segunda-feira, 18 de setembro de 2017

São tantas Feiras, que até eu tenho uma.


Ninguém caminha para o bicentenário impunemente, sem as rugas da longevidade e o orgulho da obra feita, por isso há tantas Feiras. Existe a Feira órfã da feira livre- mãe gestora-, imemorial, saborosa e iconoclasta, e a Feira que continua a ser um imenso comércio, frenético, lucrativo, polimorfo e ferozmente competitivo. É o planeta Feira que atrai, acolhe, oportuniza, e vive ciclos de desenvolvimento enquanto muda seu perfil de cidade horizontal para a inevitável verticalização. E que sai da moradia individual, para os condomínios.
Existe a Feira eterna, do imaginário, arrodeada de tropeiros e boiadas, de aboios, poeira e armazéns, do Campo do Gado e do couro. É a Feira identitária que se recusa a perecer e luta para permanecer, ao menos, como patrimônio imaterial, já que a maioria de suas referências, da Ponte Rio Branco aos Casarões, não resistiram à força do dinheiro, ou do descaso.

Tem a Feira que se educa, cheia de saberes, celeiro de Universidades, que ensaia uma transição no perfil de serviços e consumo, com a formação superior. E a Feira da rua, invasora, hidra de mil cabeças, incipiente em cada esquina, viva, desafiadora, como uma Babel móvel que atrai pela diversidade e ligeireza e é rejeitada pela desordenacão. É a Feira herdeira da outra, sem o glamour, os peixes elétricos e balaios, mas que garante subsistência e bons preços.
Existe a Feira saudosista do Cassino de Oscar Tabaréu, dos clubes sociais- morridos de morte matada, como nossas lagoas-, sim, pois, há, não se pode negar, os aventureiros sem alma e amor, que se aproveitam da cidade e dela tudo arrancam como se fosse dama sem merecer retorno, de vida fácil.
É certo que há a Feira, micaretesca de pai e mãe, do bando Anunciador, Festival de Violeiros e de Repentistas, Natal Encantado, Reisado de São José e da poesia impecável e imprescindível do grupo Hera. Há a rua dos becos. Os antigos e o de hoje. O Beco. Há a Feira, do Feira Hoje, e a Feira de hoje, da Tribuna Feirense.
Tem a Feira de onde quase se voa, a da toalha de luz, e a Feira que se enfeita, com a Lagoa Grande, a Princesa que bota esse vestido bordado e novo para seduzir o viajante que passa e o feirense que lhe margeia.
Que fique registrado: existem 627.477 Feiras. Até eu tenho a minha. De nascença. E não dou, não vendo e não troco por nenhuma outra.

Nenhum comentário: