Muitas pessoas ainda acreditam que o autismo representa uma espécie
de condenação sem volta e que o diagnóstico significa uma vida sem
oportunidades – e é exatamente esse tipo de desinformação e mito que
alimenta o preconceito. A avaliação é do pediatra e neurologista
infantil, Clay Brites.
Para o especialista, o Dia Mundial da Conscientização sobre o
Autismo, lembrado hoje (2), ajuda a sociedade a refletir melhor acerca
dos avanços e, principalmente, do que ainda precisa melhorar para dar
suporte amplo e transdisciplinar e esse grupo de pessoas e suas
famílias. A data é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Muitos casos são severos e passam essa impressão mesmo, mas a
maioria, não. Ainda vemos muitos casos graves, inclusive, porque estamos
assistindo a uma geração passada, em que o diagnóstico foi tardio.
Espero que, com as informações recentes, a nova geração tenha outra
evolução, bem mais satisfatória, e derrube muitos mitos.”
Em entrevista à Agência Brasil, Brites lembrou que o
transtorno atinge 1% das crianças no mundo e leva a prejuízos na
percepção e na capacidade de interação social adequada. Isso faz com que
a criança com autismo perca boa parte da capacidade de interagir
socialmente de forma construtiva, coerente, com reciprocidade, atenção
concentrada e compartilhada.
O autismo, segundo o pediatra, também pode levar a comportamentos
repetitivos e interesses excessivamente restritos a determinados
objetos, contextos e até pessoas. A criança diagnosticada geralmente não
apresenta bom contato visual, não olha nos olhos e tem dificuldade para
perceber mudanças de comportamento de grupos e de ambientes.
“Essas crianças costumam ter reações corporais anormais frente a
situações emocionais ou induzidas pelo grupo como, por exemplo,
movimentos de mãos repetitivos. Elas têm muita dificuldade em conversar,
só falam aquilo que lhes interessa – qualquer coisa induzida por
terceiros ela simplesmente ignora, não dá continuidade.”
“Elas têm uma hiper preferência por objetos, têm distúrbios de
sensibilidade, costumam ter medos inexplicáveis ou desproporcionais ao
que está acontecendo”, acrescentou.
Os sintomas começam a aparecer nos primeiros três anos de vida e o
ideal é que o diagnóstico seja feito o quanto antes, abrindo caminho
para modelos de intervenção comportamentais ou desenvolvimentais – de
preferência, abordagens que tenham fundamentação cientifica e um grande
número de pesquisa com amostragem populacional significativa.
“A importância está em ajudá-los a adquirir competências suficientes e
a tempo de poderem ser mais funcionais e socialmente melhores adaptados
nos anos mais difíceis que se seguirão, ao adentrarem na escola ou no
trabalho. Nesse processo, a intervenção precoce e a oportunidade de
oferecer os melhores modelos auxilia na preservação ou até no ganho de
capacidade intelectual e de linguagem social verbal e não verbal.”
Livro
Clay Brites e a esposa, a psicopedagoga Luciana Brites, são autores
do livro Mentes Únicas. A proposta é colocar à disposição informações
que ajudem a nortear a família, a escola, os profissionais e as
instâncias de gestão e de Justiça sobre como proceder com pessoas com
autismo.
Com linguagem acessível, a publicação, segundo ele, mostra que o
autismo, ao contrário do que muito pensam, não é o fim de tudo e que,
apesar de todas as dificuldades, o conhecimento é fator fundamental para
que crianças dentro do espectro tornem-se seres humanos realizados
dentro de suas particularidades.
Por
Paula Laboissière – Repórter da Agência Brasil
Edição: Maria Claudia
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