
No dia 12 de outubro de 1923, o Rio
de Janeiro, então capital federal, sediou um evento que reuniu
estudiosos de infância e políticos de vários países. Era o Congresso
Sul-Americano da Criança, cuja pauta discutia questões educacionais,
alimentares e de desenvolvimento.
Um político notou a comoção
provocada pelo tema na época. No ano seguinte, o recém-eleito deputado
federal Galdino do Valle Filho (1879-1961) propôs uma lei instituindo,
no 12 de outubro, o Dia das Crianças no Brasil.
Em 5 de novembro de 1924, o então presidente da República Arthur
Bernardes (1875-1955) sancionou o Decreto 4.867. "Artigo único. Fica
instituído o dia 12 de outubro para ter lugar, em todo o território
nacional, a festa da criança, revogadas as disposições em contrário",
diz o texto.
E, assim, foi criado o Dia das Crianças.
Mas a data custou a pegar. Não havia feriado e o comércio não atentava para ela.
Em 1940, o presidente Getúlio Vargas (1882-1954), criou um novo decreto. Por pouco, o Dia das Crianças não "mudava" de data.
Na
lei de Vargas, que "fixava as bases da organização da proteção à
maternidade, à infância e à adolescência em todo o País", o artigo 17 do
capítulo 6 dizia: "será comemorado em todo o País, a 25 de março de
cada ano, o Dia da Criança".
"Constituirá objetivo principal dessa
comemoração avivar na opinião pública a consciência da necessidade de
ser dada a mais vigilante e extensa proteção à maternidade, à infância e
à adolescência", dizia o texto.
Mas o 25 de março não saiu do papel.
Nos anos 1950, uma intensa campanha de marketing criou, de fato, o Dia das Crianças no Brasil.
Bebê robusto
Foi
uma promoção conjunta entre duas gigantes da indústria: a fábrica de
brinquedos Estrela e a Johnson & Johnson. Em 1955, elas lançaram a
Semana do Bebê Robusto. Era uma ação para aumentar as vendas dos
produtos, é claro. Mas envolvia a população, pois os clientes eram
convidados a enviar fotos de seus filhos - de 6 meses a 2 anos. E os
pais do "bebê Johnson do ano" embolsavam um prêmio, enquanto o rebento
tinha o rosto e a fofurice estampados em revistas e jornais.
Com a
adesão de outras empresas, em pouco tempo a Semana do Bebê Robusto se
tornou Semana da Criança. Foi quando os fabricantes decidiram concentrar
os esforços em uma única data. Recuperaram o decreto de 1924 e, desde
então, todo brasileiro sabe: dia 12 de outubro é dia de presentear a
criançada.
"Essas datas surgem pois o comércio precisa conseguir vender também
em épocas de baixa sazonalidade", contextualiza a administradora de
empresas Mariana Munis, especialista em marketing e professora da
Universidade Presbiteriana Mackenzie de Campinas.
"Do meu ponto
de vista, algumas datas comemorativas pegam mais do que outras porque
surgiram primeiro. Dia das Crianças, Natal, Dia dos Namorados e Dia das
Mães são exemplos bem-sucedidos."
"Também acho que o Dia das
Crianças desperta sentimentos de nostalgia. Aproxima os pais dos
filhos", acrescenta Munis. "É quando os pais, em meio a uma vida tão
corrida, querem dar algo para os filhos. Por isso acabou se tornando uma
data tão importante para o calendário brasileiro."
Comércio paulistano
De acordo
com o economista Marcel Solimeo, da Associação Comercial de São Paulo, o
Dia das Crianças "não tem peso significativo para o comércio" - ao
contrário de datas como Natal, Dia das Mães e Dia dos Namorados.
Por
outro lado, ele afirma que "como o Dia das Crianças se encontra em um
período próximo ao Natal, ele representa para os lojistas um termômetro
"de como vai ser o fim do ano".
"Se no Dia das Crianças as vendas
de brinquedos forem boas, por exemplo, é sinal de o comércio está mais
aquecido e isso deve se refletir positivamente no Natal", exemplifica.
Solimeo
ressalta que, depois da forte crise econômica, o comércio vem se
recuperando. E isto já pode ser notado pelas vendas em datas
comemorativas. "Acreditamos este ano em um crescimento na casa dos 3% em
relação a 2017 no movimento de vendas do varejo paulistano no Dia das
Crianças", prevê.
"É um ritmo moderado e aproximado ao que o
setor tem apresentado: no período acumulado de janeiro a agosto de 2018,
as vendas cresceram em média de 2,8%. Importante lembrar que a
realização do primeiro turno das eleições no fim de semana anterior ao
Dia das Crianças pode diminuir o movimento nas lojas, já que a atenção
do consumidor tende a estar voltada para o cenário político e à escolha
dos candidatos", lembra ele.
Ainda de acordo com os dados da
Associação Comercial, nos últimos anos, o Dia das Crianças sentiu quedas
bruscas nas vendas - de 6,9% em 2016 e 13% em 2015. "Em 2017 o
movimento voltou a crescer, 3%, mas sobre uma base muito fraca",
salienta o economista.
Outros países

Já a Organização Mundial das Nações Unidas (ONU)
reconhece outra data. Dia 20 de novembro é considerado o Dia Mundial da
Criança porque foi neste dia, em 1959, que foi aprovada a Declaração
Universal dos Direitos da Criança. Finlândia, França, Trinidad e Tobago,
Reino Unido e Canadá estão entre os países que levam em conta esta
data.
Mas há muitos exemplos diferentes. A Austrália instituiu como Dia da
Criança a última quarta-feira de outubro. Na Argentina, é o segundo
domingo de agosto. Na África do Sul, o primeiro sábado de novembro.
Países da África Central - Congo, Chade, Camarões e outros - comemoram a
data junto ao Natal, 25 de dezembro. O Japão tem uma data para meninas
(3 de março) e outra para meninos (5 de maio). Na Hungria, é o último
domingo de maio. (BBCBrasil)
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