O décimo
sultão do Império Otomano tinha um harém, como todo bom sultão. Conhecido como
Solimão, o Magnífico, ele quebrou convenções sociais ao tornar sua concubina
favorita sua esposa oficial e principal. Aleksandra Lisowksa era, além de tudo,
estrangeira – você talvez a conheça por seus outros três nomes, Roxelana,
Khourrem ou Hürrem.
Ela ficou
famosa por instigar disputas políticas entre os assessores do rei. E, naquela
cultura, ninguém saía do cargo demitido – só assassinado mesmo. A primeira
morte relacionada com Roxelana foi a do assessor Ibrahim, que o sultão
substituiu por Rustem, opção que teria sido influenciada pela esposa.
Só que a
coisa degringolou depois desse casamento impulsivo: Mustafa, o primogênito e
herdeiro do sultão, não era filho de Roxelana. Ele e Rustem foram para a guerra
contra a Pérsia – e de lá, Rustem mandou vir boatos de que o exército ansiava
pelo momento em que Mustafa virasse sultão, porque Solimão não tinha mais idade
para liderá-los.
Com medo de
ser usurpado pelo próprio filho, Solimão pediu que ele voltasse e se
apresentasse para se defender contra as “falsas acusações”. Mustafa voltou e
acabou estrangulado por encomenda paterna.
Justiça seja
feita à Roxelana: na época, não existia política de sucessão no Império. Se um
dos filhos (geralmente o primogênito) subia ao trono, os irmãos eram
estrangulados – qual outro jeito para evitar disputas, não é?
Roxelana só
estava querendo proteger seus três filhos. Não deu muito certo: o mais velho,
de saúde frágil, morreu logo depois do assassinato do meio irmão (a tradição
afirma que foi de desgosto). Os sobreviventes, Selim e Bayezid, disputaram o
trono até um ordenar a morte da família inteira do outro.
2. A vingança da esposa (e do amante)
Um dos
grandes piratas a invadir os mares chineses entre o século 18 e o 19, Cheng I
tinha um relacionamento amoroso com um de seus comandados, Cheung Po Tsai. Sem
poder se casar com ele, pediu em casamento Shi Xianggu. Ela era prostituta e
especialista em intriga política, graças aos segredos que adquiria com clientes
importantes. Enquanto isso, Cheng adotou Cheung Po Tsai como filho e tornou-o
líder da sua frota.
Shi Xianggu,
que ficou conhecida como Madame Ching, se aproximou do enteado e de todos os
marinheiros do marido. Juntos, eles conseguiram recrutar cerca de 150 mil
piratas para o seu grupo.
Pouco depois,
Cheng morreu, afogado em circunstâncias muito suspeitas. Foi o timing
ideal para que Madame Ching assumisse seu lugar e dominasse a pirataria do
Pacífico. Sabendo que precisava de uma figura masculina ao seu lado, se tornou
o amante (e depois esposa) do enteado, Cheung Po Tsai.
Em poucos
anos, a dupla começou a perder controle da frota. Fizeram um acordo com o
imperador chinês e foram perdoados pela pirataria. A Madame continuou
contrabandeando ópio e trabalhando no meio. Já Cheung Po virou a casaca: passou
a perseguir e destruir todos os bandos piratas e contrabandistas que encontrou
pela frente (mas também morreu jovem, em circunstâncias desconhecidas).
3. A sedução assassina
John Hinckley
não tinha as ideias no lugar. Especialistas até hoje não chegaram a um consenso
sobre seu diagnóstico, mas suas atitudes se encaixavam na erotomania, o
desejo sexual e romântico obsessivo por alguém inacessível – e a certeza de que
esse desejo é correspondido.
Tudo começou
quando Hinckley assistiu Taxi Driver, filme estrelado por Robert De
Niro. Jodie Foster, com apenas 14 anos, interpretava uma prostituta menor de
idade.
Hinckley ficou obcecado pela atriz. Quando ela foi
fazer faculdade em Yale, ele caminhava perto do campus – e chegou a ligar para
ela várias vezes. Mas, já que ela não pareceu se interessar muito por ele,
surgiu sua grande eureka. Jodie só se atrairia por alguém em pé de
igualdade. Então, Hinckley resolveu entrar para a história. Como? Assassinando
o presidente dos EUA, é claro.
Ele tentou
com Jimmy Carter, mas foi detido. Finalmente chegou às vias de fato em 1981,
atirando em Ronald Reagan, recém eleito. Deu errado: Reagan sobreviveu,
Hinckley foi preso e internado por mais de 30 anos, ainda que tenha sido
julgado inocente por insanidade. Mesmo no hospital psiquiátrico, ele conseguiu
contrabandear material sobre sua paixão.
Com tudo
isso, Hinckley ainda ficou decepcionado pela falta de reciprocidade de Jodie
depois do que ele chamou de “maior demonstração de amor da história do mundo”.
Nem que Hinckley fosse são e equilibrado ia adiantar: anos depois, Jodie Foster
assumiu que é lésbica.
4. O alpinista político
O polonês
Stanislaw Poniatowsk foi escolhido como rei da Polônia em uma época em que a
política daquele local elegia seus reis, ao invés do trono ser herdado por
dinastias a fio. Pode parecer muito civilizado, mas a Polônia era um dos reinos
mais frágeis do século 16 e suas terras eram disputadas pela Rússia e pela
Prússia, do que derivou a Alemanha.
Poniatowsk
passou a maior parte da vida em São Petesburgo. Lá, conheceu uma nobre que
viria a se tornar a imperatriz Catarina II – e foi seu amante desde os 23 anos.
Ele tentou tirar vantagem do relacionamento, buscando o apoio de Catarina para
um golpe de estado contra o rei da Polônia à época. Ela recusou inicialmente,
mas, depois da morte do monarca, topou usar toda sua influência para colocá-lo
no trono.
O que
Stanislaw não sabia é que ela esperava que seu reinado enfraquecesse ainda mais
a Polônia, e a tornasse completamente dependente do Império Russo. Foi
exatamente o que aconteceu. Incapaz de conter as tensões na política externa,
Stanislaw doou um terço do país aos inimigos para evitar a guerra. Depois mais
um. Depois o último pedaço do seu território. Com isso, o reino deixou de
existir – e Stanislaw ficou famoso como último rei polonês.
Mas ele não
era apenas um joão-bobo manipulado por Catarina II: o homem tentou lutar,
fortalecer o reino, aprovar uma Constituição e até apoiou uma revolta nacional.
Sua amante ficou tão possessa que mandou uma escolta para acompanhá-lo até São
Petersburgo, onde permaneceu, rejeitado e em prisão domiciliar, até o fim da
vida.
5. O rei breve (e meio nazista)
Edward VIII,
tio da rainha Elizabeth, era um herdeiro do trono do Reino Unido que
desagradava todo mundo. Até o pai dele teria dito: “quando eu morrer, esse
menino vai se arruinar em 12 meses”.
Edward
gostava de se meter na política, ao contrário da tradição de não intervenção da
família real inglesa. Mas, mais que isso, ele curtia mulheres: de prostitutas a
senhoras casadas, Edward se encheu de amantes desde a juventude.
E é claro que isso não mudou quando ele foi
coroado. Edward conheceu Wallis Simpson, uma americana que já estava no segundo
casamento e a caminho do próximo divórcio (eles foram apresentados por outra
amante casada de Edward, Lady Furnes). Ninguém queria que a moça fosse rainha –
nem o público, nem o parlamento, nem a família real.
Até os
biógrafos de Edward dizem que a relação dos dois era um tanto esquisita. Wallis
tratava Edward com descaso e enchia ele de ofensas. E o rei gostava. Começou a
correr a história, que era opinião da própria mãe do rei, de que Wallis
manipulava o monarca usando seus “desvios sexuais”. Tradução: o rei curtia
sadomasoquismo. Tipo 50 Tons de Cinza, mas com gêneros invertidos.
Edward
decidiu casar com a moça que apoiava seus gostos peculiares. E começou a crise
institucional: os primeiros ministros do Reino Unido, do Canadá, da Austrália e
da África do Sul ameaçaram renunciar no minuto em que o casamento acontecesse.
Uma crise dessas em uma Europa tensa (apenas 3 anos antes da 2ª Guerra começar)
deixaria a Inglaterra muito vulnerável.
A oposição
era mais que política: nem a lei inglesa nem a Igreja Anglicana reconheciam
divórcios que não fossem justificados por adultério. E o primeiro divórcio de
Wallis tinha sido por “diferenças emocionais”. Ou seja: se eles casassem,
seriam acusados de bigamia.
Edward até
tentou segurar o trono, mas não teve jeito. Precisou abdicar em favor do irmão
Albert, que virou o rei George VI, pai de Elizabeth II. Edward passou o resto
da vida sendo condenado socialmente – mas há males que vêm para o bem. O ex-rei
era fã de Hitler. Foi para a Alemanha em 1937, fez todas as saudações nazistas
na frente da imprensa e foi fotografado apertando a mão de Adolf. Este depois
afirmou que “a abdicação [de Edward] é uma perda séria para nós. Tenho certeza
que alcançaríamos relações amigáveis por meio dele. Se ele tivesse ficado, tudo
seria diferente”. Pensando bem, obrigada, Wallis!
6. Festa estranha com gente esquisita
Ainda falando
sobre a 2ª Guerra, o senador David I. Walsh era um dos poucos políticos
americanos a se opor contra a iminente entrada dos EUA no conflito. Walsh
começou a ser pressionado – até por veículos de imprensa pró-intervenção, como
o New York Post.
