Um jovem príncipe, indicado para substituir o pai no trono, convocou sábios para que lhe indicassem a melhor maneira de governar. Pediu, também, a eles para escolherem uma frase que servisse como lema para o seu governo. Foram indicadas centenas de frases, cada uma delas contendo parcelas da verdade. A frase escolhida pelo jovem foi esta: “Isso também passará”.
A VIDA de um governante e de qualquer pessoa está repleta de surpresas. Há momentos de glória e sucessos que podem levar a autossuficiência, mas isso também passará. Depois, podem acontecer fracassos, críticas, ingratidões e desânimo. E a frase, isso também passará, vem levantar o ânimo. Ela evita a euforia e o desânimo e ajuda a olhar para o futuro, sempre com esperança de dias melhores.
A
EXPERIÊNCIA de cada dia confirma isso. Mas, alguns se dão conta muito
tarde. Napoleão, imperador da Europa, na solidão da Ilha Santa Helena, ficou
sabendo que sua glória havia passado. Stalin, que tinha em mãos o maior poder
da história, muito aflito e desesperado, percebeu que tudo passava. É também
por isso, que no ritual da proclamação de um papa, é queimado um feixe de
palhas com a advertência: “Assim passa a glória do mundo”.
PASSAM os
poderosos, a beleza física, a doença, o inverno e a primavera. Passam as
alegrias, as lágrimas, os sucessos e as derrotas. A certeza dessa lógica ajuda
a enfrentar os maus e os bons momentos. A humildade no sucesso e a coragem nas
horas difíceis fazem parte do viver. As adversidades e as crises podem ser
vistas numa dimensão positiva porque são momentos privilegiados para o
fortalecimento de nossa fé.
O PRÓPRIO Jesus
passou por esses momentos. Após a multiplicação dos pães, no deserto, a
multidão queria proclamá-lo rei e foi aclamado nas ruas de Jerusalém. Mas ele
passou, também, por muitos sofrimentos, perseguições, calúnias, incompreensões
e torturas. Foi condenado à morte e crucificado, porém ressuscitou. Tudo isso
nos indica a necessidade de sempre buscarmos as coisas definitivas, que não
passam: a Palavra de Deus e os ensinamentos da Igreja.
NO
FINAL da Segunda Guerra Mundial, com a Europa em ruínas, uma jovem
italiana, Chiara Lubich, constatou que tudo era provisório, tudo passava. Ou
melhor, quase tudo. Num segundo momento, ela deu-se conta da existência de algo
definitivo, de uma realidade que não passa e concluiu: só Deus não passa. E
Jesus, com autoridade divina, garantiu: “O céu e a terra passarão, mas as
minhas palavras jamais passarão” (Lc 21,33).
Dom Itamar Vian
Arcebispo Emérito
[email protected]
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