
Spoiler:
todas. Depois que a repórter, lésbica, ouviu de uma médica que não precisava de
alguns exames ginecológicos porque não havia feito sexo com homens, ela
resolveu investigar. E encontrou um mar de informações erradas.
Tudo começou quando eu fui
fazer um exame chamado colposcopia, indicado para detectar câncer de colo de
útero e alterações causadas pelo HPV. Quem pediu o procedimento foi a minha
ginecologista, que sabe que eu nunca transei com homens, e que queria garantir
que eu não estivesse com alguma infecção não diagnosticada. Até aí, tudo certo.
Na hora de fazer o exame, porém, a médica que ia realizar a colposcopia me
perguntou se eu já havia tido relações sexuais. Eu respondi que sim – e recebi
um olhar de desconfiança em troca. “Hm, mas com quem?”, ela perguntou. “Só com
mulheres”, disse.
Ela não fez o exame. Disse que
o procedimento era só pra quem “tinha feito sexo” e que “HPV é uma doença que
pega no sexo”. Fiquei sem saber o que dizer. Eu fazia sexo, ué. Vi que ela não
sabia absolutamente nada sobre relações entre mulheres – e desconfiei de sua
resposta: já havia lido que o HPV é muito comum entre lésbicas, por exemplo.
Saí do consultório perplexa e cheia de perguntas.
Fomos investigar e descobrimos
como é difícil encontrar informação sobre o assunto. Por isso, eis aqui 7
perguntas práticas para entender o sexo entre mulheres – para ninguém mais
passar perrengue na hora H e ter muito prazer, com segurança e sem estresse.
1 – Mas afinal, sexo entre mulheres é sexo?
Claro que é. São duas pessoas
tendo prazer juntas, independente da orientação sexual de cada uma (lésbica,
bissexual ou qualquer outro tipo de classificação com o qual se identifique). E
esse prazer pode vir de várias formas, seja no oral, na penetração digital (com
os dedos), no tribadismo (vagina com vagina, a famosa “tesourinha”), usando
brinquedos sexuais… As possibilidades são muitas. Basta sentir vontade, ter
consentimento e fazer.
2 – Quais são as ISTs que podem ser transmitidas
durante o sexo entre duas mulheres?
O sexo entre duas mulheres não
difere de nenhum outro nesse quesito: qualquer IST pode ser transmitida durante
uma relação sexual se você não estiver se protegendo. Estamos falando de:
herpes, sífilis, gonorreia, clamídia, HIV e – ao contrário do que me disse a
médica – HPV.
3 – Por que agora as DSTs são chamadas de ISTs?
As ISTs (Infecções Sexualmente
Transmissíveis) são infecções transmitidas principalmente pelo contato sexual
sem o uso de um método preventivo. São causadas majoritariamente por bactérias,
vírus ou fungos que podem se instalar na vagina, ânus ou boca. A transmissão
ocorre no contato de mucosas com esses microorganismos (que podem estar no
sangue, na pele, nas mucosa genitais, nas secreções vaginais, no esperma do
homem etc). A mudança na nomenclatura foi feita porque o termo “doença”
pressupõe sintomas e sinais visíveis no corpo, enquanto “infecções” é mais
adequado já que várias dessas disfunções podem não apresentar sintomas.
4 – Como me proteger no sexo com mulheres?
A verdade é que não há um
método ideal, que funcione 100% e que seja prático de usar. Todas as opções não
passam de um quebra-galho. Na hora de compartilhar acessório ou fazer a penetração
digital dá pra usar a camisinha masculina (envolto no acessório/dedo) ou
feminina (dentro da vagina), porque isso evita o contato com as secreções
vaginais.
Mas a grande dificuldade mesmo
está no sexo oral – também é preciso usar uma barreira para se proteger. Uma
opção é pegar uma camisinha (masculina ou feminina) e recortar, tirando aquele
anel e fazendo um pequeno lençol. Dá para fazer o mesmo com uma luva
descartável – você corta os dedos, abre e faz um lençol também. Outra
alternativa pouco conhecida é o dental dam, que é um
pequeno lençol de borracha tradicionalmente utilizado por dentistas, e que
serve como uma barreira protetora. É difícil, porém, encontrá-lo.

5 – Existe
alguma ligação entre período menstrual e transmissão de ISTs?
Sim. O fluido menstrual é um
meio de cultura para o crescimento de bactérias – ou seja, está cheio delas. Os
métodos de prevenção, porém, são os mesmos, independente de a menina estar
menstruada ou não.
6 – No sexo oral, é importante escovar os dentes antes
de transar ou isso pode aumentar os riscos de transmissão?
“Escovar os dentes, pode
machucar a gengiva e causar alguma ferida. Então o ideal para fazer sexo oral é
esperar um tempo depois da escovação, e não fazer logo em seguida”, explica
a ginecologista Márcia Borrelli.
PEQUENO GUIA PRÁTICO DE ISTs ENTRE MULHERES
Não
dá para confiar apenas nos sintomas para saber se você está com alguma infecção
ou não. Os tempos de incubação de cada doença variam muito, por isso é
importante sempre fazer os exames médicos.
Infecções causadas por bactérias:
Causam corrimento:
Gonorréia e clamídia:
infecções que acometem principalmente o colo do útero, causam secreção e dor no
pé da barriga durante a relação sexual.
Vaginose bacteriana: a vaginose é um desequilíbrio da
flora vaginal que causa um corrimento mais acinzentado com mau cheiro, que se
acentua perto da menstruação. Não é considerada uma IST.
Causam ferida
Sífilis: causada por uma
bactéria, a infecção começa com o cancro duro (uma feridinha que aparece onde a
bactéria entrou – boca, vagina, ânus) e em grande parte das vezes a mulher não
percebe sua existência porque essa ferida não coça, não sangra, não dói e
desaparece com ou sem tratamento, mas não significa cura.
Infecções causadas por vírus:
Herpes: é uma das infecções
mais comuns, visto que 90% da população já entrou em contato com o vírus
segundo dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia, podendo ou não
desenvolver a doença. São pequenas bolhas que se juntam e rompem formando uma
ferida que, diferentemente da sífilis, dói bastante e coça. A transmissão do
vírus só ocorre enquanto há lesão (lembrando que ela pode não ser aparente).
HPV: existem diversas
variações deste vírus, algumas que podem causar verrugas genitais e outras que
podem levar a alguns tipos de câncer. Por ser uma infecção que usualmente não causa
nenhum sintoma aparente, sua prevenção é de extrema importância, e deve ser
feita por meio de vacinas e do exame Papanicolau (que mede a alteração das
células do colo do útero). Inclusive por lésbicas, sim.
HIV: não possui sintomas até
que a infecção evolua ao longo do tempo debilitando a imunidade do portador,
abrindo a porta para doenças oportunistas – que é o que chamamos de AIDS.
Infecções causadas por fungos:
Cândida albicans: causa a
candidíase vaginal. Se manifesta através de coceira, vermelhidão, inchaço,
corrimento esbranquiçado (parecida com leite talhado) e dor ou queimação ao
urinar. A candidíase não é considerada uma IST.
Infecções causadas por protozoários:
Trichomonas: causador da
tricomoníase, que pode causar ardência e/ou um corrimento verde bolhoso.
Super Interessante
Por Steph Minucci e Beatriz
Novaes
Fontes para a
reportagem: Valdir Monteiro Pinto,
interlocutor de DSTs da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e do
Programa Municipal de DST/Aids da Secretaria Municipal de Saúde de São
Paulo; Márcia Borrelli, médica, ginecologista e obstetra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário