quinta-feira, 10 de maio de 2018

Por que a personalidade das pessoas muda (muitas vezes para pior) nas redes sociais?


Em uma tarde de fevereiro deste ano, a professora Mary Beard postou uma foto no Twitter chorando. A célebre historiadora da Universidade de Cambridge, que tem quase 200 mil seguidores na rede social, estava desolada: após fazer um comentário sobre o Haiti, ela foi vítima de uma avalanche de insultos.
"Eu falo com o coração (e, é claro, posso estar errada). Mas o lixo que eu recebo como resposta, não é justo, realmente não é", tuitou.
Nos dias que se seguiram, Beard recebeu o apoio de diversas personalidades - independentemente de concordarem ou não com sua postagem inicial. E várias dessas pessoas também viraram alvo de agressões. Quando uma das críticas de Beard, a acadêmica Priyamvada Gopal, de ascendência asiática, publicou um artigo online em resposta ao tuíte original da historiadora, também recebeu uma enxurrada de ataques.

Mulheres e representantes de minorias étnicas são desproporcionalmente as maiores vítimas de abusos no Twitter, incluindo ameaças de morte e de violência sexual. No caso em que há o cruzamento de ambos os indicadores de identidade, o assédio moral pode se tornar ainda mais acentuado - como mostrou a parlamentar britânica negra Diane Abbott, que recebeu quase metade de todos os tuítes hostis enviados a deputadas mulheres durante a campanha para as eleições gerais de 2017 no Reino Unido. Em média, as parlamentares negras e asiáticas receberam 35% mais mensagens impróprias do que suas colegas brancas, mesmo excluindo Abbott do total.
O bombardeio constante de ofensas está silenciando as pessoas, expulsando-as das plataformas digitais e reduzindo ainda mais a diversidade de vozes e opiniões online. E não há sinais de melhora. Uma pesquisa realizada no ano passado descobriu que 40% dos adultos americanos já sofreram abusos nas redes, sendo que quase metade foi vítima de formas graves de assédio, incluindo ameaças físicas e perseguição. Setenta por cento das mulheres descreveram o assédio online como um "problema sério".

Retrocesso
A internet oferece uma promessa sem precedentes de cooperação e comunicação entre toda a humanidade. Mas em vez de abraçarmos a possibilidade de expandir nossos círculos sociais na web, a impressão é de que estamos regredindo ao tribalismo e ao conflito.
Enquanto na "vida real" costumamos interagir com estranhos de forma educada e respeitosa, no mundo virtual conseguimos ser detestáveis. Como podemos reaprender as técnicas de cooperação que nos permitiram chegar a consensos e evoluir enquanto espécie?

'Não pense demais'
Eu clico e rapidamente passo para a próxima pergunta. Estamos todos correndo contra o tempo. Meus colegas de equipe estão longe e não os conheço. Então, não tenho ideia se estamos todos realmente no mesmo barco ou se estou sendo passada para trás. Mas eu sei que eles dependem de mim.
Estou participando de um dos chamados "jogos do bem público" no Laboratório de Cooperação Humana da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Os pesquisadores usam esse tipo de jogo como ferramenta para ajudar a entender como e por que cooperamos.
Ao longo dos anos, os cientistas propuseram diversas teorias sobre a razão pela qual os humanos colaboram a ponto de formar sociedades fortes. Atualmente, muitos acreditam que as raízes evolutivas da nossa boa vontade podem estar nas vantagens competitivas para a sobrevivência individual encontradas pelo ser humano quando trabalha em grupo.
No jogo, faço parte de uma equipe de quatro pessoas (que estão em locais diferentes). E cada um de nós recebeu a mesma quantia de dinheiro para a partida. Temos de decidir como vamos contribuir para o fundo do grupo, sabendo que o valor total depositado será dobrado e redistribuído igualmente entre nós.
Como toda cooperação, esse dilema social baseia-se, de certa forma, em confiar que os outros membros do grupo serão leais. Se todos os integrantes depositarem toda a quantia que receberam, o montante do fundo será duplicado e dividido por quatro - ou seja, o dinheiro de todo mundo vai dobrar. Todo mundo sai ganhando.
"Mas se você pensar sob uma perspectiva individualista, cada dólar que você depositou será multiplicado por dois e depois dividido por quatro - o que significa que cada pessoa recebe apenas 50 centavos de volta pelo dólar que contribuiu", diz David Rand, diretor do laboratório.
Em outras palavras, embora todos fiquem em uma situação melhor em termos coletivos, ao contribuir para um projeto comum que ninguém poderia administrar sozinho (na vida real, poderia ser um hospital, por exemplo), há um custo associado do ponto de vista individual. Financeiramente, você ganha mais dinheiro sendo mais egoísta.
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