trio e fama criada por Dodô&Osmar, Armandinho, Moraes,
etc, o axé explodiu nacionalmente com Daniela (O Canto da Cidade), sendo o
responsável por mudar o fluxo da cobertura de TV e migração de artistas do eixo
Rio-São Paulo pra Bahia. A participação popular aqui, extensa e livre,
acentuava o contraste com o espetáculo televisivo fantástico que é o carnaval
das escolas de samba, limitado, porém, na inclusão de pessoas.
O fenômeno comercial do axé/carnaval atuou
para o bem e o mal. Atraiu multidões, mas à medida que foi industrializando sua
música, produziu degenerescências rítmicas, descartáveis, foi encastelando-se,
camarotizando-se, tentando ser um espetáculo exibível, cênico. Este progressivo
isolamento foi acompanhando um período de administrações desastrosas em
Salvador, favorecendo a ação comercial, reduzindo os espaços para incorporação
do folião sem bloco e a criatividade oriunda desta Bahia espetacularmente
musical - muito negra - e resultando, em análise ligeira, na tão falada crise
do axé, com a separação de Chiclete, Jamil, Asa, e redução do protagonismo
musical (Olodum, Araketu, Gerônimo, etc) até da estrela maior, Ivete, que está
longe de sucessos do passado.
Mais do que crise, acho, no entanto, que a
queda destes artistas é natural, afinal, são 30 anos de atuação musical e os
ciclos de criatividade são finitos. O que devemos observar é se há o surgimento
de novos artistas que possam ocupar este espaço, com mais energia, renovando o
cenário, criando no padrão da perene Raiz de Todo Bem, de Saulo. Se não
detectarmos esta existência, se não viabilizarmos este espaço, e ficarmos
presos e dependentes dos velhos ídolos, aí sim, teremos uma crise anunciada e
fatal.
Por
outro lado, sofrendo o impacto do carnaval de Salvador, Rio e São Paulo,
resgataram seu adormecido carnaval de rua. Blocos sem corda, como o Cordão da
Bola Preta (mínimo de 1 milhão de pessoas), Sargento Pimenta (180 mil),
Bangalafumenga, entre outros, recolocaram a festa para participação popular em
um crescimento explosivo.
Em mecanismo inverso de pressão creio que
haverá uma nítida necessidade do carnaval de Salvador voltar às ruas. Alguns
blocos desceram as cordas, várias estrelas desfilaram para o pipoca e uma
administração mais organizada na cidade tenta realinhar o carnaval, embora
ainda pareça pouco. Não é a toa que Mano Goes (Alavonté) acaba de dizer que o
bloco de cordas acabou e Saulo declara que “é preciso devolver as ruas, porque
as ruas sempre deram mais que receberam”.
A mudança, certamente, não deve agradar
muito os puramente comerciantes, mas a necessidade é imperiosa para que a
alegria do incomparável carnaval da Bahia - e seu axé, ou sucessor - não seja
vencida pela comercialização excessiva, que gera um pacto de mediocridade,
ainda que lucrativo. É preciso rever as maneiras de financiamento, de viabilização
comercial, sim, inclusive com blocos e camarotes, mas nunca mais na dimensão e
centralidade que tiveram, para que a festa se liberte e a criatividade musical
tão evidente, desta terra, reapareça. Axé.
Carnaval e política
Com
perfeito “feeling” político, ACM Neto marcou uma dentro ao botar Igor Kanário
nas ruas. Gostos à parte, faturou com o povão.
Carnavalescos
Neto
foi até o chão, no arrocha da sensual Aline Rosa; Ronaldo quase, ao som da
Muriçoca. Os vídeos deram o que falar e o povo adora.
Ministro
da Justiça que não parece
Diz
o aforismo que à mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta.
Após negativas o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reconheceu que
recebeu advogados dos empreiteiros presos na Lava Jato.
O
presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Marcus Vinícius Coêlho,
defendeu, esta semana, os “direitos e prerrogativas” de advogados serem
recebidos pelo ministro da Justiça, mas ponderou que a audiência precisa ser
“transparente” e “pública”. Receber advogados, no mínimo, é uma obrigação
de Cardozo, afinal é um servidor público. O que não é concebível é o ministro
combinar linha de defesa de réus ou desestimular acordos de delação premiada -
o que não deixa de ser obstrução da justiça -, porque, segundo ele, a operação
Lava Jato iria mudar seu rumo.
Ao
fazer isto, perde o referencial moral para continuar à frente do ministério,
porque com o que fez, ele já não é, nem parece.
(Publicado no Tribuna Feirense)
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