quarta-feira, 9 de maio de 2018

Da necessária perenidade

A vida tem se tornado dura, exigindo um grau de esperteza que margeia o limite da desonestidade; e um grau de desconfiança, que só deveria existir nos sistemas de espionagem, mas que acabamos exercendo contra tudo e contra todos, pela sobrevivência.
Desejamos o sucesso sem esforço, e desaprendemos a rara sensação de realização por uma vida justa, e reta. Superficializamos nosso desempenho e potencialidades em troca da fuga da responsabilidade, da terceirização da culpa, do comodismo leniente e oportunista, como se ir em frente, não exigisse gasto, aprofundamento, resistência, e dedicação absoluta.
Deixamos a ambição do grande- que é feito de glórias e dores-, pelo apogeu do médio- que é feito de renúncia e mesmice-, como se a vida fosse uma oportunidade limitada.
Desaprendemos, o dever de agradecimento entre amigos e entre pais e filhos, como se receber fosse um direito e retribuir, apenas, uma opção. Tornamos líquido e optativo a preservação dos afetos e sólido e obrigatório a apoteose da individualidade, como se a permanência  não exigisse lealdade, compreensão e, por vezes, tolerância.

Progressivamente, nos despersonalizamos, pois, viver, no padrão que estão nos impondo, exige uma voraz dedicação em repetir os modos, consumos, estilos, alheios, que de escolha própria, mal escolhemos a solidão. Nos tornamos acrobatas sociais e adotamos performances além de nossos próprios limites, pelo desejo de inclusão e similaridade.
A vida tem se tornado muito  exigente, externamente, cara, intolerante, quase vil, e sem perenidade nos valores e sentimentos, como se fossem permutáveis quando, em verdade, são insubstituíveis pela memória que retém, signo, símbolo e cais que representam.
A vida tem se tornado dura, mas é preciso que nós, os que amam, os que se creem e se recusam a ter aceiros na alma, lutemos pelos altares, para que permaneçamos  imperecíveis. No outro...

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