sábado, 30 de novembro de 2013

Por que o papa Bento 16 renunciou?

Em fevereiro deste ano, o agora papa emérito Bento 16 chocou o mundo quando se tornou o primeiro pontífice a renunciar em quase 600 anos. Mas a atenção rapidamente se voltou para a sua sucessão, e a consequente eleição do argentino Francisco.
Em meio ao episódio dramático, uma pergunta nunca foi totalmente respondida – por que Bento 16 renunciou?
Em sua declaração oficial de renúncia, o papa Benedito creditou sua saída à fragilidade de sua idade avançada e às exigências físicas e mentais do cargo, mas sempre houve a suspeita de que algo não havia sido contado. A minha apuração confirmou isso.
Fui visitar o cardeal nigeriano Francis Arinze em seu apartamento, com vista para a Praça de São Pedro, no Vaticano. Arinze é uma das figuras mais importantes da Igreja Católica atualmente e conhece o Vaticano como ninguém. Ele foi, inclusive, ainda que por pouco tempo, considerado um provável sucessor do papa Bento 16. Além disso, Arinze era um dos poucos cardeais a quem o alemão contou pessoalmente a notícia de iria renunciar.
Levantei o assunto dos escândalos que precederam o anúncio bombástico do papa e, em particular, o vazamento dos documentos papais, conhecido como Vatileaks, pelo ex-mordomo de Bento 16, Paolo Gabriele. Isso poderia ter contribuído para a renúncia do então pontífice? A resposta de Arinze foi inesperada.
"É legítimo especular e dizer "talvez", porque alguns de seus documentos foram furtados secretamente. Claro que poderia ser uma das razões (para a renúncia de Bento 16)", afirmou Arinze.
"Talvez ele tenha ficado tão triste ao tomar conhecimento de que seu próprio mordomo, em quem tinha confiança, vazou tantas cartas que um jornalista poderia escrever um livro. Não esperava que ele estivesse contente com isso".
No Vaticano, membros jovens e ambiciosos da Igreja são aconselhados a "ouvir muito, ver tudo e não dizer nada". O fato de que uma figura tão importante dentro da Igreja não siga à risca tal cartilha é minimamente surpreendente.
Na essência, o papa Bento 16 era um acadêmico, um téologo e um intelectual. "Para ele, o inferno seria participar de uma semana de treinamento sobre como melhor gerir a Igreja", ironiza uma fonte.
O azar do agora pontífice emérito foi ascender ao trono de Pedro em um momento em que havia um vácuo de poder, no qual um número considerável de integrantes de meio escalão da Cúria, a máquina administrativa da Igreja, se tornaram "pequenos Bórgia" (em alusão à família espanhola-italiana de mesmo nome que produziu três papas, lembrados por seu governo corrupto e ganância pelo poder).
Essa última declaração veio da figura mais importante da Igreja atualmente, o próprio papa Francisco, conhecido por não medir suas palavras. "A corte é a lepra do papado", disse ele certa vez. O argentino descreveu a Cúria como narcisista e egoísta. Foi a mesma Cúria com a qual Joseph Ratzinger teve de lidar.

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