terça-feira, 23 de abril de 2019

Jerry Adriani. Uma trajetória de meio século de sucesso


O dia 23 de abril marca a passagem do cantor Jerry Adriani para o plano espiritual, ocorrido em 2017. Porém, ele continua vivo na memória e no coração de uma legião de fãs Brasil a fora que mantém fãs clubes, páginas em redes sociais onde trocam diariamente informações, mensagens, músicas, vídeos e lembranças diversas da vida do artista.

Queria aqui expressar a importância desse ícone, dono de uma das mais bem-sucedidas trajetórias da música brasileira. Com um timbre inconfundível, dedicou-se por mais de cinco décadas a encantar plateias do Brasil e do Mundo. Além grande cantor, Jerry foi uma figura humana descrita com as melhores palavras por amigos e fãs.

Como disse o produtor Marcelo Fróes, "talvez ele fosse o único cara dessa geração do rock inicial que transitou como ninguém em todos os segmentos. Era um cara muito culto, na verdade. Quando a Lygia Fagundes fez um abaixo-assinado pedindo o fim da censura, em 1977, ele foi um dos únicos cantores e compositores que assinou. E ele na verdade nem era vítima da censura, não cantava música de protesto”.... lembrou.



A seguir, um pouco de usa trajetória:


Jair Alves de Sousa, nasceu em 29/11/1947 na cidade de São Paulo/SP. Cantor e compositor. Filho de operários, aos quatro anos de idade aprendeu algumas canções italianas com a avó materna e dos sete aos nove anos estudou acordeom.

Em 1959 iniciou o aprendizado de canto, frequentando durante quatro anos os conservatórios de Santo André/SP e São Caetano/SP. Nessa época participou do coral da Associação Cultural e Artística de São Caetano. Sua estreia no rádio, ainda como amador, foi no programa Galera do Nelson, da Rádio Nacional de São Paulo. Em seguida, usando o pseudônimo de Jerry, atuou no programa Ritmos para a Juventude, de Antônio Aguilar.

De 1962 a 1964 foi crooner do conjunto Os Rebeldes, interpretando um repertório de baladas italianas, rocks e canções românticas. Como integrante desse conjunto, iniciou sua carreira na TV Tupi, de São Paulo, e, contratado pela CBS, em 1964 gravou seu primeiro LP, Italianíssimo.

A partir de 1964 passou a atuar em rádio e televisão, principalmente na TV Record. Em 1965 JERRY ADRIANI estourou com UM GRANDE AMOR, primeiro LP gravado em português. estreando também como autor com Só a saudade, que gravou em disco da CBS.

Na mesma época, apresentou o programa “Excelsior a Go” pela TV Excelsior de São Paulo em parceria com o comunicador Luiz Aguiar e tinha em seu set nomes como OS VIPS, OS INCRIVEIS, PRINI LOREZ, CIDINHA SANTOS, dentre outros grandes cantores.

Comandou, entre 1967 e 68, na TV Tupi, A Grande Parada (junto com Neyde Aparecida, Zélia Hoffmann, Betty Faria e Marilia Pera) um musical ao vivo que apresentava os grandes nomes da MPB, consagrando-se definitivamente como um dos cantores de maior popularidade em todo o país.

No cinema fez três filmes como ator/cantor “Essa Gatinha a Minha” (com Peri Ribeiro e Anik Malvil) “Jerry, A Grande Parada”, “Jerry em busca do tesouro” (com Neyde Aparecida e os Pequenos Cantores da Guanabara). Nessa mesma época, final dos anos 60, ganhou o titulo de Cidadão Carioca com o projeto do deputado Índio do Brasil.

JERRY ADRIANI foi o responsável pela vinda de Raul Seixas para o Rio de Janeiro, de quem se tornou grande amigo ainda em Salvador. “Raulzito e os Panteras”, como eram conhecidos, formavam a banda de apoio que tocou com JERRY ADRIANI durante 3 anos.”Tudo que é bom dura pouco”, “Tarde demais”, “Doce doce amor” foram algumas das músicas de Raul Seixas gravadas pelo artista. Raul foi produtor de JERRY ADRIANI, entre 1969 e 1971, até iniciar sua carreira solo.

Na primeira metade da década de 70, JERRY ADRIANI, já um artista consagrado, expandiu seu talento musical para vários países. O cantor gravou discos e fez shows que tiveram grande sucesso em países como Venezuela, Peru, Estados Unidos, México, Canadá e outros.

Em 1975, JERRY ADRIANI participou do musical no Hotel Nacional, “Brazilian Follies”, dirigido por Caribe Rocha, que ficou um ano e meio em cartaz.

Em 1985, lançou pela Polydor o LP “Tempos felizes”, no qual registrou antigos sucessos da Jovem Guarda, entre as quais “Festa de arromba”, “O bom rapaz” e “Quero que vá tudo pro inferno”.  No ano seguinte, gravou, de sua autoria, “Planeta amor” e “Antes do adeus”, com Cury e “Beijos medrosos”, com Carlos Colla.

No início da década de 90, JERRY ADRIANI gravou um disco que trazia de volta as origens do ROCK’N ROLL: ELVIS VIVE (um tributo ao rei do rock do qual sempre foi fã). ELVIS VIVE, foi 24° disco de sua carreira.

O ano de 1994 veio acompanhado de um convite do diretor Cecil Thire para participar da novela “74.5 UMA ONDA NO AR”, produzida pela TV PLUS e exibida pela REDE MANCHETE. A novela também foi exibida com grande sucesso em Portugal.

Prêmio Sharp – JERRY ADRIANI foi indicado quatro vezes para este Prêmio, na categoria cantor popular. (1989 – LP MARCAS DA VIDA – melhor cantor / 1990 – LP ELVIS VIVE – melhor disco e melhor cantor / 1993 – LP DOCE AVENTURA – melhor cantor / 1995 – LP RADIO ROCK ROMANCE melhor disco – melhor cantor)

No final de 1995, JERRY ADRIANI se destacou com expressivo sucesso, no lançamento da coleção com OS MAIORES SUCESSOS DOS 30 ANOS DA JOVEM GUARDA, pela gravadora POLYGRAM, como convidado especial, onde foram lançados 5 Cds comemorativos ao movimento e relembrando grandes sucessos como BROTO LEGAL, NAMORADINHA DE UM AMIGO MEU, QUERIDA, DOCE AMOR.

Em 1996, lançou o CD “IO”, com grandes clássicos da música italiana, produção de Roberto Menescal e arranjos e direção de Luizinho Avelar, disco esse que teve uma grande aceitação no mercado.

Em 1997 participou das trilhas sonoras das novelas A INDOMADA da Rede Globo de Televisão com a música “Engenho”, letra de Aldir Blanc e música de Ricardo Feghalli, e ZAZA internacional também da Rede Globo, com a música “Con Te Partiró” com participação da cantora Mafalda Minozzi.

Participou em 1998 da gravação de “Mil Faces” um dos temas principais do programa infantil Vila Esperança da Tv Record, e foi convidado para interpretar “IMPOSSIVEL ACREDITAR QUE PERDI VOCE” composição de Márcio Greick para o projeto de “Sucessos dos anos 70″, lançamento Polygram.

Lançou pela INDIE RECORDS, em 1999 o CD FORZA SEMPRE com músicas da Legião Urbana gravado em italiano que JERRY ADRIANI considera como um marco em sua carreira ultrapassando as 200.000 cópias em número de vendagem.

FORZA SEMPRE foi produzido por CARLOS TRILHA também produtor de RENATO RUSSO no EQUILIBRIO DISTANTE. Participaram também do trabalho outros músicos que acompanhavam os shows da LEGIÃO URBANA: Fred Nascimento e Jean Fabra também autor de sete versões das músicas para o italiano. As outras três ficaram a cargo do cantor e compositor italiano Gabriele de L’utre.

A canção Santa Luccia Luntana, interpretada por JERRY ADRIANI, foi uma das mais executadas na trilha sonora da novela Terra Nostra. (Música incluída como bonus track no cd Forza Sempre).

No ano de 2000/2001 JERRY ADRIANI gravou “Tudo Me Lembra Você”, mesmo título da música de trabalho que também fez parte da trilha sonora da novela Roda da Vida exibida pela Rede Record. Até hoje vem fazendo muitos shows pelo país e em 2006 participou da trilha sonora da novela CIDADÃO BRASILEIRO novamente da Rede Record só que agora numa releitura atualizada da música JAILHOUSE ROCK, conhecida mundialmente na inconfundível voz de ELVIS PRESLEY.

Em outubro de 2007, gravou, no Canecão ( RJ),  seu primeiro DVD, “Jerry Adriani Acústico Ao Vivo”, também lançado em CD em formato acústico, no qual faz releitura de sucessos que se tornaram clássicos de sua carreira, apresentando também canções inéditas. Na ocasião deu entrevista a Tarik de Souza, publicada no Jornal do Brasil (RJ), na qual o crítico afirmou ter Jerry exercido influência  o modo de cantar do cantor Renato Russo. Também na ocasição,  o Canal Brasil transmitiu, em 4 dias e horários, o show  da gravação do DVD/CD , na íntegra, com a participação de Fernanda Takai (PATO FU), Ivo Pessoa, Tavito e Vinimax. Em agosto de 2008, apresentou show na Modern Sound, em Copacabana, no Rio de Janeiro, lançando o CD/DVD “Acústico ao vivo” e interpretando hits da música pop nacional e internacional, como, entre outros, “Monte Castelo”, da Legião Urbana e “As tears go by”, dos Rolling Stones. O DVD foi gravado em Outubro de 2007, no Canecão (RJ), em parceria com o Canal Brasil. Em outubro de 2008, o cantor marcou retorno àquela casa em grande show de lançamento.

Em 2011, lançou o CD “Pop, Jerry & Rock”, em que dividiu a produção e os arranjos com Reinaldo Arias. O disco homenageou Raul Seixas e Tim Maia na faixa “2012”, e fez alusão à música “Rock Around the clock”, sucesso de Bill Haley, na faixa “Rock around the time”, além de de ter contado com parcerias dele próprio e Paulo Mendonça, em “Fantasia” e “Highway Virtual”.

Em 2012, apresentou o show “Jerry toca Raul & Elvis”, no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ). Na apresentação, fugiu do estilo da Jovem Guarda que o tornou nacionalmente conhecido, dando espaço ao repertório com músicas como “Are you lonesome tonight”, “Kiss me quick”, “My way”, “Há dez mil anos atrás”, “Medo da chuva”, canção, inclusive, que Raul compôs para a voz de Jerry, “Tente outra vez e “Maluco beleza”.

Ainda em 2012, realizou apresentação no programa “Encontro com Fátima Bernardes”, na Rede Globo de Televisão, ao lado de Lafayette e os Tremendões, Wanderléa, Marcelo Fróes e a banda Del Rey, numa emissão que teve como intenção relembrar a época da Jovem Guarda.  Em 2014 completa 50 anos de carreira com um show com seus maiores sucessos.

Em 2016, com mais de 52 anos de carreira, o cantor se arriscou mais uma vez: em parceria com o Canal Brasil, gravou Outro Jerry Adriani, no qual passeou por estilos como jazz ("You’ve Changed"), tango ("Uno"), MPB ("Resposta ao Tempo") e soul ("Giorgia on My Mind"). E esse foi seu último trabalho.

Jerry se foi no ano em que passaria todas as suas histórias a limpo. Ajudado pelo amigo, o pesquisador Marcelo Fróes, ele previa uma biografia de muitos causos e o lançamento de um disco cantando músicas de Raul. Estava feliz, dava entrevistas vibrantes e abria o coração para falar do passado. Sua obra precisa passar por uma reavaliação justa e necessária.

Infelizmente, esse trabalho anunciado para ser publicado ainda em 2017 até o momento não saiu e não se tem notícia.



NE: Com informações de diversos sites.

   Peça-chave na vida de Raul Seixas


Fernando Morais quando da passagem de Jerry, escreveu: “Morreu hoje no Rio de Janeiro, vítima de câncer, aos 70 anos, o cantor e compositor Jerry Adriani (nome artístico de Jair Alves de Sousa), um dos criadores do movimento musical "Jovem Guarda", no começo dos anos sessenta. Dez anos atrás, quando eu pesquisava para escrever a biografia do Paulo Coelho, Adriani deu um longo depoimento que trazia uma novidade – pelo menos para mim: o papel que ele teve na carreira de Raul Seixas. Da entrevista resultou este trecho do livro

Em outubro de 1967 passava por Salvador o cantor Jerry Adriani, contratado para um show no aristocrático Club Bahiano de Tênis, juntamente com a musa da Bossa Nova, Nara Leão, e com o humorista Chico Anysio. Elevado à condição de estrela nacional pela Jovem Guarda, Adriani era considerado cafona pelos ouvintes mais sofisticados, mas fazia enorme sucesso com o grande público. No dia do espetáculo um funcionário do clube procurou o cantor no hotel com a notícia de que sua participação fora cancelada por uma razão inacreditável:

– A banda que o acompanha tem vários músicos pretos, e no Club Bahiano de Tênis preto não entra.

Era isso mesmo que ele estava ouvindo. Embora desde 1951 estivesse em vigor no Brasil a Lei Afonso Arinos, que qualificava como crime a discriminação racial, "preto não entrava no Bahiano nem pela porta da cozinha", como denunciaria muitos anos depois a canção Tradição, de outro baiano ilustre, o compositor Gilberto Gil. O preconceito adquiria traços ainda mais cruéis por se tratar de um clube instalado na Bahia, um Estado em que mais de 70 por cento da população são negros e pardos. Em vez de chamar a polícia, o empresário encarregado do show preferiu contratar outra banda. A primeira de que se lembrou foi a finada Os Panteras, de Raul Seixas, que nos últimos meses de vida mudara de nome para The Panthers. Localizado em casa durante uma soneca, Raul adorou a ideia de ressuscitar o conjunto e saiu em seguida pela cidade em busca de seus antigos acompanhantes, o baixista Mariano Lanat, o guitarrista Perinho Albuquerque e o baterista Antônio Carlos Castro, o "Carleba", todos brancos. A improvisação acabou dando certo e o The Panthers deixou o palco do clube sob aplausos. No fim do espetáculo Nara Leão cochichou no ouvido de Jerry Adriani:

– Essa banda que te acompanhou é maravilhosa. Por que você não chama esse pessoal pra tocar com você?

Ao ouvir, naquela mesma noite, o convite do cantor para que The Panthers o acompanhasse em uma turnê pelo Norte-Nordeste, a começar na semana seguinte, Raul Seixas ficou eletrizado. Poder excursionar com um artista de projeção nacional, como Jerry Adriani, era uma daquelas bênçãos que o destino não costuma colocar duas vezes no caminho de alguém. Mas ele sabia também que aceitar significava jogar para o alto o casamento com Edith, e isso era uma aposta alta demais. Embora lamentando, teve que recusar o convite:

– Seria uma honra fazer a temporada com você, mas se me ausentar de casa agora, meu casamento acaba na lua-de-mel.

Interessado de verdade na companhia da banda que acabara de conhecer, Jerry Adriani dobrou a parada:

– Se é esse o problema, está resolvido: sua mulher é convidada da produção, leve-a com você na excursão.

Rebatizada pela segunda vez, agora com o nome de Raulzito e os Panteras, a banda saiu pelo Brasil adentro. Além de propiciar ao casal uma viagem divertida e inusitada, a turnê deu resultados tão satisfatórios que no final Jerry Adriani convenceu Raul a mudar-se para o Rio com todo o grupo e se profissionalizar como músico. No começo de 1968 estavam todos instalados em Copacabana para uma aventura que não teria final feliz. Embora tivesse conseguido gravar pela Odeon o LP Raulzito e os Panteras, as dificuldades eram tantas que depois de dois anos o único trabalho que apareceu foi tocar como banda de apoio nos shows do próprio Adriani. Houve momentos em que Raul teve que pedir dinheiro emprestado ao pai para pagar o aluguel da casa em que viviam ele, Edith e os demais componentes da Raulzito e os Panteras. Retornar à Bahia pela porta dos fundos foi um golpe duro para todos e especialmente para Raul, o líder do grupo, mas não havia outra escolha. A contragosto, voltou às aulas de inglês e já dava a carreira de músico como encerrada quando recebeu uma proposta de Evandro Ribeiro, diretor da CBS, para voltar a trabalhar no Rio – não para ser band leader, mas como executivo da área de produção musical. Seu nome tinha sido sugerido à direção da gravadora por Jerry Adriani, interessado que estava em trazer o novo amigo de volta para o eixo Rio-São Paulo, centro da produção musical brasileira. Tentado a acertar as contas com a cidade que o derrotara, Raul não pensou duas vezes. Pediu a Edith que pusesse a mudança num caminhão e dias depois já dava expediente, de paletó e gravata, no poluído centro velho do Rio, onde ficavam os escritórios da CBS. Em poucos meses já era o produtor musical de discos de nomes importantes, a começar do próprio Adriani.





Nenhum comentário: