A história bombou ontem: alunos do
último ano do ensino médio num colégio gaúcho organizaram uma festa a fantasia
com o tema “se tudo der errado”. E foram para a escola vestidos de atendente do
McDonald’s, vendedor de sorvete, diarista.
A coisa serviu para ilustrar uma queixa
antiga: a de que brasileiro despreza trabalhos produtivos. E despreza mesmo.
Nos andares mais altos da nossa pirâmide social, o único trabalho aceitável é
estágio de faculdade. Funções “de entrada” do mercado de trabalho (garçom,
operador de telemarketing, vendedor de sapato) são tarefas a ser desempenhadas
por escravos – no caso, pelo equivalente moderno a escravo: quem trabalha em
troca de R$ 4o, R$ 5o por dia.
Nisso, temos um conflito com o que
acontece nos países menos desiguais e mais ricos que o nosso. Nas nações que
deram certo, você sabe, estudante trabalha de garçom, de vendedor de sapato, de
chapeiro do McDonald’s. E não importa se o sujeito tem dinheiro na conta para
comprar a loja do McDonald’s onde passa o dia fritando batata, ou ou se o
cidadão é da família real – o rei da Holanda passou décadas de sua vida de
príncipe trabalhando anonimamente como
piloto da KLM (não que isso seja exatamente um “emprego de entrada”, mas
vamos dar um desconto).
Mesmo assim, o fato é que os colégios de
classe média alta não representam o Brasil real. Quase metade (44%) dos
estudantes brasileiros de 15 anos trabalham antes ou depois das aulas, segundo
um estudo do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Isso
coloca a o Brasil bem à frente da média dos países ricos, que é de 23%. Nos
EUA, onde até as
filhas de Barack Obama trabalham de vez em quando, só 32% dos
estudantes pegaram no batente no último ano. Ou seja: no Brasil de verdade,
aquele fora do centro expandido de SP, da zona sul do Rio e das outras bolhas
sociais que a nossa desigualdade criou, a molecada trabalha, sim. E bem mais do
que o senso comum leva a crer. Só pena que o nosso PIB não esteja nas mãos de quem
precisa se virar desde cedo. Mas um dia vai estar. Se tudo der certo.
Por
Alexandre Versignassi Super Interessante.
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