Leu muitos livros também. Só os resumos
nas capas, porque, como sujeito ocupado e pragmático que era, não gostava de
perder tempo com tanto “palavrório inútil”, já que o resumo da estória estava
bem ali. Talvez por isso ele confundisse um pouco as coisas, e achava que Allan
Poe era um corvo que sabia falar e que fez uma ponta num filme em que um macaco
matava gente numa cidade. Ele falava também sobre um “jogaço” que teve há muito
tempo pela Liga dos Campeões da Europa, entre os Bolcheviques da Rússia e os Césares
da Itália. Segundo ele, o jogo foi apitado por um tal de Napoleão Bonaparte,
que só era bom mesmo numa parte, porque em outras deixou muito a desejar, e por
isso mesmo foi banido dos quadros da Liga e foi apitar jogos numa ilha
distante.
Ele fazia incursões por outros campos
das artes, e segundo ele, Van Gogh foi um pintor que fazia uns desenhos
esquisitos e que teve uma orelha cortada por uma cliente insatisfeita a qual
ele havia retratado. Assistiu a algumas peças teatrais e a que ele mais gostou
foi aquela em que todos os atores apareceram nus no palco. “Cada mulherão”,
lembrava ele entre suspiros. Certo dia apresentaram a ele um pintor que fazia
uma exposição de quadros sobre a Guerra de Canudos. Na sua rápida conversa com
o pintor, ele ficou sabendo que “o grande general” da Guerra de Canudos fora o
Antônio Conselheiro, e quis logo saber se o homenageado se encontrava presente
no local. Informado de que o “General” havia morrido na guerra, ele ficou assim
meio que triste e decepcionado. Depois de entornar o resto do conteúdo de uma
taça de vinho, comentou entre os dentes: “Então ele não era lá grandes coisas
como General”.
Encontrei Oscar Jabuti há alguns anos,
aqui em Feira de Santana. Estava de passagem viajando para a região do Rio São
Francisco, onde iria procurar seu grande amigo e parceiro, “Velho Chico” que
ele soube que estava muito doente, quase morrendo, e ele queria saber se podia
ajuda-lo.
Era um bom sujeito, o Oscar Jaboti.
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