* Meus criados *
Eça de Queiroz deu a conhecer a cidade portuguesa na qual nascera, ao declarar “Sou, apenas, um pobre homem da Póvoa do Varzim!”. Plagio o mestre: sou um pobre homem do Rio Grande, assentado na Bahia. Mas, como canta o fado, “a beleza da pobreza está nesta grande riqueza” de viver no interior baiano - São Gonçalo dos Campos - e poder dar-me ao luxo em manter três serviçais, a custo irrisório.
Às vezes, sinto-me até constrangido posto – é duro confessar – faltarem-me recursos para compensá-los na justa medida dos serviços prestados; tenho pago um quase-nada, muito próximo do esquecimento.
Tive sorte na vida. Meus criados (permita-me o malcriado termo) insistem em manter-se a meu lado. Não dispondo de dependências para empregados, reminiscência das senzalas, acomodo-os aleatoriamente, ao sabor das circunstâncias.
Refiro-me a meus fiéis escudeiros, pelas iniciais de seus nomes: “C”, “P” e “M”.
Quando peço um charuto, “P” prontamente acorre. Caso queira passar por algum lugar, “C” logo aparece. Se necessitar algo, seja o que for, “P” sempre está a meu lado.
É incrível. Antes de fumar em local onde não sou acostumado a fazê-lo, “C” surge do nada. Quando recebo dádivas ou favores, “M” é quem se regozija.
Em meu trato com a família e com amigos, o criado “P” insiste em me acompanhar. Sou, enfim, patrulhado noite e dia pela criadagem, minha maior riqueza, ante à qual ora me redimo ao destacar suas qualidades.
“Com a licença” do Amigo me permito,
assim, tratar do tema.
“Por favor”, não me inveje. Avalie quanto
vale a pena a vida ao contar com três criados.
“Muito obrigado” pela paciente leitura e,
antes que esqueça, informo os nomes de meus serviçais.
“C”: Com licença.
“P”: Por favor.
“M”: Muito obrigado.
Com sua licença, despeço-me.
Até nosso próximo encontro!
Hugo A. de Bittencourt
Carvalho,
economista, cronista, ex-diretor das fábricas de charutos
Menendez & Amerino,
Suerdieck e Pimentel,
vive em São Gonçalo dos
Campos – BA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário