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César Oliveira |
Há algo que está muito claro, como já
dissemos, e que precisará ser estudado: a mudança na democracia com essa
eleição, pois, ela nunca mais será a mesma. E não estou falando de Bolsonaro,
per si, mas como Bolsonaro se elegeu (ao que indicam as pesquisas).
A revolução digital e expansão da
comunicação deu voz a todo cidadão fazendo com que ele fosse um ativista
político, sem que sua voz aparecesse via um mediador (mídia impressa, marqueteiros, rádios, intelectuais) que dominavam os meios
de transmissão e a filtravam ao seu modo, desejos e interesses. As redes
sociais explodiram esse modelo de campanha e de formação do "líder
político", que era construído para ser então apresentado aos eleitores.
Sob certo modo, é como Àgora grega, berço
da democracia, em que todos podiam falar. Isso acontece para o bem e para o
mal. Como é terra de ninguém - um Oeste ainda sem lei- ela permite que
aloprados de todas as matizes verbalizem sua selvageria, rasura, e agressões,
protegidos pelo anonimato virtual, ou não. Umberto Eco, um tanto
preconceituosamente, um tanto acertadamente, disse que a internet deu voz aos
idiotas. Toda generalização, como sabemos, é uma idiotice.
A verdade é que a revolução que estamos vivendo
ainda não tem meios e resultados definidos, como toda e instável revolução, por
isso, para usar uma frase de autoajuda, o caminho se fará a medida que for
sendo andado. Aqui, temos o agravante que o avanço tecnológico não deixa pedra
sobre pedra do dia anterior e sua expansão é inevitável e irreversível, assim,
quando pensamos ter dominado um aspecto, ele é mudado por uma novidade ainda
mais moderna.
A retirada de mediadores, se tem o benefício
da ampliação da voz direta da população - um ideal democrático-, traz
solavancos a essa democracia, pois, há demandas muito maiores, virais, às
vezes, que colocam uma pressão muito maior sobre as instituições que devem
mediar esses conflitos - elas mesmo, como nosso STF e MP, expostos duramente-,
fazendo com que elas se fragilizem - o que é ruim-, mas se depurem - o que é
bom-, ao serem exibidas de forma transparente. O perigo é perder a medida,
pois, é dessa força que dependemos cada
vez mais para garantir a democracia no seu sentido mais amplo, diante de líderes
populistas e autoritários.
Temos um universo absolutamente novo à
frente, sem mapa pronto. Cabe a nós a sabedoria de o fazermos para garantirmos
o bem mais essencial da humanidade: a liberdade.
PS: quando eu disse que a eleição de
Bolsonaro precisava ser estudada, uns idiotas (aqueles de Eco), não entenderam
e saíram dizendo que eu disse que Bolsonaro "merecia" ser estudado.
Eu estou discutindo sistema, antilulismo, modelo eleitoral, fenômeno político,
comunicação, massa, e eles centrados em indivíduo. Haja paciência.
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