Quem inventou o trabalho não tinha o que fazer
*ou (a peleja dos vereadores com o povo)
Tão metendo a mão no
cofre, sem a menor cerimônia
A Câmara (diziam
eles) é a Casa da Cidadania
Mas agora o que se
vê, é uma total anarquia
Imagine, meu patrão, que por meia horinha de trampo
Embolsaram
seiscentinhos, e ainda querem outro tanto
-“A gente trabalha
muito”! - Lamentam os nobres edis
Por certo, o assalariado, é quem vive mais feliz
Trabalha oito horas
no dia, por 180 ao mês
Vereador, tu tá é
gozando, com a cara do freguês
Por três dias na
semana, e sem nada pra fazer
Embolsa três e
seiscentos, na hora de receber
E o décimo terceiro
do pobre, que o patrão não quer pagar?
-“Aqui não assino
carteira! Vai pegar ou vai largar?”-
E o pobre preocupado,
porque tem que trabalhar
fica vendo vereador,
o décimo quarto embolsar
Décimo quarto sim
sinhô, é só se saber contar
Seis sessões a
seiscentinhos, veja só quanto vai dar
São três mil e
seiscentos, seu moço, o salário de um mês
E três e seiscentos
são, a conta de seis vezes seis
Muito laboriosos os
nobres, ficam lá a fazer leis
Não são cumpridas, é
verdade mas, no fim, seis vezes seis
Tem lei pra todo
gosto, pra rir ou pra chorar
Mas é certo, no fim
das contas, a gente é quem vai pagar
Um daqueles
galhofeiros, sem ter mais o que fazer
Inventou uma tal de
lei, que essa eu vou te dizer...
Quer o nobre edil, em
cada árvore colocar
O seu nome
científico, e também o popular
Mais útil que essa
lei, cumprida como se vê
É uma que os “chopis
centis”, vão ter que fazer valer
Agora o aleijado, que
sair para comprar
Pode ir sem cadeira
de rodas, pois o “chopis” tem que dar
Zé perneta, meu
vizinho, que gosta de aprontar
Vai às compras sem
cadeira e ainda quer gozar:
- “Porque vou gastar
a minha, se o “chopis” tem pra dar?” -
Larga a cadeira em
casa, e vai pro “chopis” esmerilhar
Um daqueles
vereadores, esperto que é danado
Pongou num tal
“quoficiente”, e se elegeu deputado
Aí foi sopa no mel,
sem satisfação a dar
Meteu projeto na
Câmara, pra com estudante arrasar
Acontece que na
ânsia, de satisfazer o Sincol
Só faltou revogar as
leis, do jogo de “fitibó”
Compenetrado que só,
do alto da “deputancia”
Revogou até o
projeto, que criou a Lei Orgânica
O sabido sabia sim, o
que podia acontecer
Mas ele tinha quatro
anos, pro povo se esquecer
E na próxima eleição,
sem a menor cerimônia
Ele irá apresentar,
sua cara sem vergonha
E assim os edis vão
levando, a vida na galhardia
E quando a gente
reclama, dizem que é anarquia
Mas não existe nada
melhor, que dia sim, dia não
Quando menos se
espera, chega o ano da eleição
É aí que a imprensa,
maltratada como está
Vai dar o troco aos
edis, que vivem a esculhambar
Na hora de dar o
voto, ela muda a história
Essas mazelas ela
lembra, a este povo sem memória.
* No ano de 2002 a Câmara Municipal convocou sessões extraordinárias, pagando R$ 3.600 Reais, a cada vereador, no final do período, o que equivaleria a um décimo quarto salário.
NE: Publicado no livro A Leva da Égua (2003)
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