
Bolsonaro
é uma aberração e só um desequilibrado é capaz de defender um torturador que
coloca ratos em vaginas de grávidas. O busílis, no entanto, é outro. O deputado
Wyllys, premeditadamente, disse que ia cuspir -e cuspiu- em Bolsonaro.
Ainda que tenha entusiasmado muitos devo
lembrar que ele estava ali investido da função de deputado e que existe um
decoro a ser cumprido. Bolsonaro, da mesma forma, está ali, legitimamente
eleito, por mais que odiemos o fato. Acontece que a democracia não é isto. Eu
não posso legitimar a agressão de Jean porque a vítima " merece",
afinal, o " merece" é o meu julgamento e, aí, eu autorizo o
adversário a achar legítimo suas (re)ações porque o lado de lá pode achar tão
odioso e merecedor de repulsa e agressão a posição de quem está do lado de cá.
Sob a ótica dele é justo e adequado.
A
democracia não se sustenta sob esta argumentação. Ao contrário, o que a faz
real, plena, é exatamente a capacidade de lidar com os piores discursos dentro
dos limites legais da lei. Não podemos combater o adversário marcando os
inimigos abatidos na coronha do revolver ou no lançamento de saliva a distância
por mais detestável ou " merecedor" que alguém pareça dentro do
parlamento. Ou quando o deputado defender o aborto, ou o "kit gay",
nas escolas, poderá ser cuspido, agredido, por um fanático religioso ou um pai
que discorde? Quando mulheres nuas simularam sexo com um crucifixo, no RJ,
misturaram com excrementos, estava autorizado serem agredidas por católicos? As
pautas e os discursos legítimos não podem ser apenas aqueles que concordamos.
Não,
eu detesto Bolsonaro, e acho abjeto e digno de horror que alguém defenda um
torturador, pois, o Estado nunca pode ser usado contra o cidadão, seja como
tortura, seja violando o sigilo bancário de um caseiro, como fez Palloci, mas
não admito que outro deputado cuspa nele. Eu não cuspirei em nenhum dos dois.
É, também, asqueroso.
Dizem
que o maior perigo que há é quando começamos a enxergar fascismo apenas no que
o outro faz. Não custa tomarmos cuidado, pois podemos começar validando os que
cospem com saliva esquecendo que podemos estar autorizando os que cospem com
ratos.
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