Adolescente das letras
Maquiar, idealizar a realidade, exige dos que a isto se atrevam, certa plasticidade de pensamentos para, sem mentir, expressarem-se como outros gostariam de fazê-lo. Graças ao discernimento, nato ou adquirido com estudo e amadurecimento, consegue-se definir situações nas quais em lugar da verdade nua e crua, melhor insinuá-la ou deixar parte dela fora da história.
Via de regra, é preferível sermos amáveis a nos mostrar sinceros.
A amabilidade, reverso da medalha da generosidade, é importante, pois nem todo mundo gosta das mesmas coisas, vota nos mesmos políticos, fuma os mesmos charutos, abraça os mesmos valores, professa a mesma fé ou bebe na mesma fonte.
Minha avó materna, dona de falta de sensibilidade a toda prova – Deus a tenha – sempre afirmava, alto e bom som, ser “muito branca e muito franca”. Sua extrema sinceridade impedia espaços a gestos de gentileza e, por isso, ela deve andar encontrando algumas dificuldades lá por cima. Transitava na contramão da comunicação humana. Houvesse tido o dom da escrita teria sido péssima cronista.
O cronista, por ser um tanto sonhador, assemelha-se a um adolescente das letras. Como adolescente, “tenta captar o abstrato, dominar o significado inefável do eu e do outro, determinar princípios próprios, procurando ancorar tudo isso no mundo real”.
Por trabalhar com imaginação plástica,
não com objetiva fotográfica, ele mais pende a um Salvador Dali, embora aspire
dons de um Sebastião Salgado.
Hugo A. de
Bittencourt Carvalho, economista, cronista, ex-diretor das fábricas de
charutos Menendez & Amerino, Suerdieck e Pimentel, vive em São Gonçalo dos
Campos – BA.
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