terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Segunda é Dia de CRÔNICA: Tudo por um neto

Desde que a primeira Sapiens gostosinha fez que não entendeu aquela pintura rupestre no escurinho da caverna trabalhada na intenção de perpetuar a espécie que a maior dificuldade do macho- em extinção- é chegar na metade da laranja desejada e convencer a indivídua que ele é o cara.

As muito neandertais que me perdoem, mas uma sapiens gostosinha é fundamental e diante dela muita perna tremeu, muito uísque foi consumido, muito sim morreu antes de começar por medo do não, antes daquela dancinha mimeográfica do dois pra lá dois pra cá.
A verdade é que para ter uma fêmea para acasalar os arapongas cantam mais alto que uma britadeira e exibem o tamanho da barbela( sim, o tamanho da barbela é documento), o aranha-pavão exibe seu pé- ou pés- de valsa, os gatos piram quando as gatas miam para anunciar seu cio ( há mulheres que quase ronronam neste estágio).
Os aranhas-de-jardim entregam um presente (inseto, por exemplo) embalado para a fêmea -não conhecem o cartão de crédito ilimitado- e se ela aceitar acaba preso na rede de sexo e despesa dela. Humano, demasiadamente humano. Ah, leitor, além das ridículas cartas de amor, nem imagino o que você já foi capaz de fazer para ter um par.
Nós homens tivemos um tempo em que era preciso mandar bem nos movimentos do tacape e da puxada de cabelo. O tacape, ao menos, caiu em desuso. Até porque o politicamente correto não permite mais dizer que temos uma fêmea nossa, afinal, ninguém é dono de ninguém e se eu sou de todo mundo todo mundo é meu também, como diz aquela canção trilha sonora de rendez-vous.
Desde que o mundo é mundo e o mundo é mundo há mundo tempo, esse é o assunto mais importante do universo. Faz girar a economia, a desculpa esfarrapada, as poesias mais belas, as dores mais violentas, e as canções mais sofrentes do repertório interplanetário, se existir vida sofrente lá fora. Afinal, todos querem que seus genes supremacistas sejam passados adiante.
Aqui em casa, andamos na fase de implorar por netos visto que cachorros não atendem expectativas geracionais, mas o processo anda lento na incompreensão que filhos têm da urgência dos pais.
Outro dia me retei e ameacei:
-Se continuar como está eu mesmo vou fazer meus netos.
Minha filha já anda com o papel de embrulho dela, mas o menino tá nem aí. Outro dia, estavam em uma festa. Ela mandou uma vídeo-mensagem.
- Agora que é o rei do crossfit, olha seu filho como está com as meninas.
- Eita, tem alguma legal?
- Tem, aquela de vestido amarelo.
- Ela mia?
- O quê, pai?
- Esquece, esquece. Ela ficaria com ele?
- Sem dúvida. Doida para casar.
- Então, manda ele pedir o telefone dela.
- Que telefone? O mundo é outro, pai. Ninguém mais pede telefone não. Ô Deus.
- É? Pede o quê?
-O insta e curte as fotos. Conhece por lá.
-Quer dizer que meus netos dependem do Instagram?
-Do insta, pai, insta.
-Vou comprar um tacape!

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