O jornal
conseguiu confirmar com o dono de um bordel masculino que o senador fazia
visitas frequentes ao local. Até aí, sem grandes problemas. O desastre foi pura
coincidência: o prostíbulo calhou de ser escolhido como ponto de encontro por
espiões nazistas. Walsh até conseguiu provar ao FBI que não tinha batido papo
com nenhum inimigo do país, mas o escândalo nunca foi totalmente silenciado.
7. O Pai Fundador (e ingênuo)
As burradas
sexuais parecem estar nas raízes da política americana. Hamilton, um dos pais
fundadores da nação, estava na Filadélfia quando uma mocinha de 23 anos, Maria
Reynolds, mais de uma década mais nova que ele, veio lhe pedir ajuda e dinheiro
por ter sido abandonada pelo marido.
O político,
na época secretário do Tesouro Nacional, foi até a casa dela entregar a grana.
Chegando lá, ela pediu para ele subir, e disse que estava disposta a mais do
que conversas sobre ajuda financeira. E o cara, que também era casado, não
desconfiou de nada esquisito. O affair já durava um ano quando o marido
dela (que obviamente sabia de tudo) apareceu. Conhecendo o quanto Hamilton
tinha a perder se ele fosse a público, pediu uma recompensa monetária. E passou
a ganhar mesada do amante da esposa.
Nessa altura,
a coisa já estava esfriando, e Hamilton queria pular fora. Mas sem pensar que a
amante poderia estar orquestrando tudo junto do marido, atendeu às cartas
românticas dela que pediam que reatassem.
Mas calma,
fica pior: James Reynolds, o marido, foi preso. Ele fazia parte de um esquema
de corrupção que desviava pagamentos a soldados veteranos que participaram da
Revolução Americana (da qual Hamilton era um dos principais nomes). Durante as
investigações, ele tentou uma delação premiada, mostrando as notas de pagamento
de Hamilton – não para revelar o affair, mas para dizer que Hamilton era
seu cúmplice.
O político
admitiu o caso e foi inocentado, mas as cartas foram entregues a seu rival,
Thomas Jefferson. O futuro presidente vazou tudo para a imprensa. A resposta de
Hamilton foi honesta: uma publicação de 95 páginas admitindo os detalhes mais
sórdidos do relacionamento, mas negando a corrupção. Ele não foi processado,
mas a reputação já era.
Deixou de ser
um candidato relevante para a presidência. Seu filho, aluno prodígio de
Columbia, se meteu em um duelo em sua defesa quando um colega de classe ofendeu
as opiniões e a honra do pai. Morreu – e o trauma levou a filha mais velha de
Hamilton a um surto psicótico que a deixou internada em uma instituição
psiquiátrica.
8. Desventuras em série
O imperador
Xuanzong de Tang foi um dos monarcas chineses com o maior número de amantes.
Uma série de
meninas jovens moravam na residência imperial. Como a imperatriz oficial era
infértil, Xuanzong teve um herdeiro através da consorte Wu, sua favorita. Tempos
depois, ele resolveu presentear o filho com uma das “quatro mulheres
mais bonitas da China”, Yang Yuhuan, como esposa.
Com a morte
da consorte Wu, Xuanzong, enlutado, atraiu-se pela beleza da esposa do filho.
Pediu então que ela abdicasse do casamento para virar uma espécie de freira
taoísta. Depois que o imperador arranjou uma nova companheira para seu
herdeiro, trouxe Yang de volta e ela se tornou a nova amante favorita.
A essa
altura, o imperador já estava mais velho e cansado de política. Gostava mais de
passar o tempo com a consorte Yang. A família dela começou a ganhar vantagens
com isso: um primo se casou com a filha favorita do monarca. Outro, Yang
Guozhong, recebeu altos cargos políticos e militares.
O problema
foi que esse primo se indispôs com uma série de grandes generais do império.
Toda vez que eles pediam que o imperador punisse Yang Guozhong, a amante
intervinha em seu favor. Completamente seduzido por ela, o governante sempre
aceitava deixar passar. A situação foi ficando insustentável e as provocações
só aumentavam.
Começou então
uma das maiores rebeliões do século 8. O próprio imperador precisou fugir de
sua residência e se exilar. Mas, no momento em que estava saindo de casa, a
guarda real se revoltou. Eles se recusaram a dar passagem caso o imperador não
concordasse em exterminar o que achavam que era a raiz da rebelião: a consorte
Yang.
Xuanzong aquiesceu e permitiu que os militares
estrangulassem a amada em um templo budista. Depois disso, as tropas imperiais
conseguiram controlar a rebelião. Algum tempo depois, Xuanzong abdicou. Ele se
arriscou uma última vez ao tentar reaver o corpo da amante para lhe dar um
enterro honorável, mas não foi possível: o cadáver já estava em decomposição.
O misto de
sedução, romance e tragédia foi registrado no ano 806 no poema Canção do Eterno Arrependimento. (Super Interessante)
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