sexta-feira, 13 de outubro de 2017

As recomendações de um 'vingador da internet' para evitar golpes na rede



Golpes na internet são cada vez mais comuns. Felizmente, as fontes de informação e de meios para se proteger deles também vêm aumentando.
Há inclusive quem dedique parte do tempo para fingir ser mais uma vítima dos criminosos só para recolher informações sobre o esquema e usá-las para evitar que mais pessoas sejam enganadas. Eles são conhecidos, no termo em inglês, como "scam baiters" - ou "vingadores da internet".

Wayne May (nome fictício) é um deles. Não se importa em mostrar o rosto, mas prefere não revelar seu nome real, pois frequentemente recebe ameaças de morte.
Sua página, a Scam Survivors ("sobrevivientes de golpes"), é um grupo de autoajuda na internet focado principalmente em chantagens sexuais - conhecidas na rede como "sextorsion" (uma mistura entre as palavras "sexo" e "extorsão" em inglês).
Com uma equipe de voluntários que trabalha em diferentes cidades dos Estados Unidos, Canadá e Europa, ele diz ter entrado em contato com mais de 20 mil casos em 12 anos e afirma receber dezenas de mensagens diariamente de novas vítimas.
Ainda que as modalidades de golpes não sejam novas, elas continuam sendo efetivas em diversos casos.
"Muitos dos que nos procuram já estão bastante envolvidos e não têm a quem recorrer", disse May à BBC.
"Não é que eles sejam idiotas, mas simplesmente não conhecem o golpe. Não é uma coisa óbvia se você nunca teve contato com isso antes."

Sofisticação
O especialista ressalta que "há novos tipos de golpe sendo criados constantemente" e que muitos deles são altamente sofisticados.
"Mesmo quem pensa que nunca vai cair em um pode estar sujeito. Os golpistas encontram um ponto fraco", acrescenta.
Por isso, seu primeiro conselho é: tentar recuperar o dinheiro é perda de tempo.
Em sua experiência, as vítimas desembolsam por volta de US$ 1,3 mil (R$ 4,1 mil), mas às vezes o valor é bem maior.
Entre as vítimas que entraram em contato com May, esteve um homem relatou que havia transferido mais de US$ 650 mil (R$ 2 milhões) a um golpista com quem sofreu uma decepção amorosa.
"Dizemos claramente: não podemos devolver seu dinheiro nem oferecer ajuda emocional. Não somos psicólogos, mas apenas pessoas que sabem como os golpes funcionam e como lidar com eles", diz.

Algumas recomendações para as vítimas:

- Corte o contato com os golpistas imediatamente e de forma definitiva.
- Não tente persegui-los. Lembre-se de que eles têm seus dados pessoais e, certamente, informações comprometedoras sobre você. Não vale a pena correr o risco. Não os enfrente.
- Se você transferiu dinheiro, não há forma realista de recuperá-lo.
- Entre em contato com a polícia e com instituições que possam ajudá-lo.
- Compartilhe os detalhes sobre o golpe para prevenir outras pessoas.

Busca no Google
Como medida de prevenção, May dá um conselho simples: "Procure no Google".
Busque as imagens e as mensagens que recebe - os golpistas costumam usar materiais parecidos.
Se você teme uma chantagem, crie um alerta para receber uma notificação sempre que seu nome for mencionado na internet.
O especialista também aconselha que, se você não está seguro do que fazer, não envie dinheiro.
Segundo uma porta-voz do Action Fraud, centro britânico de combate a crimes cibernéticos, somente 30% dos casos de fraude têm "linhas de investigação viáveis".
"Sabemos que é complicado que as autoridades investiguem esses crimes, temos que maximizar nossos recursos", pondera.
Ainda assim, especialistas como Alan Woodward, cientista da computação e conselheiro da Europol - o serviço europeu de polícia -, dizem que é importante denunciar os golpes às autoridades locais para ajudá-las a reunir informações sobre as fraudes.

Não demonstre empatia
Em muitas situações os golpistas estão desesperados e atuam em países com poucos recursos - situação que não chega a sensibilizar Wayne May.
"Eles não são nenhum Robin Hood", afirma. "Se usam a internet para enganar as pessoas, têm dinheiro para usar a rede. Se não tivessem dinheiro para comer também não teriam para passar horas em um cibercafé."
Um dos casos que chegaram a preocupá-lo, conta, foi o de uma mulher das Filipinas que tentou chantageá-lo usando uma webcam.
Quando ele se negou a fazer o que ela pedia - provavelmente para tentar extorqui-lo no futuro -, a moça perguntou se ele preferia que ela convidasse sua irmã.
"Ela chamou uma menina de nove ou dez anos. Isso me horrorizou", lembra-se.
"Disse a ela: 'Não faça isso, nem por mim e nem por ninguém. Você não deveria fazer isso'. Mas não pude entrar em contato novamente depois daquilo, tinha que desaparecer completamente", relata.
"Não posso me deixar afetar muito, ou então não poderia fazer o que faço. Trabalho nisso há 12 anos - se deixasse que cada caso me afetasse, acabaria destruído."

Os golpes mais comuns:

- Romântico: O golpista constrói uma relação afetiva com a vítima e depois pede dinheiro a ela usando diferentes tipos de chantagem emocional.

- "Sextorsion": Convence a vítima a se expor sexualmente em frente à webcam e depois pedem a ela dinheiro para que o material não seja publicado na internet ou enviado a conhecidos por meio das redes sociais.

- Pets: Quando os bichinhos de estimação vendidos na internet na verdade não existem.

Pistoleiro: Alguém diz ser um assassino de aluguel pago para matar a vítima, para depois afirmar que pode desistir da tarefa caso ela ofereça recompensa maior.

Golpe "419": Pedem dinheiro em troca de um falso pretexto, como o recebimento de uma herança. O nome vem do artigo do código penal da Nigéria, país onde o golpe se popularizou nos anos 1980, que trata sobre o crime. (BBCBrasil)

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