terça-feira, 5 de setembro de 2017

A lagoa fedorenta


Bendito seja o sábio que proclamou: “Deus nos deu dois olhos, dois ouvidos e apenas uma boca”, numa clara mensagem de que devemos ouvir mais, ver mais e falar menos. O povo, na sua infinita sabedoria, diz que “quem fala demais dá bom dia a cavalo”. E foi exatamente o que fizeram ambientalistas, professores, artistas, políticos e toda uma fauna de pseudo intelectuais e celebridades que criticaram a abertura por parte do governo federal, de uma área de garimpo na floresta Amazônica. Agora estão todos amuados, com a língua devidamente enfiada no monossílabo, porque foi revelado que não se trata de uma reserva florestal, mas sim, de uma reserva de cobre, criada ha décadas, e que, ao que tudo indica, não tem cobre. Coisas típicas de governos brasileiros.

Eu tenho defendido insistentemente que devemos deixar comentários para quem é especialista nos assuntos em pauta. Jornalistas, intelectuais, artistas, celebridades e o povo em geral, podem e devem opinar sobre assuntos do seu cotidiano, da sua atividade profissional, deixando as especialidades para os especialistas. Eu não concordo, por exemplo, que um sujeito mal saído do curso de jornalismo, comece a botar falação sobre todo e qualquer assunto como se fosse perito em tudo. O conhecimento acadêmico nos inicia em técnicas a ser utilizadas no exercício da profissão que escolhemos, e o trabalho cotidiano nos acrescenta continuamente experiência e conhecimento. Somo eternos aprendizes.  Eu aprendi no breve curso de jornalismo que recebi, técnicas sobre como escrever textos para jornais, rádio e TV, mas escrever e falar eu já havia aprendido nas escolas e no dia a dia. E, para encerrar, repito que escola não faz de um idiota um sábio. A inteligência é inata. Assim como a burrice.


Voltando ao tema “ecologia”, lembro que nos anos 80, já atuando como jornalista, abriu-se uma polêmica sobre o aterramento ou não da Lagoa do Prato Raso, um banhado que se situava margeada pela rua Intendente Abdon a Leste, a rodovia BR-116 Norte, também conhecida como Transnordestina, a Oeste, o centro da cidade ao Sul, e os conjuntos habitacionais Milton Gomes e Centenário, a Oeste. Os “ecologistas” iniciaram uma campanha contra a destruição do que eles chamavam de “sistema ecológico”, e eu, morador da vizinhança, chamava de Lagoa Fedorenta. A antiga lagoa do Prato Raso, que já havia sido dividida pela BR-116 Norte (do lado Oeste foi urbanizada e hoje se chama Lagoa do Geladinho), não passava de uma poça espremida entre os conjuntos habitacionais, a rodovia e uma parte do Bairro da Queimadinha, e dentro dela despejavam seus esgotos sanitários. O tal “Sistema Ecológico” era formado por minúsculos peixes, sapos, cobras, ratos, e muitos insetos como baratas e mosquitos. E fedia. Como fedia.

Enquanto as discussões ocupavam espaço na câmara Municipal, na Imprensa e nas ruas, servindo de cavalo de batalha para políticos em campanha, o que restava da lagoa continuava sendo invadido sem que nenhuma decisão fosse tomada, até que alguém descobriu que já não se tratava de uma invasão, mas de uma extensão do bairro da Queimadinha, pois já havia escritura dos terrenos e imóveis, e foram feitas ligações oficiais de água e energia, com ruas e endereço postal.

Às vezes passo de carro pela avenida e vejo algumas plantas aquáticas que indicam que ainda há umidade ali, mas as próprias plantas são indicativos do alto grau de poluição. A Lagoa Fedorenta, que ajudou a eleger tantos políticos, está nos estertores da morte e parece que não vão sequer hastear a bandeira do município a meio pau no pátio da Câmara Municipal.

Oremos!

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