segunda-feira, 11 de novembro de 2013

“A manifestação do espírito a serviço da caridade”



Lá, pelos anos de 1900, em São Gonçalo, Rio de Janeiro, um jovem de 17 anos, se debatia entre um sonho e um pesadelo. O desejo de se tornar militar da marina era ofuscado pelo assédio de diversos espíritos. Para a época, os acontecimentos eram estranhos, até demais.
 Zélio Fernandino de Moraes era constantemente flagrado, conversando com sotaque diferente, numa postura curvada de um velho e dizendo coisas, aparentemente desconexas.
Os pais de Zélio, preocupados, pediram ajuda a um tio, médico psiquiatra, o Dr. Epaminondas de Moraes. Como os sintomas não se enquadravam na literatura médica, a sugestão foi procurar um padre para um ritual de exorcismo. Também não houve sucesso.
Sua mãe levou Zélio a uma curandeira, D. Cândida, e o espírito de um preto-velho chamado, Tio Antônio, disse que o menino tinha o dom da mediunidade. Foi aí que um amigo indicou a Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro, em Niterói.
Zélio foi convidado a sentar-se na mesa junto ao presidente. O fenômeno aconteceu. Zélio incorporou e falou; “nessa mesa está faltando uma flor”. Foi até o jardim e trouxe flores. Parece que essas flores sobre a mesa abriram um portal para espiritualidade, pois os médiuns kardecistas começaram a receber, caboclos, índios e pretos velhos. Os doutrinadores tentavam lhes repreender ordenando que se retirassem por se tratar de espíritos sem evolução, sem doutrinação. Zélio, também incorporado, protestava e, ao mesmo tempo, um médium kardecista, vidente, tentava uma rápida conversação com o espírito incorporado.
O médium: Quem é você que ocupa o corpo deste jovem?
O espírito: Eu? Eu sou apenas um caboclo brasileiro.
O médium: Você se identifica como caboclo, mas vejo em você restos de vestes clericais.
O espírito: O que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre, meu nome era Gabriel Malagrida, acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da inquisição por haver previsto o terremoto que destruiu Lisboa em 1755. Mas em minha última existência física Deus concedeu-me o privilégio de nascer como um caboclo brasileiro.
O médium: E qual é seu nome?
O espírito: Se é preciso que eu tenha um nome, digam que eu sou o “Caboclo das sete encruzilhadas” pois para mim não existirão caminhos fechados.
...Amanhã, na casa onde meu aparelho mora, haverá uma mesa posta a toda e qualquer entidade que queira ou precise se manifestar, independente daquilo que haja sido em vida, todos serão ouvidos, nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais e ensinaremos aqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas, a nenhum diremos não.
    E assim, no dia 16 de novembro de 1908, foi fundada a Ubanda. O centro espírita de Zélio foi denominado “Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade” e em pouco tempo já havia mais dez mil casas com a filosofia: “A manifestação do espírito a serviço da caridade” e tendo como norteador as obras de kardec.

Conrado Dantas

Nenhum comentário: